O presente estudo, objetivou a análise diagnostica da atividade turística no bairro de Santo Antônio de Lisboa – Florianópolis -. Para tanto, houve uma diagnose da atividade turística no espaço, foi feito o levantamento e análise do patrimônio natural, histórico e artístico cultural existente no local, e, levantados e analisados os aspectos positivos e negativos, oportunidades e deficiências decorrentes da atividade turística. Inicialmente, foi realizada a pesquisa bibliográfica com o intuito de obter dados relevantes e amparar-se em autores relacionados ao tema.
Na segunda etapa ocorreu a coleta de dados primários, onde foram realizadas entrevistas com diferentes agentes da sociedade, de relevância para o local. Finalmente, foi realizada a análise das diferentes informações obtidas, resultando no estudo denominado: "Diagnóstico da atividade turística no bairro Santo Antônio de Lisboa, localizado em Florianópolis - SC" .Pôde-se observar que a atividade turística é a maior fonte geradora de emprego e renda no local -foco de turismo mas de visitação -.
A utilização do patrimônio na atividade turística é encarada como fundamental ao desenvolvimento da mesma, devido ao potencial de retorno à comunidade e localidade que é imensurável. O comprometimento do patrimônio, no entanto, pode afetar a sua atratividade. O processo de ocupação do espaço é percebido como controlado graças aos esforços comunitário. O espaço e a paisagem merecem maior esforço para preservação e manutenção. Dentre os aspectos positivos destaca-se a geração de emprego e renda. Aspecto negativo a especulação imobiliária.
Necessita-se avaliar o custo-benefício da atividade. Há Gama de oportunidades a ser explorada. A maior deficiência é a ausência da rede de esgoto e saneamento. Deve ser incentivado o turismo baseado nos princípios do desenvolvimento sustentável.
Palavras-chave: 1. Turismo 2. Planejamento Turístico
3. Desenvolvimento Sustentável
O mundo dos anos 90 apresentou algumas tendências importantes, tais como: prosperidade econômica para alguns segmentos da sociedade, triunfo do individualismo em contrapartida a competitividade generalizada e evolução das comunicações e transportes.
O desenvolvimento dos dois últimos elementos (transportes e comunicações) teve como conseqüência a redução das distâncias e facilitou o surgimento do fenômeno conhecido por globalização. Globalização, segundo definição de Yves Gandra (apud CHIAVENATO, 1999, p.32), é "um fenômeno de internacionalização do sistema produtivo, do capital e dos investimentos", que faz com que grandes mudanças ocorram. Gandra complementa:
Os países desenvolvidos passam a ser os grandes detentores de tecnologias, recursos, estabilidade além da capacidade de produção a um custo reduzido. Os países emergentes, por sua vez, passam a ser detentores de mão-de-obra a custo reduzido, moeda com menor valor e parque industrial menos habilitado.(CHIAVENATO, 1999, p.35)
Sendo assim, cabe aos países emergentes buscar soluções alternativas para a manutenção da economia, aproveitando os benefícios existentes, tais como a redução de barreiras. Chiavenato (1999, p.35) ressalta que: "A globalização apresenta a tendência de integração regional, a formação de blocos econômicos, regulamentando relações e facilitando a locomoção de indivíduos entre as regiões".
O Homem, beneficiado com esse fenômeno e, juntamente, com o aumento do tempo livre, sente necessidade de compreensão de diferentes idiomas, culturas e costumes. No entanto, no âmbito de mercado, a tendência é o deslocamento de parte das ocupações do setor industrial ao de serviços, devido a revolução da informação e a modernização tecnológica.
A internacionalização do turismo- atividade do setor terciário, por caracterizar-se pela prestação de serviços -, todavia, é anterior à globalização. Esta atividade tem grande crescimento a partir da década de 80 (anos 80), quando iniciam as etapas do processo de internacionalização da economia mundial.
Segundo Marco Aurélio Silveira, "a atividade turística é beneficiada, pois seu desenvolvimento é diretamente relacionado à prosperidade econômica das nações, avanço técnico em áreas como comunicações e transporte, e da mesma forma devido a facilidade de locomoção".
Assim, o território para indústria turística é mundial. Silveira sugere que as perspectivas de crescimento, para os países do Mercado comum do Sul (MERCOSUL), são ainda maiores na participação do mercado global. Argumenta que "os fluxos do turismo mundial apontam seu crescimento em direção daqueles países que possuem recursos naturais e culturais em abundância". Vale, no entanto, ressaltar a importância desses recursos estarem devidamente preservados.
Tendo em vista a necessidade do estreitamento de relações, em março de 1991, na cidade de Buenos Aires (Argentina), os presidentes daquele país, do Brasil, do Paraguai, do Uruguai e, em segundo estágio, do Chile assinaram o tratado que originaria o MERCOSUL. Tal feito teria como objetivo a integração de esforços por meio da abertura econômica e integração regional (sindicato orgânico). No ano de 1995 a atividade turística pode observar a maior conseqüência desse tratado: a livre circulação de pessoas (cidadãos de diversas nacionalidades) entre todo o espaço da região.
Em pesquisa realizada pela Organização Mundial do Turismo (OMT), no período do ano 2000, foi comprovado que 80% das viagens realizadas no mundo, são de curta distância. Isto eqüivale, em média, a deslocamentos com cinco horas de duração. Tomando por base este dado, o Governo Brasileiro tem investido bastante no MERCOSUL. Os resultados vêm sendo positivos.
Além da posição geográfica favorável, outros fatores mostram que os países do MERCOSUL são bons alvos para incrementar o turismo brasileiro. Conforme dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), com exceção do Paraguai, todos os países do bloco apresentam níveis de riqueza e bem estar, superiores aos brasileiros. É importante lembrar que o Brasil é um estado de dimensões continentais, tendo fronteiras com diversos países. Porém, sua visitação predominante ocorre por parte dos cidadãos dos quatro países parceiros do MERCOSUL1.
Com a visão estratégica de que o turismo é elemento de importância para a economia do Estado, em 1995, o governo brasileiro colocou a atividade a âmbito ministerial, estruturando o Ministério da Indústria Comércio e Turismo. Dentre as ações sugeridas estavam a capacitação de pessoas, abertura de financiamento, revitalização de áreas de patrimônio histórico-cultural e financiamentos para construções de complexos de lazer e entretenimento. Já, dentre as atividades propostas, o objetivo para o Triênio 96/99 foi:
... promover a inserção do turismo na consolidação do Mercado Comum do Sul, mediante o aproveitamento total do potencial desta atividade para a integração sócio-econômica e cultural entre os Estados parte, bem como estimular e facilitar o acesso dos fluxos turísticos para e entre os países signátarios.1
Como conseqüência dos esforços em atrair turistas desses países vizinhos, no ano de 1998, observou-se que dos 5,2 milhões de turistas estrangeiros que visitaram o território brasileiro, cerca de 31% eram argentinos2. Outro fato analisado foi de que nos últimos três anos o Brasil subiu da 43º posição do ranking da OMT para a 23º posição, em relação a chegada de turistas estrangeiros.
No Estado de Santa Catarina, foi constatado que no ano 2000 a predominância de visitantes foi de estados e países vizinhos1, fato que reforça o caráter do deslocamento para espaços próximos ao da residência, conforme estudo da OMT anteriormente citado. Como forma de atração de turistas, o órgão oficial de turismo de Santa catarina (SANTUR) vem divulgando o turismo temático nas modalidades de ecológico, parques temáticos, circuito de compras, circuito religioso, turismo de eventos, turismo rural e litorâneo, e, o histórico. No turismo histórico destacam-se as diferentes colonizações ocorridas no Estado tais como alemã, italiana, polonesa e açoriana.
A capital catarinense, Florianópolis, tem sido a grande destinação do Estado, e, é apontada como a quarta no Brasil na - ficando atrás para cidades como Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza na chegada de turistas estrangeiros, com a ressalva, de que o processo se dá quase que exclusivamente durante a estação verão, por fluxos originários da Argentina, Paraguai e Uruguai1.
Florianópolis é também conhecida como capital turística do Mercosul, embora este título careça de fundamentos reconhecidos nos âmbitos acadêmico e político.
Além das belezas naturais, com praias, dunas, costões e uma exuberante vegetação que recobre as suas encostas, o município de Florianópolis oferece aos visitantes inúmeros pontos de interesse histórico, desde oficinas líticas e inscrições rupestres, testemunhas da ocupação indígena, até igrejas e casarios que nos remetem aos tempos da colonização açoriana.2
Localizada ao norte de Florianópolis, entre montanhas cobertas de mata e o mar da Baia Norte- que separa a Ilha de Santa Catarina do continente. Santo Antônio de Lisboa preserva em suas ruas fortes marcas da história da colonização açoriana. Um dos bairros mais antigos da cidade, onde convivem diariamente famílias de pescadores e nativos junto a intelectuais e artistas que escolheram o estilo calmo do local para viver. Sua gastronomia é voltada aos frutos do mar, cozinha típica portuguesa, pratos típicos da Ilha, e, apresentando em muitos de seus restaurantes a presença de figuras típicas do folclore. As águas do mar em Santo Antônio são mansas e quentes, além de fonte de renda para pescadores e maricultores(responsáveis por 85% da produção nacional de ostras e mariscos).
No entanto Santo Antônio de Lisboa apresenta carências em diversos aspectos no seu espaço, tanto na má utilização dos recursos existentes, como também em pontos pouco ou não aproveitados.
1.1 Pergunta norteadora do estudo:
O problema de estudo, portanto, parte da seguinte questão:
'"Qual a situação existente no bairro de Santo Antônio de Lisboa em relação à atividade turística?
Sendo que desta questão surge e desenvolve-se o tema de pesquisa, denominado:
"Diagnóstico da atividade turística no Bairro de Santo Antônio de Lisboa- localizado na Ilha de Santa Catarina"
Tendo a realização durante o ano de 2001 e contando com a colaboração de órgãos estatais, comunidade, meio acadêmico e empreendedores do local.
Tendo em vista o crescimento da atividade turística e sua importância - como fator de intercâmbio de culturas e experiências, e, sobretudo como gerador de rendas - percebeu-se a necessidade de avaliar a situação existente no bairro de Santo Antônio de Lisboa. Localizada em Florianópolis, pólo turístico de grande atração de turistas de países e estados vizinhos, é um bairro diversificado em atrativos turísticos devido às suas peculiaridades. Porém, com deficiências diversas que podem afetar o seu futuro.
O desenvolvimento de técnicas, hábitos e tecnologias que venham à preparar e proteger o ambiente para às gerações futuras, fato que atualmente além de uma necessidade, gradativamente torna-se uma exigência da sociedade.
No entanto, para toda ação que envolva ambiente e comunidade é necessário o planejamento, que é conseqüência de estudos diversos sobre a situação existente e fatores relevantes. O estudo diagnóstico vem apresentar as oportunidades, ameaças, pontos positivos e negativos presentes no ambiente, que são as informações necessárias para elaborar planos de ação.
Da mesma forma, o diagnóstico pode ser utilizado como ferramenta educativa e disseminadora de informações relevantes relativas ao local estudado. Suas informações podem ser úteis para a comunidade local no que refere-se a questão de conscientização das características do ambiente, empreendedores que desejam obter informações suficientes para o processo decisório, turistas em busca de informações referentes ao local que pretendem fazer turismo e pode ser utilizado como ferramenta de auxílio ao marketing turístico.
Diagnosticar o patrimônio natural, histórico e artístico cultural do Bairro de Santo Antônio de Lisboa, localizado na Ilha de Santa Catarina- SC, frente ao uso turístico.
- Identificar e analisar o patrimônio natural, histórico, artístico e cultural do bairro de Santo Antônio de Lisboa
- Levantar e analisar os aspectos positivos (fortalezas), os negativos (ameaças), as deficiências e as oportunidades, visando o fomento sustentado da atividade turística no espaço;
- Elaborar diagnóstico turístico do espaço, amparada em referencial teórico e pesquisa de campo.
O turismo, conforme Ferraz, apresenta é:
...um fenômeno social e econômico que teve origem espontânea, decorrente da inerente vontade do ser humano de conhecer locais e culturas diferentes. Essa vontade foi motivada inicialmente, por razões de ordem comercial, como a descoberta de novos mercados fornecedores, consumidores e de produtos. A procura desses mercados propiciou o desenvolvimento do sistema de transportes, dando origem a uma estrutura de alojamento.(1992, p.13)
O autor utiliza, para caracterizar o turismo, o adjetivo de "industria sem chaminés"
Angeli (1996) salienta, que o turismo é essencialmente o movimento de pessoas em atendimento às suas necessidades, assim como às necessidades das outras pessoas que não viajam.
Analisando esse ponto de vista podemos perceber a importância dada não só a satisfação das necessidades do turista, mas também a da comunidade local e da interatividade entre ambas.
Trigo argumenta que
nas sociedades pós industriais o turismo juntamente com o lazer, a cultura, as artes, o esporte e a preocupação com a qualidade de vida, desenvolveu-se a cada ano, ganhando sempre espaço nos meios de comunicação, nos negócios internacionais, no interesse e no cotidiano das pessoas.(1996, p.20)
O autor complementa com a posição de que o turismo, junto com os elementos acima citados começam a fazer parte de uma sociedade "...extremamente ativa, questionada, mutável e multifacetada."(Trigo, 1996, p.66) E, na atividade turística, a diversidade cultural e a abertura às novas experiências fazem parte do cotidiano.
Segundo Andrade (1995), as características que tornam o fenômeno turístico produtivo, em todas as fases do processo de sua múltipla efetivação, se manifestam pelos meios e recursos que a atividade utiliza, pelos resultados que o turismo produz e pelas características econômicas do fenômeno.
Arrilaga apresenta a importância e abrangência da atividade da seguinte forma:
O que sucede é que as relações dentro do mundo turístico, não são somente entre o turista e a equipe receptiva, pela amplitude que se dê ao conceito deste sem que também tenha relações entre as próprias empresas turísticas e entre aquelas e estas com as autoridades. (1976, p.25)
Também devido ao fato de ser uma atividade diferenciada, o turismo tem a responsabilidade por sua gestão ampliada não só no âmbito empresarial, mas também na esfera estatal e de instituições cooperativas. As empresas individuais são envolvidas com os principais serviços(transporte, alojamento, entretenimento, eventos, informações). As instituições cooperativas são parceiros que esforçam-se para transformar o conjunto em um produto global e vendê-lo integralmente. O governo, proprietário e responsável por grande parte da infra-estrutura básica(energia, vias de transporte, comunicações, água), têm como responsabilidade a confecção de legislação para a preservação do patrimônio cultural e natural
O turismo tende a acontecer em regiões com menor estágio de desenvolvimento econômico, embora se manifeste com intensidade nos grandes centros predominando o turismo de negócios -, o que permite a transmissão de capital de regiões ricas para outras mais pobres. No entanto, apresenta também aspectos negativos no âmbito social - como mudança cultural, inflacionamento econômico e instabilidade no mercado de trabalho.
Hogan (apud SERRANO; BRHUNS, 1997) acredita que o turismo requer uma reflexão mais sistemática quanto a seus aspectos culturais, sociais, políticos e ambientais. Uma vez que nos encontramos em uma situação de escassez de trabalhos e a necessidade de geração de novos postos e emprego, que o setor turístico pode contribuir.
Em seu sentido mais amplo, o turismo é o maior dos movimentos migratórios da história da humanidade e caracteriza-se por uma taxa de crescimento constante. Este incremento responde a uma série de diversas e profundas necessidades do ser humano de espaço, movimento, bem-estar, expansão, e repouso longe das tarefas impostas pelo trabalho cotidiano, através da fuga da rotina, do conhecimento de novos prazeres e da descoberta de novos horizontes
Ferraz (1992) apresenta como algumas motivações para o turismo o lazer, eventos, negócios, visitas a famílias.
Ribeiro; Barros (apud SERRANO; BRHUNS, 1997) acrescentam que, devido a comunicação de massa que apresenta constantemente o consumo de grande escala como comportamento social, a experiência individual direta com o ambiente, a paisagem e os nativos tornam-se valores dos mais apreciados para a afirmação do individualismo. A ruptura do cotidiano, permite sair da reprodução massiva, rotinas obrigatórias, revelar aspectos desconhecidos da realidade, entender a sensação de liberdade e combater do estresse.
Conforme Rodrigues (1997, p.18):
"... a supremacia do indivíduo, no culto à saúde física e espiritual, no direito ao ócio e ao lazer, na condenação do consumo material supérfluo, na desvinculação dos efeitos de demonstração de status social, que representaram até então uma das maiores motivações para viagens turísticas. Isso não significa que tal necessidade vá desaparecer, mas vai conviver com ela outra modalidade de turismo, praticada na esmagadora maioria por uma população jovem engajada politicamente nos movimentos ecológicos."
A autora complementa dizendo que a necessidade de viajar "... é fabricada, sendo incorporada artificialmente ao rol das necessidades básicas do homem."(RODRIGUES, 1997 , p.26)
Utilizando-se do argumento de que o ato de viajar é parir do conhecido ao desconhecido e o importante não é o percurso, mas as experiências vivenciadas. Verifica-se então o caráter de aventura, descoberta e aprendizado da atividade turística.
Rodrigues ainda argumenta apresenta o fato de que "...a insatisfação nascida do quadro de vida urbano é exacerbada, vendendo-se o espaço turístico como paraíso." (1997, p.90).
Arrilaga (1976), por sua vez, apresenta então o seguinte posicionamento de que o principal motivo para realização de viagens é o desejo de evasão, o desejo de afastar-se do quotidiano, de deixar o trabalho em série, de afastar-se da concentração urbana, antinatural e dominada pela poluição.
TROISI (apud ARRILAGA, 1976) considera que as viagens turísticas são originadas por necessidades de repouso, de cura, espirituais ou intelectuais.
Dentre as principais motivações para a pratica do lazer Andrade (1995) destaca o desejo de evasão, espirito de aventura, aquisição de status, necessidade de tranqüilidade, desejo ou necessidade cultural, desejo ou necessidade de compra.
Desta forma, podemos observar que as razões que levam à prática do turismo são as mais diversas. Sendo que, a partir de uma delas ou da união de diversas (dependendo do indivíduo), surgirão os critérios de escolha da destinação nas quais o turista despenderá o seu tempo e demais recursos disponíveis, daí a importância em conhecer as motivações dos visitantes.
O turismo , como toda atividade econômica, necessita de planejamento.
Sob a ótica da racionalidade funcional as etapas de planejamento podem ser classificadas em: reflexão diagnóstica (estudo e decisões), ação, reflexão critica(avaliação e novas decisões) (ANGELI, 1996, p.31).
Angeli (1996), acrescenta sugerindo que o planejamento pode se dividir em diferentes estágios, conforme a complexidade. Podendo desta forma apresentar-se em primeiro estágio (viagens, eventos, excursões), segundo estágio (transformação de cidades em núcleos turísticos, ativação de núcleos), terceiro estágio (políticas nacionais para incentivar a atividade).
Para Ferraz, o planejamento turístico é resumido na intervenção estatal sobre o turismo. De uma forma mais sucinta apresenta o planejamento como "...a ação intervencionista que por instrumentos legais próprios, visa ordenar o patrimônio turístico, os investimentos setoriais, a qualidade dos serviços e o incremento do consumo."(1992, p.18)
No entanto, preferimos acreditar que o planejamento deva ser não somente uma intervenção partida do Estado, mas sim das partes interessadas pela sua realização, bem como daquelas que preocupam-se com o desenvolvimento da atividade. Pois a utilização do espaço e o desenvolvimento da economia são reflexos das relações sociais existentes no mesmo.
O planejamento físico tem como finalidade "... o ordenamento das ações do homem sobre o território e preocupa-se em resolver harmoniosamente a construção de todas as coisas, além de antecipar o efeito da exploração dos recurso naturais" (FERRAZ, 1992, p.58) As aplicações do planejamento físico ocorrem em dois âmbitos do espaço, natural e urbano (aqui denominado construído).
Para Lage; Milone (1996) no caso do estudo do espaço do turismo do ponto de vista técnico, o planejamento consiste em avaliar todos os recursos disponíveis e os que pretende implementar, tendo como parâmetro a demanda atual, futura e potencial e a sua sazonalidade.
A preocupação com os recursos naturais visa evitar o esgotamento prematuro dos recursos não-renovaveis e a exploração irracional dos renováveis, para tanto, desponta uma alternativa de planejamento que é atrelada aos princípios de conservação e desenvolvimento sustentado.
Para Dias (1998) o desenvolvimento sustentado não é centrado na produção, mas sim nas pessoas. Devendo ser apropriado não só aos recursos e ao meio ambiente, mas também à cultura, história e sistemas sociais do local onde ele ocorre. Dias, acrescenta argumentando que:
...a maioria dos problemas ambientais tem suas raízes em fatores sociais, econômicos e culturais que não podem, portanto, ser previstos ou resolvidos por meios puramente tecnológicos; nós sabemos que devemos agir primeiramente sobre os valores, atitudes e comportamentos dos indivíduos e grupos, em relação ao meio ambiente.(1998, p.80)
Logo observa-se a importância de educação e conscientização da sociedade para o desenvolvimento sustentado.
Mc Intosh (apud ANGELI, 1996) apresenta como argumento à preservação, a lucratividade. Do seu ponto de vista, a não preservação dos recursos e da qualidade dos mesmos afeta o interesse do publico, refletindo diretamente na possibilidade de retorno financeiro das organizações.
Pelegrini acredita que exista uma "...enorme potencialidade de recursos naturais, que o turismo brasileiro no Brasil não quer, não sabe ou não pode aproveitar." (1993, p.11) Para isso vale a realização de estudos que apresentem as potencialidades e limitações dos espaços, de forma a possibilitar a maximização da utilização do potencial existente, visando ao mesmo tempo a adequação do uso dos atrativos minimizando ou eliminando os possíveis prejuízos. O autor acrescenta apresentando a idéia de que "A imagem do turismo como fator de poluição e destruição deve ser debitada ao turismo em massa. Uma política para o setor deve privilegiar o turismo brando" (PELEGRINI, 1993, p.12)
Por outro lado a discussão sobre a necessidade de preservação é muito mais ampla, estando presente tanto na constituição nacional, como em discussões internacionais tais como a Agenda Internacional dos Povos, Eco 92, Protocolo de Kioto, entre outras.
Como conseqüência das diversas discussões, durante a Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente e desenvolvimento, a Rio 92 (ou Eco 92), foi edificada a Agenda 21, a qual objetiva a proteção a natureza e as culturas regionais. A mesma tem como áreas de atuação prioritárias, esforços para o desenvolvimento de ações que resultem no desenvolvimento sustentado - observando o turístico como atividade geradora de renda e fator contribuinte para a preservação cultural e ambiental.
Logo, hoje, cabe a comunidade compreender o espaço em que está inserida e trabalhar técnicas e estratégias para a sua preservação ou melhoria do seu entorno para garantir o futuro.
Para Rodrigues,
... os elementos básicos do espaço turístico são: oferta turística, demanda, serviços, transportes, infra-estrutura, poder de decisão e de informação, sistemas de promoção e comercialização. É evidente que esses elementos se encontram em ação e interação recíprocas, não podendo ser compreendidos separadamente(1997, p.45)
Os elementos do espaço segundo Milton Santos (apud RODRIGUES, 1997) são Homens, instituições, firmas, infra-estrutura e meio-ecológico.
Para Ward; Dubos (apud BOULLON, 1985) o espaço terrestre pode ser dividido em duas categorias: espaço natural e espaço urbano - que aqui chamaremos de espaço construído por acreditar que este seja o termo mais apropriado e em sintonia com o pensamento de Boullon , elemento de suporte técnico desta análise.
No espaço natural predomina a existência da natureza, enquanto no espaço construído a natureza dá lugar à ação do homem. Porém, apesar das distinções, geralmente há a predominância da mescla de ambos ambientes. O Espaço, todavia, somente adquire valor de troca quando apresenta a característica da utilidade.
A linguagem do planejamento utiliza sete classes de espaço físico (BOULLON, 1985):espaço real, espaço potencial, espaço cultural, espaço natural adaptado, espaço artificial, espaço natural virgem e espaço vital. Sendo as suas características as seguintes:
- espaço real, toda a superfície, a qual pode ser captada pelo homem através dos sentidos;
- espaço potencial, é a potencialidade de destinar espaço real a algum uso diferente;
- espaço cultural, aparte da crosta terrestre que a ação do homem tenha alterado sua aparência original;
- espaço natural adaptado, as partes da crosta terrestre onde predominam as espécies do reino vegetal, animal e mineral, que tenham sido fixados devido à ação do Homem;
- espaço artificial, onde predominam todos os tipos de artefatos produzidos pelo Homem - tem-se como maior expressão as cidades;
- espaço natural virgem, sem vestígios do homem;
- espaço vital, não refere-se à terra mas sim aos seres vivos e ao meio ambiente favorável à sua existência.
Percebe-se então que nesta classificação existe a predominância de classes onde a interferência do homem é presente. Daí o interesse crescente em desenvolver (ou preservar) espaços onde exista o equilíbrio entre a natureza e a ação do homem.
Para medir o tamanho do espaço existem três dimensões (BOULLON, 1985): espaço plano, espaço volumétrico e espaço tempo. O espaço adquire uma quarta dimensão quando tem o homem intervindo como observador. Essa quarta dimensão é muito importante quando estuda-se o planejamento dos atrativos turísticos, pois em um estudo minuciosos da qualidade espacial de cada lugar deve servir para traçar e estimar os tempos ótimos e mínimos para a sua visita.
O espaço turístico é conseqüência da presença e distribuição territorial do espaço, matéria-prima do turismo. A melhor forma de determinar o espaço é através da observação da distribuição dos atrativos e da planta, objetivando detectar as agrupações e concentrações.
A qualificação estética do espaço, espaço natural e espaço construído é compreendida como paisagem.
Petroni; Kenigsberg (apud BOULLON, 1985, p.99) diferenciam a paisagem em:
- paisagem natural: conjunto de caracteres físicos de um espaço que não tenham sido modificados pela ação do homem;
- paisagem cultural: paisagem modificada pela presença do homem;
- paisagem urbana: conjunto de elementos plásticos naturais que compõe a cidade
Compreenderemos então a paisagem urbana como o aglomerado de construções do homem, e, que através da paisagem cultural demostra os valores e costumes da sociedade ali inserida.
Conforme Boullon (1985) é possível classificar a paisagem em duas outras categorias. A homogênea, integrada por poucos elementos e de fácil leitura - porém com maior facilidade de monotonia por parte do observador -, e, heterogênea, formada por uma grande quantidade de elementos e de interpretação dificultada- pode aumentar a presença do observador no espaço.
Para avaliar a qualidade de uma paisagem, de acordo com Boullon (1985), deve-se avaliar a sua beleza, utilizando de critérios pessoais. No entanto, para descrever e visualizar vale utilizar-se de tais aspectos: diversidade, repetição, unidade, variações. Diversidade representa a quantidade de componentes visualmente diferenciáveis. Repetição, indica a presença de uma forma ou motivo natural em um grau que domine a cena. Unidade, equilíbrio visual da paisagem. Variações, refere-se as variações de tonalidade ao decorrer do dia.
Rodrigues (1997, p.43) complementa que: " No caso do turismo, o impacto visual que o ambiente natural produz varia de acordo com o tipo de atividade que realizam aqueles que a visitam. As mesmas podem ser de três classes: espectador, ator, ator-observador."
Sendo que atualmente vem sendo muito valorizada a possibilidade de o visitante atuar no espaço como ator-observador. Pois o mesmo quer poder interagir com aquele ambiente que observa.
Para captar a paisagem urbana os elementos à serem analisados são o tamanho da localidade, traçado, topografia e tipo de arquitetura. Independentemente da organização espacial, os habitantes (permanentes ou temporários) captam a sua coerência e unidade ou desordem e confusão. (BOULLON, 1985, p.167)
Rodrigues novamente contribui ressaltando ainda a importância da paisagem na atividade turística:
A observação da paisagem assim considerada é de grande importância nos estudos de Geografia do Turismo, uma vez que a paisagem em si é um notável recurso turístico. Tendo em vista que o turista busca na viagem a mudança de ambiente, o rompimento com o cotidiano, a realização pessoal, a concretização de fantasias, a aventura e o inusitado, quanto mais exótica for a paisagem, mais atrativa será para o turista.(1997, p.48)
Ainda seguindo Rodrigues, observa-se que paisagem é um notável recurso turístico quando pretende encantar e seduzir pois "...corresponde à representação artístico-pictórica do mundo visível da cultura."(1997, p.72)
No entanto, para que a paisagem seja atraente sob a ótica do turismo, é necessário que a mesma seja conservada, seguindo os critérios culturais do locus observando a sustentabilidade do espaço.
O sistema turístico é formado pela oferta e suas interfaces com a demanda.
A oferta turística, conforme Lage; Milone (1996) é o conjunto de atrações naturais e artificiais de uma região, assim como de todos os produtos turísticos à disposição dos consumidores para satisfação de suas necessidades.
A matéria-prima da oferta turística natural, conforme Andrade (1995), compõe-se de recursos em cuja criação não houve interferência humana direta ou indireta, nem seu concurso para a configuração e capacitação deles. A oferta turística artificial é composta por recursos naturais, de obras criadas pelo homem, de serviços e atitudes que colaboram com a natureza, imitando-a - de alguma forma - ou agindo de forma a complementá-los ou mesmo subsidiá-los.
O produto turístico (que chamaremos de PT) é composto de bens e serviços unidos por relações de interação e interdependência que o tornam extremamente complexo.
Uma de suas características é que se trata de um produto material cujo resíduo é uma experiência vivencial. E, a heterogeneidade da demanda faz com que as expectativas, dos serviços, sejam tão diversificadas que tornam a apreciação sujeita a diversas interpretações.
De acordo com Lage; Milone (1996), o PT por ser um bem de consumo abstrato, não pode ser avaliado ou apresentado antes da sua venda. Apenas representado aos consumidores potenciais através de descrições e fotos, induzindo, desta maneira, o cliente à compra através da promessa de satisfação.
O PT apresenta características próprias, que o diferenciam dos produtos comerciais e industriais:
- é um bem de consumo abstrato, imaterial e intangível;
- coincidência espacial e temporal de venda e prestação do serviço com o seu consumo;
- necessidade da presença da clientela no local de produção;
- impossibilidade de estocagem;
- os serviços turísticos são prestados de forma irregular, mesmo apesar do esforço em padronização de serviços;
- os componentes são interdependentes, devido a sua complementaridade;
- a atividade turística está sujeita a sazonalidade( períodos de instabilidade da demanda), e, a concentração espacial;
- demanda heterogênea;
- é estático
Os produtos turísticos, de acordo com Boullon (1985) podem ser também classificados em complementares e substitutos. Complementares são os que podem ser consumidos juntamente com outros. Substitutos, são os que podem ser consumidos em troca por outros.
Segundo Ruschmann (1995), do ponto de vista do consumidor os elementos do PT são atrações, facilidades e acessos. As atrações tem importância fundamental pois constituem a matéria-prima em que o núcleo organiza-se. As facilidades são os elementos que por si só não geram fluxo turístico. porém, a falta pode impedir o turista de visitar as atrações. Basicamente, este elemento determina a viabilidade e o valor econômico do produto turístico, e, pode ser considerado como determinante para o êxito do turismo em uma região. Os acessos são as vias e meios de transporte disponíveis, para que o turista se locomova à destinação
Boullon (1985) cita que dentre os bens comercializados no turismo, os de consumo não originam-se de equipamentos produtivos exclusivamente turísticos. No entanto, os serviços, efetivamente são um bem produtivo turístico, porem não os únicos nem mesmo o mais importante, porque na realidade os serviços se apresentam mais como um meio do que uma finalidade.
Sendo assim, devido à grande diferenciação entre o produto turístico com os demais tipos de produtos, surge a necessidade de uma melhor compreensão de suas características, abrangência e forma de gerenciamento.
A demanda turística, no entanto, segundo Lage; Milone (1996), é a quantidade de bens e serviços turísticos que os indivíduos desejam e são capazes de consumir a um determinado preço, em um determinado período. Sendo que, as expectativas da demanda podem ser satisfeitas pelas reservas naturais e artificiais que caracterizam a sua capacidade de oferta, que exige preservação, conservação e reciclagem.
A demanda total do produto turístico é composta pela demanda potencial e demanda real. A demanda potencial são todas aquelas pessoas que de alguma forma sentem alguma motivação à prática turística. No entanto, a demanda real são somente aquelas pessoas que de fato praticam o turismo, os turistas, excursionistas e visitantes.
O turista, segundo Arrilaga (1976) apresenta as seguintes características:
- pessoa que se translada, que viaja, que efetua um deslocamento de um lugar geográfico a outro;
- temporalidade do translado. Que translada seu domicílio a outro lugar;
- a atividade do turista não há de ser de caráter lucrativo.
- pessoa que permanece por mais de 24 horas no local visitado.
O excursionista é a pessoa que realiza uma visitação breve à localidade, sendo esta organizada por uma agência de viagem. Os visitantes, no entanto, são os residentes do local que visitam utilizam-se do espaço turístico. É importante lembrar que o turismo apresenta a característica de ser aquela pessoa que dispõe de recursos para a prática turística.
O presente trabalho apresenta características de pesquisa científica, de campo, aplicada, descritiva, bibliográfica, social e interdisciplinar.
Sua realização baseou-se conforme Ruiz (1979): pesquisa bibliográfica, determinação de técnicas de coleta, registro e análise dos dados. Pois entendeu-se que devido ao fato de tratar-se de pesquisa do campo social, essa então seria a melhor forma.
De acordo com Ruiz a pesquisa científica "... é a realização de uma investigação planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as normas da metodologia consagradas pela ciência."(1979, p.48)
Para Best (apud LAKATOS; MARCONI, 1990, p.17) a pesquisa apresenta as seguintes características:
1.Procedimento sistematizado, pois novos conhecimentos são coletados (de fontes primárias ou secundárias), comprovados e verificados;
2.Exploração técnica, sistemática e exata, em que o pesquisador "...baseando-se em conhecimentos teóricos anteriores, planeja cuidadosamente o método a ser utilizado, formula problemas e hipóteses, registra sistematicamente os dados e os analisa com a maior exatidão possível."
3.Pesquisa lógica e objetiva, utiliza-se de todas as provas possíveis para o controle dos dados coletados e procedimentos empregados, e, é estritamente ligada à objetivos;
4.Organização quantitativa dos dados, os dados devem ser expressos com medidas numéricas;
5.Relato e registros meticulosos e detalhados da pesquisa, todas as informações referentes à realização da pesquisa devem ser meticulosamente apresentados.
Existem diversas formas de classificação da pesquisa.
A pesquisa de campo "...consiste na observação dos fatos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados e no registro de variáveis presumivelmente relevantes para ulteriores análises. Esta espécie de pesquisa não permite o isolamento e o controle das variáveis supostamente relevantes, mas permite o estabelecimento de relações constantes entre determinadas condições e determinados eventos, observados e comprovados."(RUIZ, 1979, p.50)
Ruiz (1979) afirma que a pesquisa de campo é composta por cinco fases: pesquisa bibliográfica, determinação de técnicas de coleta e registro de dados, coleta de dados, estabelecimento de técnicas de análise dos dados e análise.
Segundo Ander-Egg (apud LAKATOS; MARCONI, 1982) a pesquisa assume caráter social quando abrange povos e grupos culturais, população e grupos territoriais, problemas sociais e adaptações, entre outras diversas razões. Lakatos; Marconi complementam argumentando que a pesquisa social utiliza-se de "...metodologia científica, através da qual se podem obter novos conhecimentos no campo da realidade social. (1982, p.18)"
Conforme Ander-Egg (apud LAKATOS;MARCONI, 1982) existem dois tipos básicos de pesquisa a básica e a aplicada. A forma aqui empregada trata-se de pesquisa aplicada devido a seu interesse prático, e a possibilidade de utilização dos resultados para a solução de eventuais problemas afins que ocorram na realidade. É possível justificar que caracteriza-se como aplicada, também devido ao fato de que a partir de modelos teóricos, busca-se investigar, comprovar ou rejeitar a existência dos mesmos no espaço.
Segundo Best (apud LAKATOS; MARCONI, 1982) a pesquisa descritiva, apresenta aspectos da descrição, registros, análises e interpretação de fenômenos e, principalmente, por determinar o que se trata – ou o quê é o problema de pesquisa. Ainda, com a característica descritiva, pode-se verifica-se o argumento de Hyman (apud LAKATOS; MARCONI, 1982), de que simples descrição de um fenômeno, a caracteriza desta forma.
Apoiando-se em Rummel (apud LAKATOS; MARCONI, 1982), chega-se a conclusão de tratar-se de pesquisa bibliográfica por utilizar-se de materiais escritos. Ruiz afirma que a pesquisa bibliográfica
... afirmará sobre a situação atual do problema, sobre os trabalhos já realizados a respeito e sobre as opiniões reinantes; permitirá o estabelecimento de um modelo teórico inicial de referência, auxiliará no estabelecimentos da variáveis e na própria elaboração do pleno geral da pesquisa.(1979, p.51)
Por fim, seguindo os critérios de Pardinas(apud LAKATOS; MARCONI, 1982) a abrangência de estudo de diversas áreas das ciências sociais, de forma correlacionada, justifica o caráter interdisciplinar.
A coleta de dados deve ser constantemente relacionada aos objetivos previamente estabelecidos, pois conforme Cervo (apud LAKATOS; MARCONI, 1982) coloca, os objetivos podem definir o material a coletar, o tipo de problema e a natureza do trabalho.
Os dados coletados foram classificados segundo Mattar (1999) em primários e secundários.
Os dados primários são os já existentes, que foram coletados, tabulados e catalogados à disposição do pesquisador. Ex: dados históricos, bibliográficos, informações, pesquisas e material cartográfico, documentação pessoal. Lakatos; Marconi (1982), mais uma vez colaboram apontando a utilidade desses dados: "A utilização de fontes já existentes evita que esforços sejam duplicados ou desnecessários. Além de auxiliar sugerindo demais fontes ."
Os dados secundários são os que necessitam de coleta e têm por finalidade atender a pesquisa. Pesquiso-se então a imprensa em geral e obras literárias.
O levantamento de dados de acordo com Lakatos; Marconi (1982 p. 24 ) pode ser realizado em três formas: pesquisa bibliográfica, documental além de contatos diretos.
Por pesquisa bibliográfica entende-se "... um apanhado geral sobre os principais trabalhos realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados no tema". (MATTAR, 1999, p.53). Lakatos; Marconi (1982, p.24) complementam afirmando que, representam uma fonte indispensável, pois pode orientar questões orientar as questões de estudo. Além que, este tipo de pesquisa "... oferece meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas ainda não se cristalizaram suficientemente".
A revisão bibliográfica é válida devido, principalmente, ao fato desta apresentar a realidade, do objeto de estudo, vinda de diferentes pontos de vista.
Ruiz vai mais além quando argumenta que:
Qualquer espécie de pesquisa, em qualquer área, supõe e exige pesquisa bibliográfica prévia, quer à maneira de atividade exploratória, quer para o estabelecimento do "status quaestionis", quer para justificar os objetivos e contribuições da pesquisa.(l 979,p.57)
Portanto, foi realizada pesquisa exaustiva em bibliografia referente à turismo, o município de Florianópolis e ao bairro de Santo Antônio de Lisboa
Após a pesquisa bibliográfica relevante, segue a análise documental. Os documentos são "... materiais escritos que podem servir como fonte de informação para a pesquisa científica e que não foram elaborados." (LAKATOS; MARCONI, 1982, p.56 )
Ruiz (1979) apresenta de uma forma mais ampla classificando os documentos em escritos e não escritos- apresentando como exemplos de escritos relatórios e documentos particulares, e, não escritos fotografias, imagens, objetos, canções, manifestações folclóricas, vestuário.
Tendo então como base esta classificação, observou-se então a importância de ambos na realização desta pesquisa.
A obtenção de dados por contato direto, seguiu a metodologia de Mattar (1999, p. 66), utilizando-se de comunicação e observação. Como seja:
O método da comunicação consiste no questionamento, oral ou escrito, dos respondentes para a obtenção do dado desejado, que será fornecido por declaração verbal ou escrita, do próprio. O método da observação consiste no registro de comportamentos, fatos e ações relacionados com o objetivo da pesquisa e não envolve questionamentos e respostas verbais ou escritas.
Rudio (1986), no entanto, salienta a importância de que para aceitar as informações de um instrumento de pesquisa este precisa ter as qualidades de validade e fidedignidade.
Na realização do presente estudo, optou-se pelo método não estruturado e não disfarçado, pois entende-se que, através do partilhamento de objetivos, haveria maior facilidade de acesso às informações, e, a flexibilidade nos questionamentos vindo então à enriquecer o estudo - tendo em vista a maior interatividade com o entrevistado e adequação à diferentes situações.
A escolha de pessoas a realização das entrevistas seguiu critérios de relevância e riqueza das informações que as mesmas podem fornecer e da sua acessibilidade. Podendo contar com a colaboração de representantes da Prefeitura de Florianópolis, membros da Intendência do bairro, representantes de associações do local, empresários, artistas e moradores.
O método da observação, consiste no "... registro de comportamentos, fatos e ações relacionados com o objeto de pesquisa, sem que haja comunicação com os pesquisados e não envolve questionamentos, respostas orais ou escritas".(MATTAR, 1999, p.80).
Outrossim, Lakatos; Marconi acreditam que a observação venha servir como auxílio para o pesquisador "... obter provas a respeito dos objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seus comportamentos".(1982, p. 65)
A observação neste estudo envolveu visitas de campo, participação de reuniões da comunidade, observação de hábitos e costumes das pessoas, e, observação da ocupação e utilização do espaço.
Após a coleta de dados os autores (LAKATOS; MARCONI, 1982) sugerem a classificação dos mesmos de forma sistemática através de seleção (exame minucioso dos dados), codificação(técnica operacional de categorização) e tabulação(disposição dos dados de forma a verificar as inter-relações).
Logo, utilizou-se o método de análise de conteúdo de Bardin: "... a análise de conteúdo aparece como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos da descrição da conteúdo das mensagens. (BARDIN, 1977 ,p. 38)"
Henry; Moscovici (apud BARDIN, 1977, p. 33), dizem que: "tudo o que é dito ou escrito é suceptível de ser submetido a uma análise de conteúdo"
Berelson (apud BARDIN, 1977, p. 36) explica que a análise de conteúdo é "...uma técnica de investigação que através da descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto nas comunicações, tem por finalidade a interpretação destas mesmas comunicações". As regras de análise (BARDIN,1977) são as de categorização das informações por: homogeneidade, exaustividade, exclusividade, objetividade e adequação ou pertinência.
As fases da análise de conteúdo são: a pré-análise, a exploração de material, e, o tratamento dos resultados (inferência e interpretação). Bardin (1977) sugere diversas formas de análise de conteúdo, a aqui utilizada trata-se da análise de relações, que trata-se "...não mais da simples frequência da aparição dos elementos do texto, mas para as relações que os elementos do texto tem entre si (1977, p. 197)."
Osgood (apud BARDIN, 1977) propõe a seguinte abordagem na ánalise – que foi a utilizada :
No presente estudo optou-se também pela análise diagnóstica, como segue..
Angeli (1996, p34) define o estudo de diagnóstico como sendo "de investigação, reflexão, compreensão e juízo dos dados da realidade a partir de um quadro normativo definido, com fins operativos com vistas a intervenção" A autora sugere como procedimento metodológico, o inicio com a coleta e processamento de dados, precisos, prosseguido de uma coleta acumulativa que permite a identificação de fatos e tendências. O autor acredita que o trabalho possa ser dividido em duas etapas preparação do material e análise.
A preparação envolve a formulação de hipóteses, a formulação de referencias, de necessidades, de parâmetros e estabelecimento de normas de ação.
A análise é o trabalho de reflexão entre os valores dos autor, do seu referencial teórico e a realidade encontrada. Nessa etapa o pesquisador busca relacionar todas as variáveis de forma a identificar os pontos de relevância (favoráveis, desfavoráveis e neutros).
A análise seguiu a metodologia de diagnose do patrimônio turístico aplicada por Boullon (1985), observando a variáveis do espaço.
Boullon (1985), utiliza em seu método de diagnose do patrimônio turístico a partir da análise dos inventários dos atrativos turísticos, das facilidades turísticas, da infra-estrutura da localidade e das atividades turísticas.
O inventário dos atrativos turísticos é um instrumento descritivo ordenado dos lugares, objetos ou acontecimentos de interesse turístico de uma determinada área.
O inventário da planta turística envolve o registro de todas as instalações e equipamentos de produção dos serviços turísticos, a qual denomina-se equipamento. Essa análise limita-se ao registro de dados físicos que são os únicos objetivos, prescindindo a análise da qualidade do serviço.
Inventário da infra-estrutura é composto por todas construções subterrâneas e de superfície, formada pelo conjunto de edificações, instalações de estrutura física de base que proporciona o desenvolvimento da atividade turística.
Inventário das atividades turísticas, envolve as atividades turísticas que são realizadas, ou que existe o potencial de realização.
Na análise do patrimônio, Boullon (1998) avalia o ambiente, considerando os seguintes aspectos: pontos fortes e fracos do ambiente, bem como, as oportunidades e as ameaças (variáveis externas). Para realização de tal diagnóstico, observa os elementos do espaço turístico e, para sua conexão, a reestruturação de forma auto-estratégica.
O diagnóstico apresenta como premissas: o ambiente e suas variáveis relevantes; as oportunidades e ameaças decorrentes desse ambiente; os pontos fortes e fracos para enfrentar o ambiente; análise externa e interna, integrada e contínua.
Ao final o diagnóstico deve fornecer uma imagem da realidade do objeto de estudo e seu ambiente.
5.1 O Bairro de Santo Antônio de Lisboa
Localizada na Ilha de Santa Catarina, município de Florianópolis, esta é uma das três freguesias mais antigas da ilha.
Santo Antônio de Lisboa teve sua primeira colonização no século XVII, quando colonos de São Francisco do Sul vieram ocupar suas terras de sesmarias e iniciaram a lavoura - cobrindo suas terras de pequenas palhoças e ranchos. Sua povoação aconteceu voltada para o mar.
A arquitetura seguiu o traçado de vilas portuguesas, com construções em torno de duas ruas principais paralelas ao mar e algumas transversais. Várzea (1985) descreve Santo Antônio como "...uma cidadezinha , pela sua praça ornada de prédios construídos como os de certos arrebaldes antigos da capital, e pela sua disposição em três ou quatro ruas cheias de casas, unidas ou separadas apenas por pequenas hortas e jardins, que não existem em outros sítios."
O bairro foi o primeiro a receber calçamento na Ilha, conseqüente de uma visita imperial. Conforme Cascaes (apud VÁRZEA, 1985, p.72)
"...o calçamento em estilo pé-de-moleque, feito com pedras irregulares, geometricamente arranjadas e ainda existente em Santo Antônio, foi obra feita especialmente para a visita do imperador, quando ele se hospedou por breve tempo num casarão daquela freguesia. O casarão não mais existe, mas a rua com seu calçamento característico é ainda uma atração turística."
No ano de 1790, de acordo com a vontade de D. Clara Manso, filha do sargento-mor povoador da localidade, foi erigida a igreja de Nossa Senhora das Necessidades, consagrada a Santo Antônio - monge da Ordem Franciscana, nascido em Lisboa no século XVII, de onde vem o nome do local. A igreja é a mesma existente atualmente, e, que exibe peças e imagens sacras de valor histórico e cultural, além do traçado barroco caraterístico das primeiras construções brasileiras.
No século XVIII, quando foi instalado o primeiro entreposto para o comercio marítimo, a localidade começou a se desenvolver. Junto à atividade comercial, a indústria - composta por fabricas de açúcar, engenhos de aguardente e mandioca, fabricas de moer trigo, panos de linho e algodão e curtumes de couro - movimentava a economia local favorecida pela presença do porto (de posição estratégica por estar situado em águas calmas e seguras), que facilitava o comercio entre o norte e centro da ilha.
Em 1985, Várzea (1985) descrevia a economia do local como sendo baseada na lavoura e pesca e suficiente apenas para o consumo.
Santo Antônio, além de ser um tranqüilo e belo balneário de águas calmas e quentes, bairro residencial, é um importante reduto da cultura açoriana, que possui um dos mais representativos conjuntos arquitetônicos da fase de colonização litorânea do, Estado de Santa Catarina.
Sua gastronomia é voltada aos frutos do mar - sendo importante ressaltar que as ostras consumidas são cultivadas na localidade -, cozinha típica portuguesa e pratos típicos da Ilha. Tendo como predominância restaurantes simples, agradáveis e com um toque de bom gosto.
O folclore composto por lendas, mitos, figuras, danças, cantos, contos e comportamentos é bastante presente e, pode ser percebido nos mais diferenciados pontos do bairro, tais como restaurantes, lojas, feiras, paredes e restaurantes.
Em Santo Antônio de Lisboa, é também possível observar algumas das mais privilegiadas paisagens da cidade, tais como a ponte Hercílio Luz, a Baia Norte, as Ilhas de Ratones Grande e Ratones Pequeno além do privilegiado pôr-do-sol.
O local possui como outro diferencial o fato de estar próximo do centro e ao mesmo tempo possuir a calma, pacificidade e áreas verdes preservadas, o que dão as características de cidade pequena. Um verdadeiro refúgio!
A economia local, atualmente, é fundamentada nas atividades de maricultura, turismo, artesanato, comércio local, entre alguns serviços.
5.2 A Importância da Atividade Turística em Santo Antônio de Lisboa
A atividade turística é considerada de grande importância para o desenvolvimento da localidade, uma vez que é a maior fonte geradora de emprego e renda e possibilita o desenvolvimento econômico do bairro. Acredita-se que um dos motivos que demonstram tal importância é o fato de que não há possibilidade de instalação de outra indústria com tal poder.
De acordo com o artista Janga, nos anos 70 as pessoas novas ao bairro tiveram uma percepção de que a comunidade não compreendia a importância da atividade turística e os benefícios que a mesma poderia trazer para o local. Portanto, houve a necessidade de realizar um trabalho de conscientização.
Segundo depoimentos de pessoas da comunidade, acredita-se que o turismo, de certa forma teve um papel civilizatório. Pois as pessoas que até então eram de certa forma xenófobas, perceberam que eram cidadões com direitos e que também podiam interagir com pessoas de culturas diferentes - que Arrilaga (1976) tão bem nós lembra de que as relações nesta atividade não são resumidas ao contato entre equipe receptiva e turistas.
Dentre as transformações ocorridas - de acordo com os relatos -, uma das mais relevantes foi o maior acesso comunitário à cultura, à escolas de arte e galerias. As pessoas que até então tinham vergonha do seu folclore - tal como o boi-de-mamão, um dos maiores símbolos de sua cultura - passaram a valorizar e incentivar a sua continuidade.
Santo Antônio de Lisboa já não depende exclusivamente da alta temporada. A visitação é constante devido à forte gastronomia, importância cultural e histórica, além da proximidade ao centro de Florianópolis.
Dentre os entrevistados, a percepção da maioria é de que os nativos - como são conhecidos os antigos residentes do local - sobrevivem da atividade turística, sendo que muitos inclusive melhoraram de condição de vida.
A produção artística local foi privilegiada, pois o visitante geralmente procura conhecer a história a cultura local, valorizando inclusive os trabalhos artesanais típicos.
Todavia, apesar de existir uma visão de que hoje o turismo acontece de forma controlada, a comunidade percebe que a atividade deve ser melhor explorada, considerando o contexto de Santo Antônio de Lisboa, como um ambiente cultural, ligado às artes e repleto de casarios históricos que podem ser melhor utilizados.
Se for baseada em princípios de desenvolvimento sustentável, esta atividade poderá adquirir grande relevância. Caso contrário, passa a ser uma atividade exploratória e prejudicial ao ambiente podendo causar a especulação imobiliária, mudanças de hábitos e cultura, e, descaracterização do local.
Quando a atividade é aceita e aceita os valores da comunidade, há então o beneficiamento do local e melhorias à comunidade.
Portanto, acredita-se que seja necessário a realização de um estudo para delinear o tipo de turista e turismo que a localidade almeja então divulgar o local e preservar o patrimônio e o meio ambiente.
Lembrando Angeli (1996), temos a percepção de que o turismo tem como importância o atendimento das necessidades dos elementos envolvidos à atividade.
5.3 Santo Antônio como foco de turismo e visitação
Santo Antônio é considerado foco de visitação (e não de turismo) devido às características residenciais, falta de balneabilidade da praia, ao pequeno número de meios de hospedagem e consequentemente, conforme ressaltado por Rafael Rigotto, devido à conceituação de turista - que é aquela pessoa que permanece no local por mais de 24 horas.
Conforme a pesquisa realizada, Santo Antônio de Lisboa sempre foi foco de visitação, porém, em menor escala. Anteriormente, a visitação ocorria provocada pelo apelo histórico do bairro devido à arquitetura preservada ( na presença da igreja e casarios históricos), Festa do Divino, Boi-de-mamão e demais manifestações populares.
A década de 80 foi fundamental para o desenvolvimento da atividade, foi quando houve a conscientização da necessidade de preservar o patrimônio seguida da maior valorização da natureza e cultura
A partir de 1987 (dois anos após a instalação da Casa Açoriana) ocorreu o aumento da visitação do bairro - que anteriormente a visitação era direcionada aos restaurantes do Sambaqui -. É opinião comum de muitos dos entrevitados, que a Casa Açoriana incentivou o desenvolvimento de trabalhos de artesões locais, o ressurgimento dos eventos folclóricos e a conscientização dos valores da comunidade.
Elementos como o Boi-de-mamão Mão de Pilão, a igreja, a Casa Açoriana e posteriormente a gastronomia colocaram Santo Antônio na mídia.
De acordo com a SETUR, Santo Antônio obteu destaque a firmação nos roteiros de visitação a partir do desenvolvimento da maricultura e gastronomia.
A Prefeitura e a Associação de maricultores do bairro, acreditam que com o desenvolvimento da maricultura houve a definição como ponto de visitação devido aos postos de venda, cultivo e degustação (restaurantes). A atividade, que anos atrás tinha dificuldades de comercializar e divulgar sua produção, foi incentivada com a criação da Feira Nacional da Ostra (FENAOSTRA), evento que ocorre anualmente em Florianópolis. Os resultados do evento foram favoráveis tanto aos criadores, que ampliaram seu mercado, como para o bairro de Santo Antônio de Lisboa como um todo, que hoje passou a receber visitantes curiosos pelo processo de cultivo bem como a sua utilização gastronômica.
Verificou-se também, o maior fluxo de visitantes a partir da melhoria da infra-estrutura e ampliação da divulgação - apesar da comunidade acreditar que necessite um maior esforço nesses âmbitos.
Santo Antônio de Lisboa, atualmente, é um importante ponto gastronômico da Ilha de Santa Catarina, além de reduto cultural e artístico.
Segundo a percepção do artista e empreendedor Claúdio Andrade, "Santo Antônio está na moda!"
5.4 O turismo e a comunidade local
De uma forma geral há a crença de que o turismo não expulsou a comunidade, mas também trouxe os turistas para residir no local, - pessoas de culturas e valores diferentes gerando a especulação imobiliária.
A especulação imobiliária de certa maneira trouxe a substituição do elemento humano, a comunidade vendeu os terrenos da orla - tirando o pescador da beira da praia - e em parte mudou-se para parte interna do bairro
Muitas pessoas venderam suas terras em busca de um retorno financeiro rápido e passaram a "vivem de aluguel", mudaram-se para locais onde predomina o menor poder aquisitivo, ou até mesmo ficaram miseráveis devido à uma falta de fonte de renda. Uma das grandes conseqüências foi na estrutura familiar que foi abalada por um desequilíbrio.
Como exemplo foram citados casos de pessoas que se desfizeram de suas propriedades em busca de mais conforto, famílias que mudaram-se para o Centro Habitacional da COHAB, no Saco grande, pois lá teriam apartamentos acarpetados e morariam próximos ao comércio. Outros ficavam impressionados pelo valor dos terrenos, venderam e hoje trabalham de caseiros nessas terras, para poder sobreviver. No entanto, foi salientado que não foi a maioria .
Em outros casos, como declara a rendeira Rose Andrade: "As pessoas que venderam voltaram arrependidas... Quem ama o seu patrimônio não vende!" .
Logo, conforme a SETUR, o turismo pode ter ser considerado fator de expulsão dos moradores a partir do momento em que a imagem de "lugar aprazível" gerou a especulação imobiliária e daí a comunidade local passou a ser marginalizada.
De acordo com moradores, a divulgação da qualidade de vida e do turismo trouxe pessoas de boa e má índole que alteraram a realidade presente. As pessoas do bairro deixaram de ser conhecidas umas pelas outras.
Para outros, o turismo não expulsou a comunidade local pois já existia a consciência sobre o valor e papel de Santo Antônio de Lisboa. Podendo sim, ser observada a inserção de elementos como infra-estrutura, telefone e luz, que foram conquistas comunitárias. Portanto, segundo Janga, a melhoria da qualidade de vida foi perceptível.
Todavia, para Cid Mesquita, as mudanças no local e modo de viver podem ter sido, também, conseqüência das inovações.
5.5 A Utilização do Patrimônio na Atividade Turística
De uma forma geral, acredita-se que a utilização dos patrimônios seja essencial à atividade turística, pois há a necessidade de desenvolvimento de outros atrativos que não só o mar. Portanto, a utilização dos patrimônios histórico, artístico cultural e natural e alternativas de entretenimento devem ser incentivadas para incrementar o produto turístico.
De acordo com o IPUF, existe um grande potencial de utilização dos patrimônios a ser desenvolvido sustentavelmente através dos monumentos arquitetônicos, da comunidade artística local (que é expressiva) e do apelo cultural.
Para membros da comunidade, o patrimônio pode ser melhor explorado, uma vez que hoje existe um alto potencial de uso que é acompanhado de uma exploração desordenada. Para eles o a preservação do patrimônio está "...um pouco esquecida pelos órgãos competentes...", declarou a rendeira e moradora Rose Andrade, precisando então ter uma maior atenção para a valorização
Como exemplo citado por Cla, aparece a criação da Fundação Clara Manso de Avelar que veio da percepção comunitária da necessidade de preservar o patrimônio. Conforme declarações a preservação é fundamental para garantir a continuidade da atividade turística, e, portanto o governo também deveria ter essa percepção
Para alguns investidores, a utilização dos patrimônios é péssima pois não existe interesse por parte de empresas e guias turísticos em deslocar o turista e excursões ao local, devido à ausência de comisionamento Da mesma forma, é pequeno o número de turistas que tem interesse em fazer o turismo histórico ou cultural. Segundo relatos, há a crença de que o turismo somente acontece quando há o interesse de agentes para deslocar o visitante ao local para tanto deveria haver incentivos para o deslocamento de grupos maiores de pessoas - o que vem a sugerir que deveria ocorrer o turismo de massa.
Conforme a SETUR, devido a Santo Antônio não ser foco de turismo mas sim de visitação, o bairro então deve ser vendido no contexto do "Destino Florianópolis". Desta forma, cerca de 30% da divulgação realizada pelo município é baseada no turismo histórico, e é nesse momento que Santo Antônio de Lisboa aparece ao turista.
Grandes motivos à utilização do patrimônio são apresentados também pelos autores. Rodrigues (1997) argumenta que há uma tendência de cada vez mais a população demonstrar interesse com o meio ambiente, nos levando à crer no desenvolvimento do ecoturismo. Enquanto Troisi (apud ARRILAGA, 1976) e Andrade (1995), que argumentam que as razões à realização do turismo podem ser culturais ou intelectuais - ressaltando então a importância dos patrimônios histórico e artístico cultural.
O patrimônio natural é percebido como bem preservado. No entanto, o mesmo é visto como mal explorado e carente infra-estrutura que possibilite a sua utilização para a recepção de visitantes.
Há uma necessidade de leis que rejam a sua utilização. No que refere-se às águas é necessário equilibrar a presença de marinas, esportes aquáticos, maricultura, transportes aquáticos. No espaço terrestre deve existir a legislação que preserve e regulamente a utilização das APP´s, da Estação Ecológica Carijós, das áreas de mangue.
Apesar da fiscalização atuante da prefeitura, a situação ainda deixa a desejar. Muitas casas são construídas com areia de mangue, existem esgotos irregulares, e, a pesca predatória prejudica o ecossistema e a pesca artesanal.
Acredita-se também que cultura náutica pode ser desenvolvida de forma a coexistir com as demais atividades. Santo Antônio de Lisboa, por estar localizado em uma Ilha e ser favorável à atividade náutica, deveria contar com uma melhor estrutura para tal atividade.
Há também a necessidade de incentivar e promover o desenvolvimento da idéia da Costa do Sol Poente, que valoriza o fato de Santo Antônio de Lisboa ser um dos locais mais privilegiados para a observação do pôr-do-sol.
Há a percepção da comunidade, de uma certa dificuldade em obter autorização para reformar as casa tombadas, que são poucas devido às alterações sofridas com a especulação imobiliária, troca de material e eventos como a procura de ouro nas paredes.
Do ponto de vista da comunidade, deveria existir a cultura de incentivo fiscal para preservação através da isenção do IPTU. Seria importante ocorrer a conscientização da relevância do turismo histórico como oportunidade dos visitantes conhecerem história da colonização.
O patrimônio existente (os casarios, a igreja, o Engenho, a alfândega) é visto como subtilizado.
Existe uma série de casarões que poderiam ser adequados para a instalação de centros culturais. Uma vez que o Centro Integrado de Cultura – CIC -, não é visitado pela população de fato.
Há uma grande preocupação entorno Sobrado do Imperador. Acredita-se que o IPUF deveria incentivar a sua reconstrução na versão original - que é de dois pavimentos, porém a legislação atual somente permite a construção de um andar. Para tal construção existem diversas sugestões de uso, tal como para centro cultural, restaurante ou museu.
A igreja necessita de restaurações e amplificação da segurança uma vez que a mesma já fora assaltada por repetidas vezes tendo suas imagens levadas. Acredita-se também, que o espaço poderia ser transformado em um museu de arte sacra - por ser um elemento de grande representação histórica - ou até mesmo em teatro pois a cidade carece de tal estrutura.
Quanto ao patrimônio histórico, cabe ressaltar o posicionamento de Angeli (1996) de que o mesmo é criado pelo homem com a finalidade que não é turística, necessita de conservação, se modificado perde o seu valor, a identificação do valor histórico é difícil pois os critérios nem sempre obdecem a mesma lógica, porém, uma vez identificados o poder público deve preocupar-se com a sua preservação.
5.5.3 Patrimônio Artístico Cultural
Há uma grande variedade cultural e artística que tem como pontos fortes as danças típicas (boi-de-mamão e pau-de-fita), as festas religiosas (Festa do Divino e Festa da Cruz), os trabalhos artesanais (cerâmicas, pinturas, renda de bilro e balaios), a gastronomia típica (pirão, risoto, utilizações dos frutos do mar), a maricultura e os locais de exposição (Feira das Alfaias e Casa Açoriana)
A Casa Açoriana, conforme relatos, reforça a cultura pois o seu proprietário, o Janga, busca o resgate de eventos como a Festa do Divino, o pau-de-fita, o boi-de-mamão, além de aspectos pitorescos da cultura local.
A Feira das Alfaias - evento que ocorre semanalmente nas tardes de Sábado -é percebida como uma grande oportunidade para os artesões exporem sua produção. No entanto, ultimamente grandes discussões tem ocorrido em torno da sua organização, regulamentação, limitação de expositores e trabalhos a serem expostos (acredita-se que somente trabalhos que manifestem a cultura local devam ser expostos).
Em relação aos eventos e danças típicas, há uma percepção de que apesar da comunidade mantê-los há pouco incentivo e divulgação ao visitante.
A gastronomia hoje é o maior atrativo da localidade e é visto como manifestação cultural, ao ponto que por meio da mesma a comunidade demonstra a sua herança gastronômica, como são os frutos a base de frutos do mar.
A maricultura também é um elemento do turismo, que o visitante tem o interesse em conhecer os ranchos, o processo de criação e consumir os frutos do mar.
Ocorrem questionamentos sobre a carência de uma interpretação da influencia dos primeiros comerciantes, que eram turcos, libaneses. Além do fato da Farra do Boi ser proibida apesar de característica da Ilha.
De uma forma geral, observa-se que a cultura tem o papel de dar a cidadania à comunidade, a partir do momento em que a mesma se vê refletida nas obras e manifestações despertando para os seus valores.