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4. Metodologia

Foi realizado um estudo prospectivo, controlado, na Escola Superior de Educação Física da Universidade de Pernambuco (ESEF-UPE), Recife, PE, Brasil, no período de fevereiro a maio de 2001. Foram recrutadas de duas comunidades de baixa renda, localizadas na cidade do Recife, mulheres com idade acima de 60 anos que não praticavam e nem tinham praticado, nos últimos 12 meses, nenhum tipo de programa de exercício físico regular. Foram excluídas aquelas com contra-indicação de ordem médica para a prática de exercício físico, portadoras de deficiência neuromotora, não aprovadas na avaliação médica, além das participantes que não completaram mais de 90% do programa de atividade física estipulado.

O tamanho amostral foi calculado para um poder de 80% e um erro tipo I de 5%. Admitiu-se uma variação de média de 20% entre o pré e o pós-teste "sentar e levantar", sendo o tamanho da amostra calculado em 50 participantes. Estimando-se uma perda máxima da casuística em torno de 40%, optou-se por elevar o número da casuística para 74 participantes.

Os 74 participantes foram alocados em dois grupos distintos, de acordo com o local de residência. Ao grupo de treinamento (n = 37) foram ministradas aulas de hidroginástica, duas vezes por semana, com duração de 45 minutos, durante um período de 12 semanas. As aulas foram ministradas sempre pela manhã, numa piscina com profundidade de 1,20m, medindo 25m x 12,5m, com água na temperatura aproximada de 26 a 28°C. As aulas consistiam em quatro fases: 1 - Aquecimento (alongamento e flexibilidade, método estático, durante 5min); 2 - Exercícios aeróbicos (corridas, deslocamentos e movimentos combinados de braços e pernas, de modo intervalado, 1min para atividade e 1min para recuperação, durante 20min); 3 - Exercícios localizados (força/resistência dos membros superiores, inferiores e abdominais, utilizando a resistência da água, durante 15 minutos) 4 - Relaxamento (caminhadas lentas, por 5min).

A aptidão física foi mensurada através da bateria de testes desenvolvida por Rikli e Jones7, sendo avaliadas a força e resistência dos membros, flexibilidade, mobilidade física (velocidade, agilidade e equilíbrio dinâmico) e resistência aeróbica, respectivamente através dos testes: "levantar e sentar", "flexão do antebraço", "sentado e alcançar", "sentado, caminhar 2,44m e voltar a sentar", "alcançar atrás das costas" e "andar seis minutos". Todos os testes foram repetidos nas mesmas condições três meses após as aulas de hidroginástica.

Na análise, os resultados foram comparados, entre e dentro dos grupos, através da análise da variância com medidas repetidas e o teste t de Student para amostras pareáveis. Foi utilizado o programa de computador SPSS e foram considerados significativos os testes com o valor p menor do que 0,05.

O presente estudo atendeu as determinações da Declaração de Helsinque e a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O projeto foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Pernambuco e só foram admitidas ao estudo as participantes que deram o seu consentimento por escrito.

5. Resultados

Das 74 participantes recrutadas inicialmente para a pesquisa que realizaram a bateria de testes no "baseline", 14 (18,9%) não repetiram o pós-teste. No grupo estudo, sete participantes não completaram os três meses de aulas de hidroginástica, todas por motivos de saúde: doença vascular cerebral (2), cirurgia (2), doença familiar (2) e traumatismo (1). No grupo "controle", sete participantes não atenderam à convocação para a realização do pós-teste.

Os grupos foram comparáveis no "baseline" em relação a idade, renda familiar e anos de escolaridade, conforme apresentado na tabela 1.

Os grupos "estudo e controle" apresentaram os mesmos resultados no "teste levantar e sentar" no início da pesquisa. Três meses após observou-se melhor performance no grupo submetido ao treinamento de hidroginástica (tabela 2).

Em relação ao teste da "flexão do antebraço", observou-se melhor desempenho no teste no grupo submetido às aulas de hidroginástica (tabela 3).

Na tabela 4, observamos que os resultados do teste "sentado e alcançar" também apresentaram diferença significativa após três meses de hidroginástica.

No teste "sentado, caminhar 2,44m e voltar a sentar", também os resultados do grupo "estudo" diferiram entre os testes (tabela 5).

Quanto ao teste "alcançar atrás das costas", os resultados foram superiores no grupo submetido ao treinamento com hidroginástica (tabela 6).

No teste "andar seis minutos", também os desempenhos foram melhores no grupo que recebeu aulas de hidroginástica (tabela 7).

6. Discussão

Observamos em nosso estudo uma melhora significativa em todos os testes de aptidão física aplicados, após o treinamento com aulas de hidroginástica. Esses resultados parecem comprovar a importância da prática de exercícios físicos, aqui a hidroginástica, na manutenção e melhoria da aptidão física, de mulheres idosas que levam a vida sem exercício físico regular.

Acreditamos que a metodologia empregue confira confiabilidade aos nossos resultados, pois os dois grupos estudados eram comparáveis nas suas principais variáveis socioeconômicas e biológicas, além dos testes terem sido aplicados com a mesma técnica e os mesmos instrutores, tanto no momento inicial como três meses após.

São descritos atualmente vários testes para a mensuração da aptidão física no adulto idoso. Optamos pelo de Rikli e Jones7 por ser mais completo, prático, replicável e de baixo custo operacional. Outra vantagem é que se trata de um teste já validado8.

Na literatura consultada, não identificamos nenhum estudo com metodologia semelhante ao nosso e que tenha avaliado os efeitos da hidroginástica sobre a aptidão física funcional de mulheres idosas. Isso dificultou a análise comparativa de nossos resultados.

No primeiro teste aplicado, o de "sentar-levantar", procuramos verificar basicamente a força e resistência do segmento corporal inferior9. Nossos resultados são semelhantes aos de Frontera et al.10 que verificaram em idosos um ganho de força de até 227% após um treinamento durante 12 semanas. Hagber et al.11 e Hicks et al.12 também verificaram incremento na força em homens e mulheres idosas que realizavam treinamento de força muscular de 12 a 26 semanas. Para alguns autores, esse teste apresenta um obstáculo na sua realização e interpretação dos resultados, a dor nas costas, queixa freqüente nessa população e que algumas vezes chega a inviabilizar a sua execução. Em nosso estudo, não observamos essa queixa em nenhuma das participantes.

O teste da flexão do antebraço avalia a força e resistência muscular do segmento superior do corpo. Nossos resultados foram compatíveis com as observações de McCartney et al.13 de que, apesar da diminuição da força do segmento superior corpóreo com a idade, essa alteração pode ser modificada com a prática de exercícios.

O teste de "sentar e alcançar" mede com acurácia a flexibilidade do segmento inferior do corpo (flexão dos quadris e da coluna vertebral)9. Em nosso estudo, os pacientes submetidos ao treinamento com a hidroginástica passaram a desenvolver esse teste com maior habilidade. Hoerger e Hopkins14, em estudo controlado com mulheres de 55 a 77 anos de idade, também constataram melhora na pontuação desse teste, após um programa de alongamento, caminhada e movimento de dança durante 12 semanas. É provável que a flexibilidade, trabalhada de forma adequada nos exercícios aquáticos, justifiquem esses achados.

O teste "alcançar atrás das costas" procura avaliar a movimentação geral do ombro: adução, abdução, rotação interna e externa. Em nossos resultados, também esse teste apresentou mudanças significativas após o período de três meses de treinamento com hidroginástica. Hubley-Kozey et al.15 observaram melhoras significativas na amplitude de movimento de várias articulações (pescoço, ombro, cotovelo, punho, quadril, joelho e tornozelo) em indivíduos idosos que participaram de um programa de exercícios regulares. Como o processo de deterioração osteoarticular acelera-se a partir dos 65 anos, um pequeno aumento na amplitude de movimento advindo com um trabalho de treinamento físico pode representar um ganho importante na qualidade de vida dessas pessoas16.

O teste "sentado caminhar 2,44m e voltar a sentar" avalia mobilidade, velocidade e equilíbrio dinâmico. Nossos resultados também demonstraram um efeito positivo das aulas de hidroginástica sobre o desempenho das participantes nesse teste. Lord e Castell17 relataram melhora do equilíbrio em idosos após a prática de exercícios físicos regulares durante 10 semanas. Topp et al.18 observaram tendência para melhora do equilíbrio, embora sem ser significativa do ponto de vista estatístico, nos idosos submetidos a um treinamento de força durante 12 semanas. Hoerger e Hopkins14 observaram aumento de 12% da mobilidade dos idosos, no final de um programa de exercício físico de 12 semanas de duração.

O teste do "caminhar durante 6 minutos" mede a resistência aeróbica, importante capacidade para que as pessoas consigam realizar tarefas quotidianas como andar, fazer compras ou atividades recreativas. Esse teste vinha sendo usado com sucesso para avaliar a resistência física de pacientes portadores de várias condições clínicas; entretanto, só recentemente foi validado para uso em pessoas idosas saudáveis19. Observamos, em nosso estudo, importante aumento da resistência aeróbica no grupo das participantes da hidroginástica. O exercício físico aumenta a potência aeróbica entre 10 a 40%, especialmente pelo incremento da diferença arteriovenosa de oxigênio, volume sistólico, débito cardíaco, volume plasmático e sanguíneo20.

Apesar de termos realizado o treinamento físico em um período de tempo relativamente curto, três meses, observamos expressivos resultados. Segundo Spirduso2, a melhoria da quantidade de força ocorre relativamente rápida, num tempo médio de dois meses, dados corroborados por Frontera et al.10. Alguns autores admitem que o ganho de força nos idosos ocorra de forma mais intensa do que nas pessoas mais jovens2. Justificam que as pessoas mais idosas, habitualmente, iniciam um programa de exercícios em condições físicas mais precárias do que aqueles mais jovens, o que proporcionaria ganhos relativos maiores. Para Matsudo21, entretanto, os efeitos dos programas de treinamento em idosos sobre o fortalecimento da musculatura são rapidamente perdidos com a suspensão dessa atividade com perda de 32% na força dentro de quatro semanas após a suspensão do treinamento. Dessa forma, é recomendada a manutenção desses programas para que esses resultados benéficos sejam duradouros. Em nosso estudo, recomendamos a todas, incluindo o grupo controle, a participação contínua e regular em programas de exercícios físicos, especialmente a hidroginástica.

A queda da aptidão física com o envelhecimento é um fato inexorável, que se inicia de maneira gradativa, ao redor da quinta década de vida. Entretanto, vários outros estudos, como o nosso, apontam para os benefícios dos programas de exercícios físicos para idosos, como medida profilática importante no sentido de preservar e retardar ao máximo os efeitos do envelhecimento sobre a aptidão física21,22. Além da melhoria na aptidão física, a atividade física também contribui para a redução das taxas de morbimortalidade nos idosos23,24.

7. Conclusões

Programas de hidroginástica, corroboram para a melhoria e manutenção da aptidão física nos idosos. Entretanto, há necessidade de um número maior de estudos, que avaliem os efeitos aqui abordados e outros, da hidroginástica sobre a aptidão física dos idosos.

Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo.

8. Referências

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4. Pate R, Pratt M, Blair SN, Haskell W, Macera CA, Bouchard C, et al. Physical activity and public health: a recommendation from the Centers for Disease Control and Prevention and the American College of Sports Medicine. JAMA 1995;273:402-7. www.bireme.br

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10. Frontera WR, Meredith CN, O'Reilly KP, Evans WJ. Strength training and determinants of VO2 max in older man. J Appl Physiol 1990;68:329-33.

11. Hagber JM. Cardiovascular response of 70 to 79 - year old men and women to exercise training. J Appl Physiol 1989;66:2589-94.

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19. Rikli RE, Jones CJ. The reliability and validity of a 6- minute walk test as a measure of physical endurance in older adults. J Aging Phys Activity 1998; 6:363-75.

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21. Matsudo SM, Matsudo VKR, Barros Neto TL. Impacto do envelhecimento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e metabólicas da aptidão física. Rev Bras Atividade Física e Saúde 2000;8:21-32.

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24. Schwartz K. Physical fitness and mortality. J Fam Pract 1995;41:295-6. www.bireme.br

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