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Aplicação de cálcio em pré-colheita na conservação de pêssego (página 2)

Angelo Pedro Jacomino; Ricardo Alfredo Kluge; Auri Brackmann; Paulo Roberto

As avaliações finais foram realizadas após um mês de armazenamento mais 2 dias na temperatura de 20°C.

Para determinação da produção de etileno e respiração na temperatura de 20ºC, quatro amostras dos tratamentos T3, T6 e T7 foram fechadas hermeticamente em recipientes de cinco litros durante duas horas, diariamente. Após foram recolhidas duas amostras de gás de cada recipiente com seringa plástica de 1ml, para determinação do etileno por cromatografia gasosa, através de um cromatógrafo a gás, marca Varian, equipado com detetor de ionização de chama, e coluna do tipo poropak N. Após foi feita a determinação da concentração de CO2, através de um analisador de gases de fluxo contínuo, marca Agridatalog. Após as determinações, os recipientes foram abertos para restabelecer a atmosfera normal.

A percentagem de perda de peso foi obtida por diferença entre a pesagem no início e no final do armazenamento, de cada unidade experimental, acondicionada em rede plástica.

A cor de fundo da epiderme dos frutos foi determinada pelo colorímetro, marca Minolta pelo sistema CIE L*a*b.

A firmeza de polpa foi determinada com auxílio de um penetrômetro motorizado, com ponteira de 7,9mm de diâmetro, perfurando-se na região equatorial do fruto, em dois lados opostos, onde anteriormente foi removida uma pequena porção da epiderme.

A avaliação da presença de lanosidade, foi efetuada através de cortes transversais em diversas regiões do fruto, expondo a polpa para observação visual, sendo determinada a percentagem de frutos com sintomas de pouca suculência e aspecto farináceo.

A avaliação da incidência de patógenos foi realizada na retirada dos frutos da câmara, e 15 frutos da amostra experimental foram acondicionados à 20°C para avaliações diárias. Considerou-se frutos com podridões aquelas que apresentavam manchas de diâmetro maior que 0,5cm e com características típicas de ataque de patógenos. No momento da identificação de um fruto atacado por patógeno este foi descartado. Os dados apresentados correspondem à média de 12 dias de avaliação.

A acidez titulável foi determinada em uma amostra de 10ml de suco, obtida de 12 frutos, diluída em 100mL de água destilada e titulada com solução de hidróxido de sódio (NaOH) 0,1N até pH 8,1. A acidez titulável foi expressa em Cmol.L-1.

O sólidos solúveis totais foram determinados por refratometria, com os valores expressos em graus Brix.

A concentração de cálcio na polpa dos frutos foi determinada através da metodologia descrita por TEDESCO et al. (1996), na regiões periférica, madiana e interna do mesocarpo do fruto, separadamente.

Valores expressos em percentagem foram transformados pela fórmula ArcSen {raiz[(0,5+x)/100]}, antes da análise da variância.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisando os resultados de firmeza de polpa (Tabela 2), observa-se que nenhuma das duas fontes de cálcio aplicadas, nem no maior número de aplicações conseguiram manter a firmeza mais elevada que a testemunha. No entanto, CONWAY et al. (1994) observaram que frutos tratados com CaCl2 mostraram firmeza mais elevada, que pode estar relacionada à presença de íons de Ca+2 na parede celular, o que tornaria esta, menos acessível a enzimas que causam o amolecimento.

Não houve diferenças entre os tratamentos sobre os SST, acidez titulável e cor da epiderme (Tabela 2). No entanto, SINGH et al . (1982) e OCHEI et al . (1993) afirmam que ocorre um aumento natural dos SST nos frutos durante o armazenamento, não sendo influenciado pela aplicação de cálcio (CRISOSTO et al ., 1997). Relativo à acidez, HOLLAND (1993) concluiu que frutos tratados com CaCl2 tenderam manter a acidez mais elevada, e OCHEI et al . (1993) evidenciaram que em tratamentos com cálcio à acidez decresce em menor taxa.

Não houve diferenças entre os tratamentos quanto à percentagem de perda de peso dos frutos (Tabela 3).

Contrariando SINGH et al . (1982), que afirmam que o cálcio reduz a taxa de perda de peso. Também não houve diferenças entre os tratamentos, quanto à lanosidade (Tabela 3), no entanto BEN-ARIE & LAVEE (1971) relacionam a concentração do íon cálcio com a formação de gel e lanosidade.

Os tratamentos com CaCl2 não influenciaram na incidência de podridões (Tabela 3), concordando com CRISOSTO et al . (1997) e contrariando SINGH et al . (1982) e BIGGS et al . (1997). Já, os tratamentos com CaO aumentaram a percentagem de podridões, o que pode ter ocorrido devido aos sais de cálcio terem causado dano à epiderme do fruto, como ocorre com uvas (BRACKMANN et al ., 2000).

Para respiração não houve diferenças entre os tratamentos nem no momento da colheita (Tabela 4) e nem na saída do armazenamento (Tabela 5). Praticamente não houve evolução dos valores no decorrer do período avaliado, com exceção no último dia (Figura 1). Estes resultados contrariam SINGH et al. (1982), que afirmam que o cálcio reduz a taxa de respiração.

FIGURA 1 - Respiração de pêssegos ‘Chiripá’, submetidos por 10 dias a 20°C, logo após a colheita. Santa Maria. 2000

Para produção de etileno (Tabela 4), observou-se que o CaCl2 não apresentou efeito, enquanto que o CaO reduziu a produção no momento da colheita, em relação à testemunha. Já, na saída do armazenamento, os tratamentos não apresentavam mais diferenças estatísticas entre si. Os valores de produção de etileno tiveram aumento gradativo (Figura 2). O decréscimo do cálcio na lamela média da parede celular é considerado importante para o aumento da produção de etileno e ação da Poligalacturonase.

Figura 2 - Produção de etileno de pêssegos ‘Chiripá’, submetidos por 10 dias a 20°C, logo após a colheita. Santa Maria. 2000.

CONCLUSÃO

A pulverização foliar, com duas fontes de Cálcio e em várias épocas, não tem efeito sobre a qualidade dos pêssegos, cv Chiripá, durante o armazenamento refrigerado.

REFERÊNCIAS

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VIZZOTTO, Márcia1; ANTUNES, Pedro L.2; BRACKMANN, Auri3; DALBOSCO, Volnei4
brackmann[arroba]ccr.ufsm.br

1. Departamento de Fitotecnia, UFPEL, caixa Postal 354 CEP 96010-900 Pelotas, RS.
2. Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial, UFPEL, caixa Postal 354 CEP 96010-900 Pelotas, RS.
3. Departamento de Fitotecnia, UFSM, 97105-900, Santa Maria, RS. Autor para correspondência.
4. Prefeitura Municipal de Farroupilha, RS.
(Recebido para análise em 12/06/2001)



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