Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 

Armazenamento de maçã CV. Gala em atmosfera controlada (página 2)

Angelo Pedro Jacomino; Ricardo Alfredo Kluge; Auri Brackmann; Paulo Roberto

 

Nas avaliações foram analisados os seguintes parâmetros de qualidade:

a) Firmeza da polpa: Determinada com auxílio do penetrômetro motorizado com ponteira de 11mm de diâmetro, em dois lados na região equatorial do fruto, onde previamente foi retirada a epiderme.

b) O teor de amido da metade peduncular dos frutos foi avaliado no início do experimento, utilizando a tabela de fotografias desenvolvida por STREIF (1984), onde o índice 01 indica o teor máximo de amido e o índice 10 representa amido totalmente hidrolisado.

c) Sólidos solúveis totais (SST): Determinação realizada com o refratômetro manual e a leitura corrigida em função do efeito da temperatura.

d) Acidez titulável: utilizou-se 10 ml de suco que foram diluídos em 100 ml de água destilada e após titulados com uma solução de hidróxido de sódio 0,1N até pH 8,1.

e) Para a avaliação da ocorrência de degenerescência interna foram realizados vários cortes na secção transversal dos frutos e determinada através da contagem de frutos com qualquer tipo de sintoma de escurecimento na polpa.

f) A avaliação da podridão foi feita através da contagem dos frutos afetados interna e externamente.

Foram considerados podres os frutos com lesões maiores que 5mm de diâmetro.

g) A rachadura dos frutos foi determinada através da contagem de frutos com a epiderme e/ou polpa rachada. Os frutos que apresentavam incidência de podridões e rachaduras ao mesmo tempo foram contabilizados como podres e rachados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A firmeza de polpa dos frutos avaliados logo na abertura das câmaras (Tabela 1) foi similar em todas as condições de armazenamento, contrariando os resultados de PORRIT (1966), ANDERSON (1967) e NORTH & COCKBURN (1978) que afirmam que o CO2 mantém a firmeza mais elevada em maçãs. Na segunda avaliação (Tabela 3), após 10 dias da abertura das câmaras, os tratamentos 0%CO2/1%O2 e 4%CO2/1%O2 com armazenamento retardado apresentaram firmeza de polpa mais elevada, embora não diferindo estatisticamente dos outros tratamentos.

Houve uma tendência dos tratamentos com 2% de oxigênio apresentarem firmeza mais baixa que os frutos em 1% de O2. O efeito do baixo oxigênio sobre a manutenção da firmeza em maçãs foi verificado por vários autores (LIDSTER et al., 1980; BOHLING & HANSEN, 1985; BENDER, 1989; LAU, 1989; LAU, 1990; ARGENTA et al., 1994).

A acidez titulável apresentou valores semelhantes em todos os tratamentos na abertura das câmaras (Tabela 1), porém, após 10 dias (Tabela 3), os tratamentos com baixo O2 (1%) mantiveram valores mais elevados, confirmando os resultados de LIDSTER et al. (1980) com a cv. McIntosh e BENDER (1989) com a cv. Gala.

Na avaliação do teor de sólidos solúveis totais os tratamentos avaliados foram estatisticamente iguais nas duas datas de avaliação. LIDSTER et al. (1980) também não verificaram diferenças significativas nos SST em decorrência do baixo O2 (1,0 a 1,5%). Tais resultados discordam de de BENDER (1989) que obteve SST mais elevados na cv. Gala com oxigênio abaixo de 2%.

A rachadura dos frutos (Tabela 2), foi acentuada no tratamento com baixo CO2 (0%CO2/1%O2) e com retardamento do armazenamento, demonstrando que a rachadura é um fenômeno ligado à maturação avançada dos frutos, como afirma EBERT (1986). A redução da umidade relativa do ar nos últimos meses de armazenamento não reduziu a frequência de rachadura dos frutos.

AC Distúrbio Fisiológico Frutos Os tratamentos com alto CO2 (3 a 6%) e/ou baixo O2 (1%), apresentaram menores incidência de podridões (Tabela 2). Segundo SOMMER et al. (1981), reduções modestas no crescimento de fungos ocorrem quando o CO2 está acima de 5%, sendo que reduções maiores ocorrem com o O2 abaixo de 2%. O tratamento com retardamento do armazenamento, também apresentou grande incidência de podridão, provavelmente devido a maturação avançada dos frutos, que os tornou mais sensíveis aos fungos.

SCHUHMACHER (1975) e STREIF (1985), também observaram que a maçã após a colheita deve ser armazenada em AC tão logo possível para evitar a ocorrência de podridões.

A degenerescência da polpa está relacionada com os altos teores de CO2 (Tabela 2), o que condiz com MEHERIUK (1990), que afirma ser esta cultivar sensível ao CO2. No tratamento com 4%CO2/1%O2 e baixa umidade relativa, o dano foi menos intenso do que naquele com alta umidade, havendo uma relação inversa da umidade com a incidência do distúrbio, como afirmam SCOTT et al. (1964), SCOTT & ROBERTS (1967), MARTIN et al. (1967) e PORRIT & MEHERIUK (1973). Após 10 dias de simulação de beneficiamento e comercialização, não houve diferença entre as duas UR quanto à degenerescência.

Os percentuais de frutos sadios, na maioria dos tratamentos não diferiram estatisticamente entre si, embora o tratamento com 0%CO2/1%O2 apresentou os melhores resultados (Tabela 3) após 10 dias da abertura das câmaras de AC, com 62,9%. Este tratamento também apresentou, na oportunidade, os maiores valores de firmeza de polpa, acidez titulável e SST entre os tratamentos avaliados. No entanto, outros autores recomendam outras concentrações de CO2/O2 (HANSEN & ZANON, 1982), 3%CO2/1%O2 (BENDER, 1989; MEHERIUK, 1990), 4%CO2/1,5 a 3%O2 (STREIF, 1990) e 3%CO2/1,6%O2 (MEHERIUK, 1993).

Tendo em vista a carência de informações sobre o armazenamento da cv. Gala em AC no Brasil, sugerimos que estes resultados sejam utilizados com cautela pelas empresas armazenadoras de maçã, pois investigações científicas complementares são necessárias.

CONCLUSÕES

A condição de armazenamento em AC com 0%CO2 e 1%O2 proporciona os maiores percentuais de frutos sadios, além de boa firmeza e níveis elevados de SST e acidez titulável, após 265 dias, incluindo a simulação de beneficiamento e comercialização.

A baixa UR no final do armazenamento não traz efeitos benéficos sobre a redução dos índices de rachadura e podridões, mas diminui o escurecimento da polpa.

O retardamento do armazenamento proporciona altos percentuais de podridões, indicando que os frutos devem ser colhidos e armazenados rapidamente.

A degenerescência da polpa aumenta com o incremento das concentrações de CO2 nas câmaras de AC.

AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e a empresa Renar, pelo financiamento deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERSON, R. E. Experimental storage of Easterngrown 'Delicious' apples in various controlled atmosphere. Proc. Amer. Soc. Hort. Sci., v.91, p.810- 820, 1967.

ARGENTA, L. C., BRACKMANN, A., MONDARDO, M. Qualidade pós-colheita de maçãs armazenadas sob diferentes temperaturas e concentrações de CO2 e O2. R. Bras. Fisiol. Veg., São Carlos, v.6, n.2, p.121-126, 1994.

BENDER, R. J. Controlled atmosphere storage of apples cv. Gala in southern Brazil. Acta Horticulturae, Wageningen, v.258, p.221-223, 1989.

BOHLING, H., HANSEN, H. Untersuchungen ueber das Lagerungsverhalten von Äpfeln in Kontrollierten Atmosphaeren mit sehr niedrigen Sauerstoffanteilen. Erwerbsobstbau, Berlin, v.27, n.4, p.80-4, 1985.

BRACKMANN, A. Produção de etileno, CO2 e aroma de cultivares de maçã. Rev. Bras. de Frutic., Cruz das Almas, v.14, n.1, p.103-108, 1992.

EBERT, A. Distúrbios fisiológicos. In: Manual da Cultura da Macieira. Florianópolis,EMPASC, 1986, p.493- 520.

FORSYTH, F. R., EAVES, C. A. Ripening of apples in C.A. storage, low or high ethylene levels and medium or high humidity levels. In:COLLOQUES INTERNATIONAUX DU CENTRE NATIONAL DE LA RECHERCHE SCIENTIFIQUE: FACTEURS ET RÉGULATION DE LA MATURATION DES FRUITS. Paris, v.238, p.67-72, 1974.

HANSEN, H., ZANON, K. Apfelsorte 'Gala' und ihre Mutante 'Royal Gala'. Erwerbsobstbau, Berlin, v.24, p.105-108, 1982.

LAU, O. L. Responses of British Columbia-grown apples to low-oxygen and low-ethylene controlled atmosphere storage. Acta Horticulturae, Wageningen, v.258, p.107-114, 1989.

LAU, O. L. Tolerance of three apple cultivars to ultra-low levels of oxygen. HortScience, Alexandria, v.25, n.11, p.1412-1414, 1990.

LIDSTER, P. D., FORSYTH, F. R., LIGHTFOOT, H. J. Low oxygen and carbon dioxide atmospheres for storge of McIntosh apples. Can. J. Plant. Sci., Ottawa, v.60, p.299-301, 1980.

LIDSTER, P. D. Storage humidity influences fruit quality and permeability to ethane in 'McIntosh' apples stored in diverse controlled atmospheres . J. Amer. Soc. Hort. Sci., Alexandria, v.114, n.1, p.94-96, 1990.

MARTIN, D., LEWIS, T. L., CERNY, J. Nitrogen metabolism during storage in relation to breakdown of apples. I. Changes in protein nitrogen level in relation to incidence. J. Agr. Res., Austral., v.18, p.271-278, 1967.

MEHERIUK, M. Controlled atmosphere storage of apples: a survey. Postharvest News and Informations. Inglaterra, v.1, n.2, p.119-121, 1990.

MEHERIUK, M. CA storage conditions for apples, pears and nashi. In: CA'93, SIXTH INTERNATIONAL CONTROLLED ATMOSPHERE RESEARCH CONFERENCE. Proceedings., New York, v.2, p.832, 1993.

NORTH, C. J., COCKBURN, J. T. Effects of increased concentrations of CO2 on the storage of Cox'Orange Pippin apples in 1%O2. Report of East Malling Research Station for 1977, p.146-147, 1978.

PORRIT, S. W. The effect of oxygen and low concentrations of carbon dioxide on the quality of apples tored in controlled atmosphere. Can . J. Plant. Sci., Ottawa, v.46, p.317-321, 1966.

PORRIT, S. W., MEHERIUK, M. Influence of storage humidity and temperature on breakdown in Spartan apples. Can. J. Plant. Sci., Ottawa, v.53, p.597-599, 1973.

SCHUHMACHER, R. Die Fruchtbarkeit der Gehölze. Ulm, Ulmer, 1975, 197p.

SCOTT, K. J., HALL, G. E., ROBERTS, E. A. Some effects of the composition of the storage atmosphere on the behavior of apples stored in polyethylene bags. J. Expt. Agr. & Anim. Husb., Austral., v.4, p.253- 259, 1964.

SCOTT, K. J., ROBERTS, E. A. Breakdown in Jonathan and Delicious apples in relation to weight loss during cool storage. J. Expt. Agr. & Anim. Husb., Austral., v.7, p.87-90, 1967.

SOMMER, N. F., FORTLAGE, R. J., BUCHANAN, J. R., KADER, A. A. Effect of oxygen on carbon monoxide suppression of postharvest pathogens of fruits. Plant Disease, USA, v.65, n.4, p.347-349, 1981.

STREIF, J. Jod-Stärke-Test zur Beurteilung der Fruchtreife bei Äpfeln. Obst und Garten, Stuttgart, n.8, 1984.

STREIF, J. Qualitätsprobleme bei Äpfellagerum. Obstbau, Alemanha, v.10, p.177-179, 1985.

STREIF, J. Hinweise zur Lagerung von Äpfeln. Obst und Garten, Stuttgart, v.10, p.480, 1990.

BRACKMANN, Auri & SAQUET, Adriano A.
brackmann[arroba]ccr.ufsm.br

UFSM/CCR/Deptº de Fitotecnia, Núcleo de Pesquisa em Pós-Colheita - Campus Universitário - CEP 97119-900 - Tel. (055) 221 1616, Santa Maria, RS, Brasil.
(Recebido para publicação em 20/06/95).



 Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.