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Nas avaliações foram analisados os seguintes parâmetros de qualidade:
a) Firmeza da polpa: Determinada com auxílio do penetrômetro motorizado com ponteira de 11mm de diâmetro, em dois lados na região equatorial do fruto, onde previamente foi retirada a epiderme.
b) O teor de amido da metade peduncular dos frutos foi avaliado no início do experimento, utilizando a tabela de fotografias desenvolvida por STREIF (1984), onde o índice 01 indica o teor máximo de amido e o índice 10 representa amido totalmente hidrolisado.
c) Sólidos solúveis totais (SST): Determinação realizada com o refratômetro manual e a leitura corrigida em função do efeito da temperatura.
d) Acidez titulável: utilizou-se 10 ml de suco que foram diluídos em 100 ml de água destilada e após titulados com uma solução de hidróxido de sódio 0,1N até pH 8,1.
e) Para a avaliação da ocorrência de degenerescência interna foram realizados vários cortes na secção transversal dos frutos e determinada através da contagem de frutos com qualquer tipo de sintoma de escurecimento na polpa.
f) A avaliação da podridão foi feita através da contagem dos frutos afetados interna e externamente.
Foram considerados podres os frutos com lesões maiores que 5mm de diâmetro.
g) A rachadura dos frutos foi determinada através da contagem de frutos com a epiderme e/ou polpa rachada. Os frutos que apresentavam incidência de podridões e rachaduras ao mesmo tempo foram contabilizados como podres e rachados.
A firmeza de polpa dos frutos avaliados logo na abertura das câmaras (Tabela 1) foi similar em todas as condições de armazenamento, contrariando os resultados de PORRIT (1966), ANDERSON (1967) e NORTH & COCKBURN (1978) que afirmam que o CO2 mantém a firmeza mais elevada em maçãs. Na segunda avaliação (Tabela 3), após 10 dias da abertura das câmaras, os tratamentos 0%CO2/1%O2 e 4%CO2/1%O2 com armazenamento retardado apresentaram firmeza de polpa mais elevada, embora não diferindo estatisticamente dos outros tratamentos.
Houve uma tendência dos tratamentos com 2% de oxigênio apresentarem firmeza mais baixa que os frutos em 1% de O2. O efeito do baixo oxigênio sobre a manutenção da firmeza em maçãs foi verificado por vários autores (LIDSTER et al., 1980; BOHLING & HANSEN, 1985; BENDER, 1989; LAU, 1989; LAU, 1990; ARGENTA et al., 1994).
A acidez titulável apresentou valores semelhantes em todos os tratamentos na abertura das câmaras (Tabela 1), porém, após 10 dias (Tabela 3), os tratamentos com baixo O2 (1%) mantiveram valores mais elevados, confirmando os resultados de LIDSTER et al. (1980) com a cv. McIntosh e BENDER (1989) com a cv. Gala.
Na avaliação do teor de sólidos solúveis totais os tratamentos avaliados foram estatisticamente iguais nas duas datas de avaliação. LIDSTER et al. (1980) também não verificaram diferenças significativas nos SST em decorrência do baixo O2 (1,0 a 1,5%). Tais resultados discordam de de BENDER (1989) que obteve SST mais elevados na cv. Gala com oxigênio abaixo de 2%.
A rachadura dos frutos (Tabela 2), foi acentuada no tratamento com baixo CO2 (0%CO2/1%O2) e com retardamento do armazenamento, demonstrando que a rachadura é um fenômeno ligado à maturação avançada dos frutos, como afirma EBERT (1986). A redução da umidade relativa do ar nos últimos meses de armazenamento não reduziu a frequência de rachadura dos frutos.
AC Distúrbio Fisiológico Frutos Os tratamentos com alto CO2 (3 a 6%) e/ou baixo O2 (1%), apresentaram menores incidência de podridões (Tabela 2). Segundo SOMMER et al. (1981), reduções modestas no crescimento de fungos ocorrem quando o CO2 está acima de 5%, sendo que reduções maiores ocorrem com o O2 abaixo de 2%. O tratamento com retardamento do armazenamento, também apresentou grande incidência de podridão, provavelmente devido a maturação avançada dos frutos, que os tornou mais sensíveis aos fungos.
SCHUHMACHER (1975) e STREIF (1985), também observaram que a maçã após a colheita deve ser armazenada em AC tão logo possível para evitar a ocorrência de podridões.
A degenerescência da polpa está relacionada com os altos teores de CO2 (Tabela 2), o que condiz com MEHERIUK (1990), que afirma ser esta cultivar sensível ao CO2. No tratamento com 4%CO2/1%O2 e baixa umidade relativa, o dano foi menos intenso do que naquele com alta umidade, havendo uma relação inversa da umidade com a incidência do distúrbio, como afirmam SCOTT et al. (1964), SCOTT & ROBERTS (1967), MARTIN et al. (1967) e PORRIT & MEHERIUK (1973). Após 10 dias de simulação de beneficiamento e comercialização, não houve diferença entre as duas UR quanto à degenerescência.
Os percentuais de frutos sadios, na maioria dos tratamentos não diferiram estatisticamente entre si, embora o tratamento com 0%CO2/1%O2 apresentou os melhores resultados (Tabela 3) após 10 dias da abertura das câmaras de AC, com 62,9%. Este tratamento também apresentou, na oportunidade, os maiores valores de firmeza de polpa, acidez titulável e SST entre os tratamentos avaliados. No entanto, outros autores recomendam outras concentrações de CO2/O2 (HANSEN & ZANON, 1982), 3%CO2/1%O2 (BENDER, 1989; MEHERIUK, 1990), 4%CO2/1,5 a 3%O2 (STREIF, 1990) e 3%CO2/1,6%O2 (MEHERIUK, 1993).
Tendo em vista a carência de informações sobre o armazenamento da cv. Gala em AC no Brasil, sugerimos que estes resultados sejam utilizados com cautela pelas empresas armazenadoras de maçã, pois investigações científicas complementares são necessárias.
A condição de armazenamento em AC com 0%CO2 e 1%O2 proporciona os maiores percentuais de frutos sadios, além de boa firmeza e níveis elevados de SST e acidez titulável, após 265 dias, incluindo a simulação de beneficiamento e comercialização.
A baixa UR no final do armazenamento não traz efeitos benéficos sobre a redução dos índices de rachadura e podridões, mas diminui o escurecimento da polpa.
O retardamento do armazenamento proporciona altos percentuais de podridões, indicando que os frutos devem ser colhidos e armazenados rapidamente.
A degenerescência da polpa aumenta com o incremento das concentrações de CO2 nas câmaras de AC.
À Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e a empresa Renar, pelo financiamento deste trabalho.
ANDERSON, R. E. Experimental storage of Easterngrown 'Delicious' apples in various controlled atmosphere. Proc. Amer. Soc. Hort. Sci., v.91, p.810- 820, 1967.
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BRACKMANN, Auri & SAQUET, Adriano A.
brackmann[arroba]ccr.ufsm.br
UFSM/CCR/Deptº de Fitotecnia, Núcleo de Pesquisa em Pós-Colheita - Campus Universitário - CEP 97119-900 - Tel. (055) 221 1616, Santa Maria, RS, Brasil.
(Recebido para publicação em 20/06/95).
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