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Atividade da urease em latossolos sob influência da cobertura vegetal e da época de amostragem (página 2)

Milton Marchiori Júnior e Wanderley José de Melo

O experimento utilizou parcelas subdivididas com quatro repetições, num delineamento experimental inteiramente casualisado, com cinco tratamentos principais de cobertura vegetal e 12 subtratamentos (amostragens mensais durante um ano).

As culturas perenes (pinus, eucalipto e citrus) já se encontravam instaladas nos dois solos. As culturas anuais (milho e soja) foram instaladas em dezembro de 1990, após aração e gradagem, em outubro do mesmo ano. As amostragens realizadas no período anterior a essa data foram feitas com o solo descoberto. No plantio, as culturas foram adubadas com as fórmulas 15–30–20 e 0–04–20, respectivamente, sendo também realizada na área de milho uma adubação de cobertura com sulfato de amônio. O espaçamento utilizado para o milho foi de 1,0 m e, para a soja, de 0,6 m.

As áreas foram divididas em quatro parcelas de 6 x 10 m para fins de amostragem de solo, sendo essas realizadas, mensalmente, de abril/90 a março/91. Em cada parcela, foram obtidas 20 amostras simples, coletadas com um trado, na profundidade de 0–20 cm, formando uma amostra composta por área útil das parcelas. As amostras de solo foram secas ao ar e então peneiradas (1 mm) e armazenadas em sacos de polietileno, até o momento das análises.

Nas amostras de solo coletadas, foram determinados atividade da urease, carbono orgânico, nitrogênio total, pH e umidade.

A taxa de hidrólise da uréia, que é função da atividade da urease, foi determinada seguindo o método de May & Douglas (1976), modificado por Longo et al. (1991). Para o solo seco ao ar, tomaram-se 3,0 g, adicionando-se 0,5 mL de tolueno e 12,0 mL de água deionizada; em seguida, procedeu-se à incubação a 30 ºC por 10 min e adicionaram-se 3,3 g L-1 da solução de uréia para o Latossolo Vermelho Aluminoférrico e 2,5 g L-1 para o Latossolo Vermelho distrófico. Após 1 h de incubação, acrescentaram-se 15 mL de solução de KCl 2 mol L-1, com 5 mg de acetato de fenil mercúrio; agitou-se por 5 min e procedeu-se à filtragem. No filtrado, realizou-se a determinação do teor de N-amoniacal trocável, fazendo-se uso do método de destilação a vapor (Bremner & Keeney, 1965). Para cada tratamento, executou-se um branco, da maneira acima descrita, porém adicionando-se a solução de uréia após a solução de KCl + acetato de fenil mercúrio. Do filtrado foram utilizados 10 mL para a destilação; em seguida, titulou-se com solução padronizada de ácido sulfúrico 0,001 mol L-1.

O C-orgânico foi determinado pelo método descrito em Dabin (1976); o N total, segundo Ferreira et al. (1974) e Melo (1974). Essas variáveis foram utilizadas para as correlações com a atividade da urease.

O clima da região é classificado, de acordo com o sistema de Koppen (Comissão de Solos do CNEPA, 1960), como sendo do tipo Cwa, ou seja, mesotérmico de inverno seco, em que a temperatura média do mês mais frio é inferior a 22 ºC e a do mês mais quente ultrapassa a 22 ºC. O total de chuvas desse tipo climático varia de 1.100 a 1.700 mm. O balanço hídrico da série Jaboticabal (Aloisi & Melo, 1971) revelou que, durante os meses de dez./jan./fev./mar., há um adequado armazenamento de água, acusando deficiências nos meses de abril a outubro.

Para comparação de médias, utilizou-se o teste de Tukey a 5 %. Os resultados obtidos nas análises de N-total, C-orgânico e umidade foram utilizados para a obtenção das equações de regressão e para a determinação dos valores de correlação entre esses parâmetros e a atividade da urease.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos para a variação sazonal na atividade da urease em amostras de LVaf e LVd, sob diferentes coberturas vegetais, encontram-se na figura 1a e b. No LVaf (Figura 1a), ao se considerar as culturas isoladamente, notou-se que as de pinus e eucalipto apresentaram, de modo geral, maiores atividades ureolíticas que as demais. Esses resultados concordam com os obtidos por Pancholy & Rice (1972), que observaram a influência do tipo e quantidade do material orgânico incorporado ao solo na atividade da urease.


Nas culturas de milho e soja, observou-se um comportamento bastante semelhante entre elas e distinto das demais. A atividade enzimática foi baixa durante os meses de abril a outubro, aumentando a partir do mês de novembro, apresentando atividade enzimática máxima nos meses de dezembro e janeiro. No mês de dezembro, quando do plantio das culturas, a atividade da urease foi maior do que nas culturas perenes, o que se deve, provavelmente, à adubação aplicada na instalação. Nos meses de dezembro e janeiro, ocorreram as condições ideais para a produção de fitomassa (disponibilidade de água e temperatura), o que levou também à maior incorporação de resíduos orgânicos ao solo, assim como de exudações radiculares.

Segundo Santos et al. (1991), a velocidade de hidrólise da uréia foi altamente alterada pelo tipo de vegetação, variando de 11,5 mg N-NH4 g-1 solo-1, no Latossolo Vermelho-Amarelo, a 71,4 mg N-NH4 g-1 solo-1, no Latossolo Roxo sob vegetação de mata natural.

Resultados similares foram obtidos por Palma & Conti (1990) que observaram um aumento na atividade da urease nos meses de outubro a abril, em solos sob a cultura de eucalipto, e nos meses de outubro a fevereiro, em solos sob vegetação natural. Assim, pôde-se observar um aumento na atividade enzimática nos meses de verão, bem como diminuição nos meses de inverno. Ross et al. (1984) obtiveram baixa atividade da urease sob vegetação natural durante o inverno e Stott & Hagerdorn (1980) encontraram altas atividades durante a primavera e verão e um declínio nos meses de inverno.

Analisando as amostras de LVd (Figuras 1b), verificou-se que as culturas de pinus e eucalipto também apresentaram, de modo geral, as mais altas atividades.

Portanto, a velocidade de hidrólise da uréia apresentou, de modo geral, uma diminuição a partir do mês de agosto, atingindo os menores valores nos meses de setembro e outubro, havendo um aumento, a partir de então, para as culturas perenes, e, a partir de novembro, para as anuais. Os teores de C-orgânico e N-total tiveram um comportamento similar, porém diminuindo a partir de junho (Figuras 2 e 3).

Os resultados apresentados na figura 1 mostram um comportamento diferenciado entre os solos em relação à velocidade de hidrólise da uréia. A atividade da urease apresentou valores superiores em praticamente todas as épocas de amostragem (com exceção de abril, junho, julho e agosto) nas amostras de LVaf, as quais também apresentaram teores superiores de N-total e C-orgânico (Figuras 2 e 3). Esses altos teores de N-total e C-orgânico podem ter produzido mudanças específicas na composição dos microrganismos do solo, causando as diferenças observadas na atividade enzimática.

A correlação entre urease e N-total (Quadro 2) mostrou-se negativa (r = -0,58), enquanto entre urease e carbono orgânico e urease e umidade mostraram-se positivas (r = 0,58 e r = 0,46, respectivamente). Tais resultados divergem em relação ao nitrogênio total e umidade dos resultados obtidos por Zantua & Bremner (1977), Speir et al. (1980) e Dash et al. (1981), os quais constataram que a atividade da urease correlacionou-se positivamente com carbono orgânico e nitrogênio total. Dash et al. (1981) observaram correlação positiva entre atividade da urease e percentagem de silte e argila e negativa com pH e umidade.

CONCLUSÕES

1. A velocidade de hidrólise da uréia variou de acordo com a época de amostragem, apresentando valores mais elevados nos meses mais quentes e úmidos.

2.  O tipo de cobertura vegetal alterou a atividade da urease que tendeu a ser mais elevada nas culturas permanentes não manejadas (pinus e eucalipto), embora, no início do ciclo das culturas de soja e milho, a atividade da urease também tenha sido elevada.

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Regina Márcia LongoI; Wanderley José de MeloII
wjmelo[arroba]fcav.unesp.br

IEngenheira-Agrônoma e Doutora em Engenharia de Água e Solo pela Universidade de Campinas – UNICAMP. Estrada da Rhodia, 5555, cs 91, Barão Geraldo, CEP 13085-850 Campinas (SP). Email: rmlongo[arroba]uol.com.br
IIProfessor Titular do Departamento de Tecnologia, Universidade Estadual Paulista – UNESP/Jaboticabal. Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/n, CEP 14884-900 Jaboticabal (SP). Email:
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