Composição química e digestibilidade da massa de forragem
em pastagem irrigada de capim-aruana exclusivo
ou sobre-semeado com mistura de aveia preta e azevém
Uma mistura de duas espécies forrageiras de inverno: aveia preta (Avena strigosa Schreb cv. Comum) e azevém anual (Lolium multiflorum Lam. cv. Comum) foi sobre-semeada em uma pastagem de capim-aruana (Panicum maximum Jacq. cv. Aruana), utilizada com ovinos em sistema intensivo de produção (irrigação, adubação e lotação rotacionada), com o objetivo de melhorar o valor nutritivo da forragem no período crítico do ano. Nos doi anos (primeiro ano: 14/04/00 a 18/01/01 e segundo ano: 07/06/01 a 22/02/02), foram avaliadas a composição química e digestibilidade da forragem, antes da entrada dos animais (pré-pastejo) nas pastagens, em seis períodos de pastejo. O delineamento experimental foi de blocos completos casualizados (quatro), com duas repetições dentro do bloco e dois tratamentos: 1) capim-aruana exclusivo e 2) capim-aruana sobre-semeado. Para as amostras do total da forragem pré-pastejo e dos componentes (aruana, aveia preta e azevém), avaliaram-se os teores de proteína bruta (PB), de fibra em detergente neutro (FDN), de fibra em detergente ácido (FDA) e de lignina e a digestibilidade in vitro da matéria seca. No primeiro ano, a PB da forragem de capim-aruana exclusivo foi maior que a do sobre-semeado no terceiro período de pastejo e semelhante nos demais. FDN, FDA e lignina da forragem no tratamento exclusivo foram mais elevadas que no tratamento sobre-semeado, na média dos seis períodos. A digestibilidade da forragem foi semelhante nos dois tratamentos, em todos os períodos de avaliação. No segundo ano, o teor de PB da massa total de forragem da pastagem de capim-aruana exclusivo foi maior que o da pastagem sobre-semeada, no quarto período, porém semelhante nos demais e na média dos seis períodos. Os teores de FDN, FDA e lignina e a DIVMS da massa total de forragem foram semelhantes nas duas pastagens na média e ao longo dos seis períodos, exceto para FDN no segundo período. Pastos com capim-aruana sob adubação nitrogenada, irrigação e manejo adequados apresentaram composição química e digestibilidade semelhantes às de pastos do capim sobre-semeados com aveia preta e azevém.
Palavras-chave: digestibilidade in vitro da matéria seca, fibra em detergente ácido, fibra em detergente neutro, forrageira de inverno, proteína bruta
A mixture of two winter forages: black oat (Avena strigosa Schreb. cv. Common) and Italian ryegrass (Lolium multiflorum Lam. cv. Common) was introduced in a pasture of aruanagrass (Panicum maximum Jacq. cv. Aruana), grazed by sheep in an intensive production system (irrigation, fertilization and rotational stocking) with the objective of increasing the forage nutritive value during the dry winter period. From 04-14-00 to 01-18-01 and 06-07-01 to 02-22-02, the chemical composition and digestibility of pre-grazing forage were evaluated in six grazing periods. A completely randomized block design with replication within blocks was used. The treatments were 1) grass alone and 2) the grass oversown with the mixture of winter forages. Samples of pre-grazing forage mass and components (aruanagrass, black oat and Italian ryegrass) were taken to evaluate the forage botanical composition, contents of crude protein (CP), neutral detergent fiber (NDF), acid detergent fiber (ADF) and lignin and in vitro dry matter digestibility (IVDMD), in the six grazing periods. In the first year, the control had a greater CP content than oversown pasture in the third period and similar in the others periods, as well as greater NDF, ADF and lignin contents in the overall mean of the six grazing periods. Forage IVDMD from the two treatments were similar in all grazing periods. In the second year,the control had a greater CP content than oversown pasture in the fourth period and similar in the others periods, as well as greater NDF, ADF, lignin and IVDMD contents in the overall mean of the six grazing periods. Nitrogen fertilized and irrigated aruanagrass pastures and aruanagrass pastures oversown with black oat and Italian ryegrass exhibited the same values of chemical composition and digestibility.
Key Words: in vitro dry matter digestibility, acid detergent fiber, crude protein, neutral detergent fiber, winter forages
A produção animal em pastagem acompanha os ciclos de crescimento das plantas forrageiras, que estão relacionados às chuvas e à temperatura. Entretanto, independentemente do método de pastejo empregado, procura-se sempre obter, economicamente, máxima produção de forragem de boa qualidade, com distribuição regular durante o ano.
A prática da introdução de espécies forrageiras de ciclo hibernal em pastagens tropicais resulta em melhor distribuição da produção de forragem ao longo do ano, bem como em aumento na proteína bruta e digestibilidade da forragem durante o período crítico (Reis et al., 1993, 2001).
Entre as gramíneas tropicais, os cultivares de Panicum maximum normalmente apresentam qualidade de média a boa (Euclides et al., 1996). O capim-aruana tem se destacado por apresentar melhor distribuição anual de produção (Cecato et al., 1994; Ghisi et al., 1989) associado a razoável valor nutritivo durante o período crítico no ano (Ghisi et al., 1989).
As razões do bom desempenho animal em pastagens contendo a mistura de espécies forrageiras de inverno estão na qualidade de foragem e que varia conforme o estádio do desenvolvimento (Floss, 1988).
Restle et al. (2000) semearam a mistura de aveia preta e azevém sobre a palhada do milheto (Pennisetum americanum (L) Leeke) e obtiveram médias de 22,4% de PB e 57,4% de DIVMO, no Sul do país.
Neste trabalho, objetivou-se avaliar, durante seis períodos de pastejo, a composição química e a digestibilidade da forragem de uma pastagem de Panicum maximum Jacq. cv. Aruana, irrigada, adubada e manejada em lotação rotacionada com ovinos, na qual foi sobre-semeada uma mistura de duas espécies forrageiras de inverno.
O experimento foi conduzido na unidade de ovinos e nos laboratórios do Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa, São Paulo. Aproveitou-se um piquete de capim-aruana (Panicum maximum Jacq. cv. Aruana) com, aproximadamente 3.000 m2, estabelecido, em 1991, em um solo classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo.
Foram avaliadas a composição química e a digestibilidade da massa de forragem antes da entrada dos animais na pastagem composta da mistura de duas espécies forrageiras de inverno: aveia preta (Avena strigosa Schreb cv. Comum) e azevém (Lolium multiflorum Lam. cv. Comum) introduzidas em uma pastagem de capim-aruana, pastejada em lotação intermitente com ovinos.
O delineamento experimental foi o de blocos completos casualizados (quatro) com duas repetições por bloco. Os tratamentos foram: 1) capim-aruana exclusivo e 2) capim-aruana sobre-semeado com a mistura das duas espécies forrageiras de inverno, totalizando 16 parcelas experimentais de 100 m2 cada.
Para a introdução da mistura das duas forrageiras de inverno, foi feito o rebaixamento prévio de todas as parcelas experimentais com pastejo (ovinos), obtendo-se altura do dossel em torno de 5 cm. A semeadura, em cobertura e a lanço, sem enterrio das sementes, ocorreu em 14 de abril/2000, no primeiro ano e em 07 de junho/2001, no segundo ano, misturando-se as sementes (65 kg ha-1 de aveia preta, 30 kg ha-1 de azevém) com os adubos (40 kg ha-1 de P2O5, 42 kg ha-1 de K2O e 30 kg ha-1 de FTE BR-16).
Em novembro/2000, foi realizada a adubação nitrogenada (50 kg ha-1 de N) e potássica (50 kg ha-1 de K2O) nas parcelas experimentais. Em março/2001, foi realizada a adubação nitrogenada do final do período das águas, aplicando-se 100 kg de kg ha-1 e, em meados de outubro/2001, início do período das águas, aplicaram-se 50 kg ha-1 de N.
A área foi dividida em faixas, delimitadas por cerca elétrica no momento do pastejo, sendo que cada bloco era constituído por uma faixa, pastejada em sequência, por dois a três dias, pelo mesmo lote de ovinos, simultaneamente nas parcelas do capim-aruana exclusivo (testemunha) e nas da mistura das espécies forrageiras de inverno introduzidas sobre o capim. No primeiro ano experimental (14/04/00 a 18/01/01) ocorreram seis períodos de pastejo (P): P1: 24/05 a 01/06/00, P2: 04/07 a 12/07/00, P3: 30/08 a 05/09/00, P4: 18/10 a 26/10/00, P5: 06/12 a 20/12/00 e P6: 09/01 a 18/01/01 precedidos de seis períodos de descanso, com aproximadamente 40, 39, 55, 47, 46 e 32 dias, respectivamente. No segundo ano experimental (07/06/01 a 22/02/02), também houve seis períodos de pastejo (P): P1: 27/07 a 06/08/01, P2: 06/09 a 16/09/01, P3: 22/10 a 02/11/01, P4: 26/11 a 11/12/01, P5: 02/01 a 14/01/02 e P6: 06/02 a 22/02/02 e seis períodos de descanso, em torno de 50, 39, 43, 32, 34 e 30 dias, respectivamente.
As amostragens foram feitas em quatro locais por parcela (100 m2), antes da entrada dos animais, por meio do lançamento ao acaso de um quadrado de 0,25 m2, perfazendo um total de 1 m2. O corte era rente ao solo, com tesoura de poda. A forragem proveniente dessa amostra foi pesada, retirando-se 200 g para obtenção da subamostra do total de forragem pré-pastejo; o restante foi separado nos componentes botânicos capim-aruana, plantas invasoras, material morto, aveia preta e azevém, que foram novamente pesados, amostrados e secados em estufa de circulação forçada de ar (65°C), até peso constante.
Tanto nas amostras da massa total de forragem, quanto nas dos componentes forrageiros (aruana, aveia preta e azevém), após passarem pelo processo de moagem em moinho tipo Willey com peneira de 40 mesh, foram determinadas: porcentagem de matéria seca (105°C), proteína bruta (PB), fibra insolúvel em detergente neutro (FDN), fibra insolúvel em detergente ácido (FDA), lignina e digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS).
As determinações do teor de matéria seca a 105°C foram realizadas segundo Silva (1981). A digestão utilizada para obtenção do extrato na determinação do nitrogênio total foi a sulfúrica, com destilação conduzida em aparelho semi-micro Kjeldahl, titulando-se posteriormente com ácido sulfúrico (AOAC, 1995).
Para o constituinte fibra (FDN, FDA e lignina) as determinações foram realizadas pelo método de Goering & Van Soest (1970) e a DIVMS pelo método proposto por Tilley & Terry (1963).
Os dados foram analisados pelos procedimentos MIXED e medidas repetidas no tempo (Repeated Measures) (Littell et al., 1996), do programa SAS® (SAS, 1990), a fim de se determinar a estrutura da matriz de variância e covariância. O nível de significância adotado para a análise de variância foi de 10%. Para os efeitos significativos, foram realizados testes de comparação de médias, pelo procedimento LSMEANS, com nível de significância de 10%. As interações significativas foram desdobradas de acordo com os fatores envolvidos.
Página seguinte |
|
|