Armazenamento de maçã CV. Gala em atmosfera controlada

Enviado por Brackmann, Auri


RESUMO: O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito do armazenamento em atmosfera controlada(AC) sobre as qualidades físico-químicas da maçã 'Gala'. A temperatura de armazenamento foi de 0,5 °C e UR de 97%. As condições de AC foram: 0%CO2/1%O2, 3%CO2/1%O2, 4%CO2/1%O2, 6%CO2/1%O2, 4%CO2/2%O2, 6%CO2/2%O2, 4%CO2/1%O2 e UR de 93% nos últimos 2,5 meses e 4%CO2/1%O2 com armazenamento retardado dos frutos. Os frutos com armazenamento retardado permaneceram por quatro dias, entre a colheita e o início do armazenamento, em temperatura ambiente (25 °C). Após 8,5 meses de armazenamento não foi verificado influência de nenhum tratamento sobre o teor de sólidos solúveis totais (SST) e firmeza da polpa dos frutos. A condição de AC com 3%CO2/1%O2 proporcionou os maiores percentuais de frutos sadios no momento da retirada da câmara, porém, após cinco dias de armazenamento refrigerado mais cinco dias em temperatura ambiente foram verificados altos percentuais de degenerescência interna, como nos demais tratamentos com CO2, entre 3 a 6%. O maior percentual de frutos sadios após exposição em temperatura ambiente por cinco dias foi obtido com 0%CO2/1%O2. Os frutos com armazenamento retardado apresentaram alta incidência de podridões no final do armazenamento.

Palavras-chave: maçã 'Gala', armazenamento, atmosfera controlada, distúrbio fisiológico.

ABSTRACT: This experiment was carried out to evaluate the effect of the controlled atmosphere (CA) conditions on the quality of 'Gala' apple. The fruits was stored at 0.5 °C and 97% RH. The CA conditions were: 0%CO2/1%O2, 3%CO2/1%O2, 4%CO2/1%O2, 6%CO2/1%O2, 4%CO2/2%O2, 6%CO2/2%O2, 4%CO2/1%O2 plus 93% RH in the last 2.5 months and 4%CO2/1%O2 with delayed storage. The fruits with delayed storage were kept for four days on ambient temperature (25 °C) before storage. After 8.5 months of storage, CA conditions and RH did not influence the total soluble solids content (TSS) and firmness of fruits. The condition 3%CO2/1%O2 proporcionate larger percentage of healthy fruits by opening of CA chambers, however after five days in cold storage plus five days at shelf life high incidence of internal breakdown was observed. The largest percentage of healthy fruits after shelf life was obtained with 0%CO2/1%O2. The fruits with delayed storage showed high decay incidence.

Key words: apple, storage, controlled atmosphere, physiological disorder

INTRODUÇÃO

Em virtude do grande volume de produção da cv.

Gala, há necessidade de armazenamento para regular a oferta do produto durante o ano. Atualmente a maioria das empresas produtoras de maçãs utilizam o armazenamento em frio convencional, técnica que permite apenas quatro meses de conservação. Após longos períodos de armazenamento a polpa perde firmeza e sofre degenerescência, perdendo a suculência e apresentando textura farinhenta e, muitas vezes, os frutos apresentam rachaduras. Além disso, há uma degradação muito acentuada da acidez através da respiração, prejudicando o sabor. A rápida perda de qualidade em armazenamento refrigerado deve estar relacionado a alta taxa respiratória e altos indíces de produção de etileno dos frutos desta cultivar (BRACKMANN, 1992). O armazenamento em câmaras de AC parece ser a única alternativa para a conservação da cv. Gala por longos períodos.

Por ser uma cultivar relativamente nova, poucos trabalhos têm sido desenvolvidos com o objetivo de estudar as condições de armazenamento em frio e AC.

As concentrações de CO2/O2 adequadas para o armazenamento da maçã 'Gala' diferem em função do local e ano pesquisado. HANSEN & ZANON (1982) afirmam que, quando armazenada em atmosfera controlada, pode ser conservada por até oito meses, sugerindo concentrações de 6%CO2 e 3%O2, com temperatura de 1°C e UR de 90%. BENDER (1989) obteve os melhores resultados com 3,2%CO2/1,1%O2 e temperatura entre 0 e 1°C. De acordo com STREIF (1990), esta cultivar deve ser armazenada em temperatura de 1 a 2°C e concentrações de 4%CO2 e de 1,5 a 3,0%O2. Segundo MEHERIUK (1990), a condição adequada para o armazenamento é com temperatura entre 0 e 2 °C e concentrações de 1 a 3% de CO2 e 1 a 2% de O2, salientando que esta cultivar é sensível a altas concentrações de gás carbônico que poderão causar distúrbios fisiológicos.

A umidade relativa do ar durante o armazenamento deve ser alta para reduzir a transpiração e o murchamento dos frutos. No entanto, a alta umidade relativa das câmaras agrava a ocorrência de degenerescência em maçãs armazenadas em frio convencional (SCOTT et al., 1964; SCOTT & ROBERTS, 1967; MARTIN et al., 1967; PORRIT & MEHERIUK, 1973). Os níveis de degenerescência (core flush) aumentam com umidade relativa acima de 90% (FORSYTH & EAVES, 1974). Conforme EBERT (1986), a cv. Gala quando armazenada por longos períodos apresenta rachaduras na epiderme e, em casos mais severos, a polpa também apresenta rachaduras.

Segundo LIDSTER (1990), a degenerescência interna aumenta com umidade relativa entre 96 e 100% durante o armazenamento da maçã "McIntosh". A manifestação da degenerescência em maçãs também pode estar relacionada com a maturação avançada dos frutos (SCHUHMACHER, 1975; STREIF, 1985).

O presente trabalho tem por objetivo avaliar o efeito das concentrações de CO2 e O2 no armazenamento em AC, sobre a qualidade da maçã 'Gala', produzida em condições edafoclimáticas do Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido durante o período de fevereiro a outubro de 1994 no Núcleo de Pesquisa em Pós-colheita (NPP) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Foram utilizados frutos procedentes de um pomar comercial da empresa RENAR, localizada em Fraiburgo, SC. Os frutos foram armazenados em câmaras experimentais de AC, com volume de 240 litros.

Os frutos foram colhidos no ponto de maturação normalmente utilizado para frutos destinados ao armazenamento em atmosfera normal (AN), ou seja, com índice do teste iodo/amido igual a 5,46. Após a colheita, os frutos foram transportados ao NPP em Santa Maria, onde foram armazenados. Antes do armazenamento foi feita a seleção dos frutos, sendo eliminados aqueles com lesões e com baixo calibre, tendo em vista que os frutos de tamanho médio e grande têm maiores problemas de conservação.

O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado com duas repetições, e os frutos com peso variando entre 126g até 214g (calibre entre 90 e 150 - corresponde ao número de frutos por caixa). Para a análise da firmeza de polpa foram utilizadas duas repetições de 15 frutos para cada tratamento, sendo que os demais parâmetros foram avaliados sobre um total de 35 frutos por repetição.

Os tratamentos avaliados foram diferentes combinações de concentrações de gás carbônico e oxigênio na atmosfera das câmaras e dois teores de umidade relativa do ar, bem como o efeito do retardamento do início do armazenamento em AC.

A temperatura de armazenamento, medida na polpa do fruto, foi de 0,5°C e a UR de 97%. A temperatura do ar teve uma oscilação de ±0,5°C em decorrência da instabilidade normal de funcionamento das câmaras.

O tratamento com baixa UR sofreu uma redução na UR para 93% nos últimos 2,5 meses de armazenamento, ou seja, após seis meses do início do experimento, visando-se avaliar o efeito da baixa UR sobre a rachadura dos frutos.

No tratamento com retardamento do armazenamento, os frutos foram expostos por quatro dias à temperatura ambiente (25 °C) antes do início do armazenamento.

As concentrações iniciais de CO2 e O2 das câmaras de AC foram estabelecidas através da realização do "pulldown", que consiste na eliminação do oxigênio das câmaras, com a injeção de nitrogênio até a obtenção das concentrações pré-estabelecidas. As concentrações de dióxido de carbono foram obtidas através da injeção do gás nas câmaras. Para a manutenção constante dos níveis de CO2 e O2, que continuamente se modificavam em virtude da respiração dos frutos, foi realizada diariamente uma análise e correção das concentrações. A análise da concentração dos gases foi feita com analisadores eletrônicos de fluxo contínuo marca Agri-datalog. O oxigênio, consumido pela respiração dos frutos, foi compensado através da injeção de ar nas câmaras. O dióxido de carbono em excesso, resultante do processo respiratório, foi absorvido por uma solução de hidróxido de sódio, pela qual foi circulado o ar das câmaras.

A análise dos frutos foi realizada na instalação do experimento (fevereiro de 94), quando foi realizado o teste iodo-amido e determinação da firmeza de polpa dos frutos. Após 8,5 meses de armazenamento, as câmaras de AC foram abertas, desfazendo-se a atmosfera e todos os tratamentos permaneceram durante cinco dias em AN, quando então, quatro amostras de 35 frutos de cada tratamento foram retiradas das câmaras. Duas amostras foram analisadas imediatamente, enquanto que as outras duas permaneceram durante cinco dias em temperatura ambiente e, posteriormente analisadas. A exposição dos frutos a condições de AN e temperatura ambiente visou simular o período de beneficiamento e comercialização.


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