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Armazenamento de pêssegos, cv. Chiripá, em atmosfera controlada (página 2)

Brackmann, Auri

 

A ocorrência de escurecimento interno é usualmente mais severa em frutas mantidas de 3 a 5°C do que a 0°C

(ANDERSON, 1979). Conforme MITCHELL et al. (1974), a temperatura de 0°C é a mais indicada para o armazenamento de pêssegos, pois retarda a perda de firmeza de polpa e a ocorrência de escurecimento interno e lanosidade.

Procedimentos, como o uso da atmosfera controlada (AC), podem reduzir a ocorrência destes distúrbios fisiológicos em pêssegos, contudo a ótima combinação de O2 e CO2 variam em função das cultivares e das condições de crescimento (ZOFFOLI et al. 1997). Os mesmos autores encontrou uma significante e negativa correlação (r=-0,92) em relação ao aumento da concentração de CO2 e o desenvolvimento da lanosidade e também afirma que a redução do O2 está envolvida no escurecimento dos fenóis e enzimas que participam nos processos relacionados à manifestação do escurecimento interno. ERIS et al. (1994) estudaram diferentes concentrações de O2 e CO2 em pêssegos cv. Hale Haven e concluíram que todos os tratamentos em AC promoveram melhor qualidade dos frutos do que em refrigeração, sendo que 2kPa de O2 e 10 ou 5kPa de CO2 foram as melhores combinações de gases. O armazenamento em AC retém a firmeza da polpa, acidez titulável e diminui a incidência de escurecimento interno (CERETTA, 1999), além disso, a AC pode reduzir a ocorrência de podridões (KADER, 1986; PURVIS, 1993).

Entretanto, os tecidos das frutas podem ser danificados pelo metabolismo anormal das células, induzido pelas altas concentrações de CO2 e baixas de O2, acumulando produtos metabólicos prejudiciais, que podem dar origem ao escurecimento interno (WANKIER et al., 1970). De acordo com KADER et al. (1989), pêssegos toleram uma concentração mínima de 2kPa de O2 e máxima de 5kPa de CO2. PURVIS (1993) verificou, na temperatura de 1°C por 25 dias e mais três dias a 15°C, que a concentração de 1kPa de O2 e 2,5kPa de CO2 provocou escurecimento interno em pêssegos. Por outro lado, LIZANA et al. (1996) não obtiveram resultados no controle da lanosidade usando atmosfera controlada com 5kPa de O2 e 10kPa de CO2.

Desta maneira, o objetivo do trabalho foi de avaliar o efeito da temperatura e condições de atmosfera controlada durante o armazenamento, sobre a qualidade de pêssegos cv. Chiripá.

4. Material e métodos

O experimento foi conduzido no Núcleo de Pesquisa em Pós-colheita (NPP) do Departamento de Fitotecnia da UFSM, com pêssegos cv. Chiripá, provenientes de pomar comercial do município de Pinto Bandeira, RS. Os frutos apresentavam, no momento da colheita, firmeza de polpa em 40N e SST de 13,8°Brix.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com cinco tratamentos e três repetições de 15 frutos cada. Os tratamentos avaliados foram: AC - 2kPa de O2 e 5kPa de CO2; AC - 2kPa de O2 e 3kPa de CO2; AC - 1kPa de O2 e 3kPa de CO2; AR - 21kPa de O2 e 0,0kPa de CO2 na temperatura de 0°C e; AR - 21kPa de O2 e 0,0kPa de CO2 na temperatura de -0,5°C. Após a seleção e homogeneização das amostras, estas foram acondicionados, aproximadamente 12 horas após a colheita, em minicâmaras hermeticamente fechadas, para os tratamentos em AC. Em AR, as minicâmaras permaneceram semi-abertas para a manutenção de alta umidade relativa, que permaneceu em torno de 96%, tanto em AR como em AC. Nas minicâmaras de AR foram colocados dois envelopes, com aproximadamente 1kg de cal hidratada cada, para absorção do CO2 produzido pelos pêssegos. Antes do armazenamento, os frutos foram tratados com Benomyl (30g.100 L-1 de água).

O controle diário da temperatura foi realizado com termômetros de mercúrio, inseridos na polpa de frutos. Esta variou ±0,2°C. Diariamente também, foi realizada uma medição das concentrações dos gases das minicâmaras de AC, através de um analisador de gases marca Agridatalog. O oxigênio consumido pelos frutos, em função do metabolismo, era reposto nas minicâmaras através da injeção de ar e o CO2 produzido era absorvido por uma solução de hidróxido de potássio (40%). As concentrações de O2 e CO2 foram transformadas em pressões parciais, na relação que 1% de O2 é aproximadamente equivalente a 1kPa de O2, na altitude de Santa Maria (95m), da mesma maneira para o CO2.

As avaliações foram efetuadas aos 20 dias de armazenamento e após dois dias de exposição à temperatura de 27oC, para simulação do período de comercialização. Foi determinado: a) a firmeza de polpa com penetrômetro motorizado com ponteira 5/16 polegadas, em dois lados opostos na região equatorial dos frutos após a retirada da epiderme; b) a acidez titulável, por titulação de 10 mL de suco diluídos em 100mL de água destilada, com solução de NaOH 0,1N até pH 8,1; c) o teor de sólidos solúveis totais (SST) através de um refratômetro manual a partir do suco de amostras de frutos e; d) ocorrência de podridões pela percentagem de frutos que apresentavam lesões com diâmetro igual ou maior que 0,3cm, com características típicas de ataque de fungos.

Os dados foram submetidos à análise da variância e as médias comparadas pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade de erro.

5. Resultados e discussão

Após 20 dias de armazenamento (Tabela 1), foi observado que a firmeza de polpa dos pêssegos armazenados em AC diminuiu pouco ao até mesmo não diminuiu em relação à firmeza na colheita (40 N). No entanto, após dois dias de exposição à temperatura ambiente (Tabela 2) ocorreu intensa erda da firmeza, prejudicando a qualidade para consumo. Comportamento semelhante foi observado em pêssegos cv. BR1 sob armazenamento refrigerado a 0°C por 28 dias (GOTTINARI, 1997). Conforme este autor, as causas prováveis desta intensa perda de firmeza durante este período são o aumento da temperatura e o estresse pelo frio. LEVIÈRE et al. (1995) demonstraram que, se por um lado a frigoconservação prolonga o período de conservação, por outro, atua como estímulo acelerador do processo de degradação sub-celular quando os frutos são transferidos à temperatura de 20 a 25°C. Além disso, este fato foi observado em todos os tratamentos e, por isso, deve estar relacionado ao estádio de maturação na colheita, bastante avançado para o armazenamento.

 

A menor firmeza de polpa, na saída da câmara, ocorreu em frutos do armazenamento refrigerado (AR), mas não houve diferença significativa em relação às condições de AC com 2kPa de O2 e 3 ou 5kPa de CO2, sendo que 1kPa de O2 e 3kPa de CO2 proporcionou melhor manutenção da firmeza em ambas as análises (Tabelas 1 e 2). Em pêssegos cv. Eldorado, CERETTA (1999) obteve resultados semelhantes. O uso de 1kPa de O2 é mais efetivo na redução da taxa de amadurecimento dos frutos do que 2kPa, ou do que o aumento da pressão parcial de CO2 de 3 para 5kPa.

Com relação a acidez titulável, não foram verificadas diferenças significativas entre os tratamentos na saída dos frutos das câmaras (Tabela 1), mas após dois dias de exposição à temperatura ambiente (Tabela 2), a atmosfera controlada com 1kPa de O2 e 3kPa de CO2 manteve a acidez em valores elevados. A redução da pressão parcial de O2 e o aumento da pressão parcial de CO2 inibem enzimas responsáveis pela degradação dos ácidos (HULME, 1971) e reduz a atividade das oxidases da cadeia respiratória (INABA, 1993), provocando o decréscimo do metabolismo respiratório.

Quanto ao teor de SST, de maneira geral, ocorreram em alguns tratamentos, acréscimos nos valores em relação à colheita (13,8°Brix) (Tabelas 1 e 2). Provavelmente, em função do aumento na concentração de substâncias solúveis, como pectinas, decorrentes da degradação das pectinas da parede celular, pois, após dois dias de exposição à temperatura ambiente, o tratamento que perdeu mais firmeza foi o que apresentava maior SST (2kPa de O2 e 5kPa de CO2) e o que perdeu menos firmeza (1kPa de O2 e 3kPa de CO2) foi o que apresentou menor SST.

 

A ocorrência de podridões foi observada somente após à exposição à temperatura ambiente, tanto nos frutos armazenados em AC quanto no AR à temperatura de 0°C (Tabela 2). A alta pressão parcial de CO2 (5kPa) e a menor pressão parcial de O2 (1kPa) possibilitaram um controle na incidência de podridões.

Entre as temperaturas testadas no armazenamento refrigerado, não houve diferenças estatísticas significativas na firmeza de polpa, acidez titulável e teor de SST, possivelmente devido a pouca amplitude (0,5°C) entre as temperatura. No entanto, na temperatura de -0,5°C, as incidência de podridões foi menor, quando comparada com a temperatura de 0°C no armazenamento refrigerado.

Não foi observado ocorrência de escurecimento interno e anosidade. Possivelmente em função da temperatura adequada e do curto período de armazenamento, já que a ocorrência destes distúrbios também está relacionada ao tempo de exposição à baixa temperatura. Além disso, o estádio de maturação influencia a ocorrência de lanosidade, sendo que pêssegos colhidos verdes (80 N de firmeza) têm a incidência de lanosidade mais severa (VISAGIE & EKSTEEN, 1981), diferentemente da condição de maturação dos pêssegos utilizados neste experimento.

6. Conclusões

O armazenamento em atmosfera controlada com 1kPa de O2 e 3kPa de CO2 na temperatura de 0°C propicia melhor manutenção da firmeza de polpa e acidez titulável de pêssegos cv. Chiripá colhidos com 40N de firmeza da polpa. Para o armazenamento refrigerado, a temperatura de -0,5°C é a mais apropriada, pois diminui a incidência de podridões.

7. Referências bibliográficas

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Brackmann, Brackmann, Auri1; Waclawovsky, Alessandro Jaquiel1; Mazaro, Sérgio Miguel2; Ceretta, Marcelo3 - brackman[arroba]creta.ccr.ufsm.br

1UFSM, Depto. de Fitotecnia, 97.105-900 – Santa Maria, RS. *e-mail: 2Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul/SC. 3UFPel/FAEM Campus Universitário, Cx Postal 354 CEP 96010.900 Pelotas - RS. (Recebido para publicação em 11/08/2000)



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