1.2. Visão geral do problema da gravidez precoce.
A gravidez precoce é uma das ocorrências mais preocupantes relacionadas à sexualidade da adolescência, com sérias consequências para a vida dos adolescentes envolvidos, de seus filhos que nascerão e de suas famílias.
Desde 1970, têm aumentado os casos de gravidez na adolescência e diminuído a idade das adolescentes grávidas no mundo. A gravidez ocorre geralmente entre a primeira e a quinta relação sendo o parto normal a principal causa de internação de brasileiras entre 10 e 14 anos. As principais causas da gravidez são: o desconhecimento de métodos anticoncepcionais, a educação dada a adolescente faz com que ela não queira assumir que tem uma vida sexual activa e por isso não usa métodos ou usa outros de baixa eficiência (coito interrompido, tabelinha) porque esses não deixam rastros. O uso de drogas e bebidas alcoólicas comprometem a contracepção, além das que engravidam para se casar. A adolescente tem problemas emocionais devido a mudança rápida em seu corpo ou, como ela esconde a gravidez, o atendimento pré-natal não è adequado. Podem ocorrer problemas como aborto ou dificuldade na amamentação (E.P, 2003: URL).
Um estudo recente realizado no Brasil revela que:
18% das adolescentes de 15 a 19 anos já haviam ficado grávidas alguma vez;
1 em 3 mulheres de 19 anos já são mães ou estão grávidas do 1º filho;
1 em 10 mulheres de 15 a 19 anos já tinham 2 filhos;
49,1% destes filhos foram indesejados;
20% das adolescentes residentes na zona rural tem pelo menos 1 filho;
13% das adolescentes residentes na Área urbana tem pelo menos 1 filho;
54% das adolescentes sem escolaridade já haviam ficado grávidas;
6,4% das adolescentes com mais de 9 anos de escolaridade ou já eram mães ou estavam grávidas do 1º filho;
20% das adolescentes residentes na região norte tem pelo menos 1 filho;
9% das adolescentes residentes na região centro-oeste tem pelo menos 1 filho.
Em 1980 o Brasil possuía 27,8 milhões de adolescentes entre 10 e 19 anos de idade o que representava 23 % da população geral. A Taxa de fecundidade entre 15 e 19 anos era de 11 %. Nessa época, dos partos realizados pela rede do INAMPS, 13 % eram de menores de 19 anos (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1980).
Conforme dados da Organização Pan-americana da Saúde –OPS (1992), no começo da década de 80’, 12,5 % dos nascimentos da América Latina eram de mães menores de 20 anos. A população de 15 a 24 anos (de alto risco para engravidar) chegou a 71 milhões em 1980. Estima-se que chegou a 86 milhões em 1990 e que no ano de 2000 estaria em torno de 100 milhões de adolescentes. Isso indica que durante o período de 1980- 2000 a população de adolescentes na América Latina aumentaria aproximadamente 41,6 %. A adolescência representaria, no ano 2000, 19 % da população latino americana. Na América Latina Nascem 3 312 000 filhos de mães adolescentes por ano. A nível mundial, de cada 100 adolescentes entre 15 a 19 anos, 5 se tornam mães anualmente, o que eleva a 22 473 000 nascidos de mães adolescentes.
No Brasil, e no estrato social mais pobre que se encontram os maiores índices de fecundidade na população adolescente. Assim, no estrato de renda familiar menor de um salário mínimo, cerca de 26 % das adolescentes entre 15 e 19 anos tiveram filhos, e no estrato de renda mais elevado, somente 2,3 % eram mães (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1988). Nas regiões faveladas do Recife, de cada 10 mulheres que são mães uma é menor de 15 anos, sendo que 60 % das mulheres têm menos de 20 anos de idade (Lima, et all. 1990).
O número de adolescentes grávidas aumenta a cada ano. O fenómeno não é exclusivo do Brasil, mas do mundo, e tão-pouco recente, muitas avós e bisavós hoje tiveram filhos bem jovens, e as estatísticas comprovam. Nos Estados Unidos, onde são maiores os índices, um milhão de adolescentes engravida a cada ano; no Brasil de acordo com uma pesquisa nacional sobre demografia e saúde de 1996, entre as adolescentes de 15 a 19 anos entrevistadas 18 % já haviam ficado grávidas pelo menos uma vez (Dadoorian, 2002: 15).
A incidência de gravidez na adolescência está crescendo e, nos EUA, onde existem boas estatísticas, vê-se que de 1975 a 1989 a percentagem dos nascimentos de adolescentes grávidas e solteiras aumentou 74,4%. Em 1990, os partos de mães adolescentes representaram 12,5% de todos os nascimentos no país (SPPC, 2003: URL).
A Pesquisa Nacional em Demografia e Saúde, de 1996, mostrou um dado alarmante; 14% das adolescentes já tinham pelo menos um filho e as jovens mais pobres apresentavam fecundidade dez vezes maior. Entre as garotas grávidas atendidas pelo SUS no período de 1993 a 1998, houve aumento de 31% dos casos de meninas grávidas entre 10 e 14 anos. Nesses cinco anos, 50 mil adolescentes foram parar nos hospitais públicos devido a complicações de abortos clandestinos. Quase três mil na faixa dos 10 a 14 anos (Ibíd.)
De acordo com a pesquisa da UNESCO, 32% das meninas começam a vida sexual entre 10 e 14 anos, e 22% tiveram gravidez precoce.
As estatísticas anteriores indicam que o problema da maternidade precoce é sumamente alarmante em todo o mundo. Diversas regiões ficam preocupadas por este problema, de tal sorte que, tem constituído um assunto de Estado, nalguns casos. No caso de África e especialmente Angola, as estatísticas são, ou duvidosas ou inexistentes, tendo em conta que os sistemas de saúde são imperfeitos e de muitos limitados recursos e possibilidades. Deste modo, acontece que amplos sectores da população não são controlados por falta de ingressos suficientes para assistir aos centros de saúde, razão pela qual escapam ao controlo estatístico oficial.
1.2.1. Causas da gravidez precoce
A gravidez na adolescência é multicausal e sua etiologia está relacionada a urna série de aspectos que podem ser agrupados em:
Factores Biológicos, que envolvem desde a idade da menarca até o aumento do número de adolescentes na população geral. Sabe-se que as adolescentes engravidam mais e mais a cada dia e em idades cada vez mais precoces. Observa-se que a idade em que ocorre a menarca tem se adiantado em torno de quatro meses por década no nosso século. De modo geral se admite que a idade de ocorrência da menarca tenha urna distribuição gaussiana e o desvio-padrão é aproximadamente 1 ano na maioria das populações, consequentemente, 95% da sua ocorrência se encontra nos limites de 11,0 a 15,0 anos de idade.
Sendo a menarca, em última análise, a resposta orgânica que reflecte a inteiração dos vários segmentos do eixo neuroendócrino feminino, quanto mais precocemente ocorrer, mais exposta estará a adolescente á gestação. É nas classes económicas mais desfavorecidas onde há maior abandono e promiscuidade, maior desinformação, menor acesso á contracepção, está a grande incidência da gestação na adolescência.
O contexto familiar tem relação directa com a época em que se inicia a actividade sexual. Assim sendo, adolescentes que iniciam vida sexual precocemente ou engravidam nesse período, geralmente vêm de famílias cujas mães também iniciaram vida sexual precocemente ou engravidaram durante a adolescência. De qualquer modo, quanto mais jovens e imaturos os pais, maiores as possibilidades de desajustes e desagregação familiar. O relacionamento entre irmãos também está associado com a actividade sexual: experiências sexuais mais cedo são observadas naqueles adolescentes em cuja família os irmãos mais velhos têm vida sexual activa.
As atitudes individuais são condicionadas tanto pela família quanto pela sociedade. A sociedade tem passado por profundas mudanças em sua estrutura, inclusive aceitando melhor a sexualidade na adolescência, sexo antes do casamento e também a gravidez na adolescência. Portanto tabus, inibições e estigmas estão diminuindo e a actividade sexual e gravidez aumentando (Hechtman, 1989, Block et al., 1981; Lima et al, 1985; Almeida & Fernandes, 1998; McCabe & Cummins, 1998; Medrado & Lyra, 1999).
Por outro lado, dependendo do contexto social em que está inserida a adolescente, a gravidez pode ser encarada como evento normal, não problemático, aceite dentro de suas normas e costumes (Necchi, 1998).
A identificação com a postura da religião adoptada se relaciona com o comportamento sexual. Alguns trabalhos mostram que a religião tem participação importante como preditora de atitudes sexuais. Adolescentes que têm actividade religiosa apresentam um sistema de valores que os encoraja a desenvolverem comportamento sexual responsável (Glass, 1972; Werner-Wilson, 1998). No nosso meio, nos últimos anos as novas religiões evangélicas têm florescido, e são de modo geral, bastante rígidas no que diz respeito á prática sexual pré-marital. Alguns profissionais de saúde que trabalham com adolescentes têm a impressão de que as adolescentes que frequentam essas igrejas iniciam a prática sexual mais tardiamente, porém, não há pesquisas comprovando essas impressões (De Souza e Silvério, 2002).
Numa sociedade massificadora e coercitiva, muitos adolescentes, influenciados por um comportamento sexual mais liberado, são levados a assumir sua sexualidade precocemente. A influência do grupo de amigos e o "bombardeio" de informações e imagens da mídia produzem uma aceleração do ingresso no mundo adulto, quando não têm preparação física nem psíquica para isso.
Instabilidade emocional, carência afectiva, invulnerabilidade e fragilidade de uma menina ainda em formação, omissão dos pais, falta de informações e fantasias adolescentes como as de "engravidar para prender o namorado" ou mostrar aos pais que já é adulta, são alguns dos motivos que determinam uma gravidez precoce (Banks, 2000)
1.1.2. Repercussão social da gravidez precoce.
Uma vez constatada a gravidez, se a família da adolescente for capaz de acolher o novo facto com harmonia, respeito e colaboração, esta gravidez tem maior probabilidade de ser levada a termo normalmente e sem grandes transtornos. Porém, havendo rejeição, conflitos traumáticos de relacionamento, punições atrozes e incompreensão, a adolescente poderá sentir-se profundamente só nesta experiência difícil e desconhecida, poderá correr o risco de procurar abortar, sair de casa, submeter-se a toda sorte de atitudes que, acredita, resolverão seu problema. O bem-estar afectivo da adolescente grávida é muito importante para si própria, para o desenvolvimento da gravidez e para a vida do bebé. A adolescente grávida, principalmente a solteira e não planejada, precisa encarar sua gravidez a partir do valor da vida que nela habita, precisa sentir segurança e apoio necessários para seu conforto afectivo, precisa dispor bastante de um diálogo esclarecedor e, finalmente, da presença constante de amor e solidariedade que a ajude nos altos e baixos emocionais, comuns na gravidez, até o nascimento de seu bebé (SPPC, 2003).
Para se ter ideia das intercorrências emocionais na gravidez de adolescentes, em trabalho apresentado no III Fórum de Psiquiatria do Interior Paulista, em 2000, Gislaine Freitas e Neury Botega mostraram que, do total de adolescentes grávidas estudadas na Secretária Municipal de Saúde de Piracicaba, foram encontrados: casos de Ansiedade em 21% delas, assim como 23% de Depressão. Ansiedade junto com Depressão esteve presente em 10%.
Importantíssima foi a incidência observada para a ocorrência de ideação suicida, presente 16% dos casos, mas, não encontraram diferenças nas prevalências de depressão, ansiedade e ideação suicida entre os diversos trimestres da gravidez. Tentativa de suicídio ocorreu em 13% e a severidade da ideação suicida associação significativa com a severidade depressão (Ibíd.).
Num estudo sobre ideação de suicídio em adolescentes grávidas estudaram 120 adolescentes grávidas (40 de cada trimestre gestacional), com idades variando entre 14 e 18 anos, atendidas em serviço de pré-natal.
Do total dos sujeitos, foram encontrados: casos de ansiedade em 25 (21 %); casos de depressão em 28 (23%). Desses, 12 (10%) tinham ansiedade e depressão. Ideação suicida ocorreu em 19 (16%) das pacientes. Não foram encontradas diferenças nas prevalências de depressão, ansiedade e ideação suicida nos diversos trimestres da gravidez.
As tentativas de suicídio anteriores ocorrem em 13% das adolescentes grávidas. A severidade dessas tentativas de suicídio teve associação significativa com o grau da depressão, bem como com o estado civil das pacientes (solteira sem namorado) (Ibíd.).
Outra repercussão importante da gravidez precoce tem a ver com a escola. O debate sobre se a gravidez na adolescência provoca ou não evasão escolar é um tanto quanto repetitivo, entretanto, questionamos se a baixa escolaridade e evasão seriam causa ou efeito deste fenómeno.
Sem enveredar pelo caminho do fatalismo ou determinismo, das transformações societárias ocorridas nas últimas décadas emergiu um novo paradigma para produção, denominado por Havey (1989) de acumulação flexível o qual apoia-se na flexibilização dos processos produtivos e dos padrões de consumo promove profundas mudanças na estrutura da sociedades que extrapolam a estrutura de classes, exigindo cada vez mais a capacitação e o aperfeiçoamento da força de trabalho em potencial para sua inserção na esfera produtiva.
Uma investigação brasileira sobre relação gravidez precoce e a evasão escolar aponta que a incidência de gestações foi decrescendo e a incidência da evasão manteve-se estável: em 1999 foram informadas pelos directores das unidades escolares 114 gravidezes para 25 casos de evasão; em 2000 foram 108 gestações para 19 evasões e em 2001 registrou-se 82 casos de gravidezes para 21 casos de abandono da escola em decorrência de gravidez.
Diante de tudo o que foi exposto, estes números sugerem muitos desafios para as políticas públicas de um modo geral, assim como aquelas estreitamente relacionadas ao adolescente, como saúde, educação e assistência social e delineadas na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
A inserção profissional num Projecto de Extensão Universitária permite sugerir algumas medidas importantes para, pelo menos, diminuir a apartheid social da juventude, especialmente daquelas meninas que acidental e/ou conscientemente engravidaram (Trindade et. all, 2003).
A gravidez precoce precisa ser tratada com discernimento. Para a família cristã é realmente muito difícil enfrentar essa situação. Sabendo que muitos pais se esforçam para cumprirem os seus papéis como pais cristãos, alguns filhos fogem do controle e acabam ‘escorregando na casca da banana’. É preciso aceitar a realidade; o problema precisa ser encarado diferente. Não se pode ignorar nem cair no desespero diante do facto. Muitos pais não aceitam e tomam medidas radicais como levar ao interrompimento da gravidez, expulsar a filha de casa, forçar um casamento, etc. já que o facto está consumado, é preciso trabalhar com a realidade.
Os pais cristãos têm em Deus a realidade de socorro bem presente nas tribulações, rogando sabedoria, discernimento e calma para lidar com a questão. Não se pode esperar dos pais cristãos outras atitudes que não estas. Muitos imaginam que, agindo assim estão concordando com o erro de seu filho e que a única maneira de demonstrar a sua reprovação é a través de atitudes violentas.
Muitos pais decidem que o casamento é a solução. Isso só deve acontecer quando ambos (rapaz e moça) desejarem e tiverem plenamente conscientes do amor e responsabilidade, pois um casamento forçado pode levar a infelicidade e a desgraça para os jovens e o futuro bebé (Banks, 2000).
1.3. Repercussões da gravidez precoce na adolescência
Os primeiros dos riscos a ter em conta estão referidos a mãe adolescente. Existem relatos de que complicações obstétricas ocorrem em maior proporção nas adolescentes, principalmente nas de faixa etária mais baixa. Há constatações que vão desde anemia, ganho de peso insuficiente, hipertensão, infecção urinária, DST, desproporção céfalo-pélvica, até complicações puerperais (Rubio et al, 1981; Sismondi, et al, 1984; Black & Deblassie, 1985; Stevens-Simon & White, 1991; Zhang & Chan, 1991). Porém, devemos ter o cuidado de nos lembrar que esses achados se relacionam também com os cuidados pré-natais e desde que haja adequado acompanhamento pré-natal, não há maior risco de complicações obstétricas quando se compararam mulheres adultas e adolescentes de mesmo nível socioeconómico (Felice et al, 1981; McAnarney & Thiede, 1981).
Outro ponto doloroso dessa questão é a morte da mãe decorrente de complicações da gravidez, parto e puerpério; sendo que na adolescência, em estudo realizado no nosso meio, verificou-se ser esta a sexta causa de morte (Siqueira & Tanaka, 1986).
No tocante á educação, a interrupção, temporária ou definitiva, no processo de educação formal, acarretará prejuízo na qualidade de vida e nas oportunidades futuras. Não é raro que aconteça com a conivência do agrupamento familiar e social a adolescente se afasta da escola, frente a gravidez indesejada, quer por vergonha, quer por medo da reacção de seus pares (McGoldrich, 1985; Aliaga et al, 1985; Fernadéz et al., 1998; Souza, 1999).
As repercussões nutricionais serão tanto maiores quanto mais próxima da menarca acontecer a gestação, já que nesse período o processo de crescimento ainda está ocorrendo. O crescimento materno pode sofrer interferências por que há urna demanda extra requisitada para o crescimento fetal (American Dietetic Association, 1989).
A inundação hormonal da gestação promoverá consolidação precoce das epifíses naquelas adolescentes que engravidaram antes de ter completado seu crescimento biológico, podendo ter portanto, prejuízo na estatura final. Lembramos ainda que na adolescência há necessidades maiores de calorias, vitaminas e minerais e estas necessidades somam-se aquelas exigidas para o crescimento do feto e para a lactação.
Dada sua imaturidade e labilidade emocional podem ocorrer importantes alterações psicológicas, gerando extrema dificuldade em adaptar-se á sua nova condição, exacerbando sentimentos que já estavam presentes antes da gravidez, como ansiedade, depressão e hostilidade. As taxas de suicídio nas adolescentes grávidas são mais elevadas em comparação com ás não grávidas (Foster & Miller, 1980), principalmente nas jovens grávidas solteiras (Cabrera, 1995).
De modo geral, o pai costuma ser dois a três anos mais velho que a mãe adolescente. A paternidade precoce se associa com maior frequência ao abandono dos estudos, e sujeito a trabalhos aquém da sua qualificação, a prole mais numerosa e a maior incidência de divórcios (OPAS, 1995).
Existem riscos, tanto físicos, imediatos, quanto psicossociais, que se manifestam a longo prazo, nos filhos de adolescentes. Devido a dificuldade em adaptar-se á sua nova condição a mãe adolescente pode vir a abandonar o filho, dando-o á adopção, e quando o recém-nascido não é abandonado, está mais sujeito, em realço á população geral, a maus tratos.
A literatura mostra que há maior frequência de prematuridade, de baixo peso ao nascer. Apegar mais sob, doenças respiratórias, trauma obstétrico, além de maior frequência de doenças perinatais e mortalidade infantil. Deve-se considerar que estes riscos se associam não só a idade materna, mas principalmente a outros factores, como a baixa escolaridade, pré-natal inadequado ou não realizado, baixa condição socioeconómica, intervalos inter partais curtos (< de 2 anos) e estado nutricional materno comprometido. Estas complicações biológicas tendem a ser tanto mais frequentes quanto mais jovem a mãe (< 15 anos) ou quando a idade ginecológica for menor de 2 anos (Correa & Coates, 1993).
Um dos problemas mais comuns na gravidez precoce é a anemia, que faz com que a gestante fique mais vulnerável a infecções e pré-eclampsia. Existem ainda os factores psicológicos e sociais envolvidos. Um filho interfere muito na vida da mulher.
O adolescente, em geral, não está preparado para tantas mudanças na área escolar e nos hábitos diários. A liberdade tão desejada é de uma certa forma ameaçada.
Muitas jovens acabam recorrendo ao aborto, aumentando ainda mais os riscos a sua saúde. Em 1998, mais de 50 mil adolescentes foram atendidas em hospitais públicos de Brasil para a realização de curetagem após aborto. A gravidez na adolescência pode até ser uma opção pessoal e representar uma boa experiência, mas geralmente a jovem não está preparada emocionalmente, fisicamente e nem financeiramente para assumir a maternidade (ABN, 2004).
Mesmo sendo bem menos do que a mulher, o pai adolescente também sofre as consequências de uma gravidez precoce. Se o pai reconhece a criança, ele se vê obrigado a assumir novas responsabilidades e, em muitos casos, acaba abandonando os estudos para trabalhar, ressalta a médica. Já se não assume o filho, gera consequências para a criança.
Uma das prioridades seria reforçar a importância da responsabilidade paterna. Nesse sentido, está capacitando profissionais de saúde para oferecerem informações sobre os métodos contraceptivos combinados - associação do preservativo com algum outro método anticoncepcional. A ideia é fazer com que o homem participe da escolha do melhor contraceptivo para o casal. É preciso mudar a cultura de que a gravidez é exclusivamente feminina e só cabe à mulher a responsabilidade pelo filho.
São vários os motivos apontados para a alta incidência de gravidez entre adolescentes. Os principais são a iniciação sexual cada vez mais cedo, dificuldade de acesso aos métodos anticoncepcionais, desagregação familiar, falsas expectativas e falta de informação.
A dificuldade de uma adolescente se impor na relação é outro agravante. Na maioria dos casos, elas não usam pílulas anticoncepcionais, pois não possuem parceiro fixo. É comum as jovens não terem coragem de exigir que o parceiro use a camisinha.
A gravidez precoce é consequência de problemas sociais e é fundamental que os gestores de saúde trabalhem para enfrentar esse problema e intervir, de alguma forma, para que os adolescentes não cheguem a essa situação. É uma questão de promoção da saúde. Paralelamente ao trabalho de prevenção deve buscar-se alertar os pais sobre a importância do pré-natal para garantir a segurança da mãe e do bebé. No caso dos adolescentes, uma boa assistência durante os nove meses de gestação torna-se ainda mais importante para evitar problemas relacionados à gravidez e ao parto.
Em contraposição com o enfoque "de risco" emerge o "enfoque sociocultural" argumentando que o enfoque de risco `pressupõe que a gravidez na adolescência é indesejável e trazem consequências morais, psicológicas e sociais negativas, desconsiderando a particularidade dos sujeitos que a estão vivenciando, apontando subliminarmente para uma visão negativa do exercício da sexualidade na adolescência.
Para (Stern e Garcia, 1999) As práticas sexuais precoces só se tornam arriscadas quando ocorrem de modo desprotegido e desinformado, alertando para o facto de que a queda das taxas de fecundidade entre as mulheres adultas nas últimas décadas, acreditando que seja decorrência da política de planeamento familiar dos anos 70’, dá maior evidencia ao fenómeno da gravidez na adolescência.
1.4. Considerações científicas na volta da gravidez precoce.
A gravidez na adolescência é representada socialmente como uma experiência a ser evitada nesse momento evolutivo, sendo as ideias e sentimentos ancorados nos valores culturais de uma sociedade tradicional que privilegia o equilíbrio e a conformidade às normas instituídas. Assim, como comportamento desviante, objectiva-se no senso comum reafirmando sua natureza estereotipada e seu carácter ideológico. Ressaltamos que os resultados são restritos a um pequeno número de adolescentes que não vivenciaram a gravidez precoce, tão pouco a maternidade e a paternidade até esse momento, o que sugere uma maior adesão aos princípios e sistemas simbólicos e que também sustentam as diferenças entre os géneros numa tentativa de manutenção de equilíbrio e bem estar sociais.
1.4.1. Considerações da Psicologia
A adolescência constitui uma fase de conquista da sexualidade. Pensamos ser esta uma conquista importante, que vai sendo amadurecida e que é tanto mais madura quando constitui um veículo de aprofundamento do conhecimento do outro, do próprio e da relação.
Com efeito, assiste-se a uma descoberta desenfreada da sexualidade que constitui uma mera passagem ao acto, do qual resultam muitas vezes uma gravidez precoce.
Sabemos que a relação sexual entre dois namorados ocorre quando menos se planeia ou espera, mas a atitude preventiva pode estar sempre presente. É necessário evitar que um terceiro ser surja numa altura indevida.
Muitas vezes a gravidez na adolescência ocorre porque não há abertura na relação para se falar nos métodos anticoncepcionais, depois surge a gravidez, a vergonha, a desistência, a fuga a uma vida adolescente... e muitas vezes a depressão.
São, na maior parte das vezes, raparigas com problemas de auto-estima que se deixam arrastar por situações onde fantasiam que estão a ser amadas, sem tomarem as devidas precauções.
Penso que, cada vez mais, surge nos jovens a ideia de que "careta" não é quem não tem relações, mas sim quem as tem sem precaução. Como não se trata de uma questão de desconhecimento, há muitos factores de ordem psicológica que interferem.
Mas, para todas as situações é possível uma alternativa saudável. No desenvolvimento da personalidade, entre os multíplices factores, joga um papel muito importante a mudança profunda que experimentam na juventude dois elementos: o sexual e o sentimental. Dita mudança se realiza de maneira diferente na rapariga e no rapaz.
Na menina, a sentimentalidade ultrapassa ao começo as energias sexuais; a inclusão do sexual se realiza em forma constante desde o princípio da idade juvenil em diante; já aos 18 anos, é muito mais madura que o rapaz porque ela é capaz de um maior domínio de si e de dirigir as situações a medida que se apresentam, mais deve ter sempre presente que se sua sentimentalidade chega a ser cativada, deixa de julgar objectivamente e cede com certa facilidade a seus impulsos.
Pelo que se sabe, o mero impulso sexual é uma necessidade biológica que representa ao instinto e está condicionada por modificações químicas no interior do organismo. Esta é a natureza do impulso sexual, nada mais; mas também não nada menos.
Num começo o jovem muitas vezes busca satisfazer o impulso sexual consigo mesmo; isso lhe leva à masturbação. Mais tarde, o jovem fixa sua atenção noutras pessoas de diferente sexo, polarizando progressivamente seu desejo sexual. Finalmente, o jovem dirige sua atenção em uma forma selectiva sobre uma pessoa determinada e a escolhe definitivamente.
1.4.2. Considerações da Pedagogia
O debate sobre a gravidez na adolescência provoca ou não a evasão escolar é um tanto quanto repetitivo, entretanto, questionamos se a baixa escolaridade e a evasão seriam causa ou efeito deste fenómeno.
Para enfrentar a discussão da relação entre a gravidez na adolescência e a evasão escolar e estabelecermos as directrizes para este trabalho consideramos os dados levantados por investigações apontam que a incidência da gestação foi decrescendo e a incidência de evasão manteve-se estável: em 1999 foram informadas pelos directores das unidades escolares 114 gravidezes para 25 casos de evasão; em 2000 foram 108 gestações para 19 evasões e em 2001 registrou-se 82 casos de gravidezes para 21 casos de abandono da escola em decorrência de gravidez (Trindade et. all, 2003).
Diante de tudo o que foi exposto, estes números sugerem muitos desafios para as políticas públicas, de um modo geral, assim como aquelas estreitamente relacionadas ao adolescente, como saúde, educação e assistência social.
A inserção profissional num Projecto de Extensão Universitária permitiria sugerir algumas medidas importantes para, pelo menos, diminuir a apartheid social da juventude de nosso país, especialmente daquelas meninas que acidental e/ou conscientemente engravidaram:
Capacitar profissionais afectos a questão da adolescência para actuarem nas unidades escolares e de saúde que facilite o acesso aos direitos previstos na legislação vigente, como: assistência pré-natal, amamentação (conforme salienta as campanhas oficiais), aulas de apoio para que a performance da aluna não seja prejudicada, garantindo, inclusive a disponibilidade da matéria que está sendo dada na grade curricular (Ibíd.).
1.4.3. Considerações demográficas
Um estudo demográfico relativo à gravidez precoce em São Paulo acusa que de 1982 para cá, enquanto a população cresceu 42,5%, a taxa de gravidez dos 10 aos 19 anos aumentou 391%. Entre os óbitos neonatais, essa era a faixa etária de 30% das mães. Os dados são da Sociedade Brasileira de Pediatria e alertam para um dos problemas mais graves na área de saúde do adolescente: a gravidez precoce. Hoje, o parto é a principal causa de internação de meninas entre 10 e 14 anos e o principal procedimento médico. Em 1999, 26% deles foram de adolescentes (SBP, 2000).
Segundo os médicos, as consequências do exercício irresponsável da sexualidade costumam estar relacionadas a abortos, abandono de bebés, casamentos forçados e proliferação de doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis e o SIDA.
Em todas as conferências mundiais sobre população, enfatizou-se a contribuição importante da educação para resolver os problemas ligados ao crescimento demográfico e suas consequências. E não apenas a educação tomada no sentido amplo, incluindo as actividades extra-escolares e o ensino propriamente dito, mas referências foram também centradas sobre o papel da educação em matéria de população e, particularmente, da educação sexual (Werebe, 1998).
Dessa forma, a sexualidade, como uma instância constitutiva do humano, deverá atravessar as práticas quotidianas do professor na escola, não para controlar ou reprimir suas manifestações, mas para possibilitar ao adolescente a construção de sua própria identidade, e por isso também, de sua própria sexualidade.
Existe a ideia de que o embaraço adolescente é um fenómeno que se está incrementando. A maioria das investigações refere em sua justificação tal preocupação, que mais do que um argumento se tenha convertido num discurso decorrente.
Não obstante, os dados demográficos mostram que o incremento dos embaraços adolescentes é uma ideia enganosa. São o grande crescimento, em termos relativos e absolutos, da coorte de adolescentes e a forte diminuição da fecundidade das mulheres maiores nos últimos 15 ou 20 anos, o que se traduz tanto na maior visibilidade dos embaraços das adolescentes como em ou facto de que, ainda a taxas de fecundidade menores, sejam muito grandes o número e a proporção de filhos nascidos destes.
Outro aspecto que cremos tenha sido mal interpretado é a associação que se estabelece entre o embaraço adolescente e o rápido crescimento da população, que parte do reconhecimento de que as taxas de fecundidade das mulheres menores de 20 anos se têm mantido relativamente elevadas, apesar das campanhas de controle natal promovidas pelo Estado.
A análise demográfica tenha mostrado que os embaraços antecipados se associam com um maior número de filhos ao longo da vida reprodutiva e com espaços inter genésicos mais curtos, em comparação com os de mulheres que postergam sua maternidade. Desta maneira, se coloca que a fecundidade que se apresenta a antecipada idade contribui de modo ostensivo a gerar um crescimento acelerado da população (Stern & García, 2002).
1.4.4. Considerações sociológicas
Cada sociedade estrutura e lega, de geração em geração, um modelo de comportamento e uma aprendizagem sexual, aprovando ou reprovando valores e comportamentos. Algumas dessas gerações introduzem mudanças, e o menino experimenta sobre essa base. No mundo actual, não obstante, a globalização das comunicações e a crescente estandardização das condutas faz com que os valores e os objectos sexuais se estejam universalizando.
Não obstante, muitos povos conservam costumes que marcam a seus membros na aprendizagem sexual. O fazer, tanto como o não fazer, educa. Mostrar o próprio corpo nu comunica uma mensagem e oculta-lo tem outro significado. O permitir aos meninos que toquem de uma forma natural seus genitais educa em uma direcção, e os proibir, noutra. Em qualquer caso, o resultado destas influências e interacções com as experiências pessoais, através da infância e posterior adolescência, estruturarão o comportamento sexual adulto, que será sempre personalizado.
Num contexto familiar e social o menino fará sua aprendizagem da identidade sexual e os papéis masculino e feminino. Estes se adquirem fundamentalmente no lar, com os pares, professores e outras pessoas que actuam como modeladores e reforçadores. Em outra esfera, o menino adoptará comportamentos, acções que levam ao descobrimento do prazer: as autoestimulatorias ou masturbatórias, e as hetero ou homo-estimulatorias. Intentará adquirir suas próprias acções e as irá construindo para toda a vida. Mais falta a etapa onde porá em jogo todo o aprendido, e que consiste em descobrir o amar e ser amado, a intimidade e a capacidade de comunicação nas relações interpessoais.
Um diálogo aberto e livre de tabus entre pais e filhos é fundamental para evitar enfermidades e embaraços não desejados.
Actualmente se tem visto um grande incremento nas relações pré-matrimoniais em ambos sexos, embora que o aumento mais significativo tenha sido manifestado nas mulheres.
Actualmente, muitos jovens têm relações sexuais a muito antecipada idade, que pode ser um intento para conseguir relações sentimentais profundas. Muitos se sentem pressionados a iniciar sua vida sexual por muitos factores: família, amizades, sociedade, etc.
Embora que em geral, se pode afirmar que os jovens não são tão promíscuos como qualquer se pode imaginar; tendem a estabelecer relações sexuais significativas e respeita-las por meio da fidelidade.
1.4.5. Considerações filosóficas
No homem, a união sexual não deve ser considerada meramente como a simples satisfação da necessidade biológica, pois o homo sapiens não é uma criatura simples; seu apetite sexual não é de nenhum modo similar a sua necessidade de alimento ou água. O jovem tem em realidade poderosos impulsos físicos, mais é capaz de domina-los e envereda-los, mais, para se encarregar com êxito destas forças necessita compreende-las.
Um elemento primordial de um novo enfoque do embaraço adolescente é sua preocupação por conceber o fenómeno como um feito eminentemente social, é dizer, que se constrói a partir da intersubjetividade. Sem deixar de reconhecer a importância das implicações na saúde e nos processos demográficos (que não se deixam de lado mas se incluem e se reinterpretam em uma perspectiva mais ampla), se desenvolve além do que aos indivíduos corresponde na construção subjectiva do fenómeno, na interpretação que fazem dele e que finalmente é o que determina sua acção, pouco compreensível em ocasiões para alguns investigadores e agentes das instituições de serviço.
Outro elemento relevante em esta redefinição do fenómeno é o facto de vê-lo em forma dinâmica, é dizer como um processo descontextualizado. Já não falamos aqui genericamente do "embaraço adolescente" como único e universal, mas de suas manifestações num entorno e significado cultural determinados. Com isso se renuncia às pretensões de generalização e se opta por buscar a particularidade do fenómeno nos diversos contextos sócio -culturais e como parte de um processo social mais geral.
Neste último sentido, é importante chamar a atenção sobre a necessidade de situar também o problema do embaraço adolescente no contexto de mudança cultural de longa duração que tem lugar em nossas sociedades em relação com um conjunto de crenças.
2.1. Aspectos qualitativos resultantes das entrevistas
O inquérito que aparece no anexo 1 foi aplicado a um total de 18 adolescentes de Benguela, cujos principais depoimentos são resumidos a seguir. O trabalho foi organizado em entrevistas por idades das raparigas para tirar conclusões conforme a este parâmetro importante.
2.1.1. Adolescentes de 13 anos
Mediante a entrevista tida a primeira adolescente relata-nos que antes de engravidar já havia tido relações sexuais com outro adolescente isto foi aos 11 anos e o rapaz com l3 anos, foi 1 vez nesta idade, tornou a ter relações sexuais aos 13 anos, teve relações 4 vezes com um rapaz de 16 anos.
Adiantou-nos também que teve relações sexuais porque quis fazer experiência e não foi bom, como lhe haviam contado, que depois de ter feito sentiu-se triste em saber que tinha perdido a sua virgindade e que não tinha sido como ela pensava. Ao passo que nas outras relações sexuais sim sentiu um gosto que não sabe explicar a ponto de perder o medo de tudo e de todos esquecendo dos riscos que estava a correr ao ter relações sexuais.
Relata-nos ainda que com relação as suas amigas sente-se bem apesar de muitas terem diminuído a amizade com ela. E com relação aos seus familiares teve problemas no inicio da gravidez onde sofreu agressão física, era tratada com indiferença e frieza, agora tudo voltou ao normal, graças aos seus vizinhos que ajudaram bastante para que houvesse esta reconciliação, e ser aceite no seio da família.
Tem bom relacionamento com os seus vizinhos e amigos. No tocante aos estudos diz ter desistido por sentir vergonha do colectivo e muita preguiça. Agora tem consciência de ter procedido mal ao engravidar, porque agora já não tem o privilégio que tinha antes.
De agora em diante promete lutar para que ela e o seu filho que vai nascer não sofram mais do que já tem sofrido.
Assim sendo decidiu dar sequência aos seus estudos terminar a 7º classe para posterior arranjar emprego e sustentar o seu filho já que o pai de início até aceitou disse que iria assumir mas depois deixou de aparecer e arranjou uma outra namorada dizendo que não quer mais nada com ela. Sobre as DTS costuma ouvir falar, assim como dos preservativos e contraceptivos só que nunca usou. Ela diz não ter usado porque ele dizia sempre que preferia directamente carne a carne e que tinha de ter confiança nele.
Pede que a sociedade preste maior atenção aos adolescentes dando-lhes oportunidades de emprego, cursos para ocupar o tempo livre, dando palestras, debates para ouvir as suas preocupações e se possível orientá-los. Ela diz que a maior parte dos adolescentes carecem de informação, em parte culpa os encarregados de educação de não gostarem de conversar com os seus filhos sobre isso.
Outra adolescente que diz ter 13 anos de idade teve relações sexuais pela primeira vez aos 12 anos, com um rapaz de 14 anos de idade. Salientou-nos ainda que essa relação aconteceu em casa do rapaz no quarto dele, já que eram vizinhos e brincavam sempre juntos. Diz ter tido relações sexuais por curiosidade porque eles queriam saber como era esse fenómeno, visto que ouviam falar de sexo no grupo de amigos e que a maioria deles dizia já ter feito.
É este um caso que merece atenção. Os pais devem velar pelas relações de seus filhos adolescentes, como ficam em casa e com quem. Se estes cuidados se têm podem-se evitar problemas do tipo que analisamos, sabendo que nesta etapa da vida ainda não funcionam devidamente mecanismos e estímulos que tem a ver com a moralidade, o exemplo ou a educação.
Estes adolescentes não usaram o preservativo porque nunca pensaram que ela fosse engravidar logo na primeira vez. Afirmou-nos que logo na primeira relação sexual teve o azar de engravidar, e quando os pais descobriram que estava grávida, ficaram muito aborrecidos com o sucedido porque não era o que previam para o futuro dela por ser muito nova para ser mãe.
Diz que não conseguiu abrir-se com sua mãe por vergonha da mãe saber que com a idade dela já havia tido relações sexuais, e que quando o seu pai se apercebeu do que estava a acontecer pegou nela e bateu-lhe a ponto de lhe ferir. Dias depois seu pai, quem levou-a ao hospital pedindo aos médicos que fizessem interrupção da gravidez. Só que o corpo médico negou a prática deste acto aconselhando os mesmos de que os hospitais servem para dar vida não para tirar e que o corpo médico estaria a colaborar com este crime. Acrescentaram que sendo ela menor de idade corria o risco de vida e colocaram-lhes a escolha ou a vida de sua filha ou a morte caso corre-se mal. Disse-nos também a adolescente não ter gostado do seu primeiro contacto sexual por ter sentido muita dor e nada mais.
Falou-nos do seu relacionamento com seus pais que se tinha tornado num inferno, porque eles passaram a desprezar-lhe, chegando ao ponto de não lhe dirigirem a palavra, também proibiram-na de ir a escola ou sair a rua com vergonha das pessoas aperceberem-se que estava grávida, e lhe diziam que o seu estado sujaria a reputação deles, apesar de estar chateada sua mãe de vez em quando compra algumas roupinhas para o seu bebe que vai nascer.
Suas amigas a desprezam porque os seus pais as proibiam de brincar, andar e conversar com ela, alegando não ser a companhia ideal, porque seriam desencaminhadas por ela, por isso quando se encontra com elas sente-se mal.
O que mais a entristeceu foi a rejeição do moço bem como de sua família chegando a ponto de dizer que a gravidez não era dele, que nunca havia tido relações sexuais com ela e que aquele filho poderia ser de outro menos dele e nem mesmo iria assumir paternidade nenhuma nem queria saber dela. Os pais do rapaz disseram que seu filho era muito novo para ser pai e nem tem idade de engravidar alguém, por outra ele não trabalha e quem paga as despesas dos seus estudos são eles, como irá sustentar esta criança, dizendo que os culpados foram os pais da menina que não souberam educa-la por isso têm uma filha irresponsável, assanhada e duma filha assim só se poderia esperar isso.
Ela disse-nos ter saído dali num estado pior do que ela já estava, desmoralizada, sem ânimo para nada só pensava em morrer. Seus pais aborrecidos com tudo aquilo levaram-na para casa. Seu pai lhe disse que a partir daquele momento se esquece dele, era como se tivesse morrido.
Disse- nos que em parte os seus pais foram culpados porque nunca tiveram um diálogo aberto com ela, proibiam-lhe de assistir novelas dizendo que isso só ensina malandrices as meninas e aos meninos, e que seus pais eram muito fechados no que se refere ao assunto da sexualidade. Disse-nos que não sabe o que será da sua vida daqui em diante, Deus é quem sabe, e que é muito chato engravidar com a sua idade.
Temos aqui um caso típico de incompreensão paterna e de procedimento inadequado. Já muitas vezes ouvimos falar de consequências lamentáveis uma vez que a menina fica num estado de isolamento e costas viradas por parte de pais, amigos, e do rapaz que a engravidou.
Esta menina, como a imensa maioria das entrevistas, nunca ouviu falar das Doenças de Transmissão Sexual (DTS) nem dos preservativos ou contraceptivos, e que era a primeira vez que ouvia de nós. Talvez seja por falta desta educação sexual ou ainda por não possuir uma televisão ou rádio em casa; o pouco conhecimento que tem sobre sexo o adquiriu por si, por curiosidade sua. Hoje sofre porque, se ela tivesse este conhecimento de usar o preservativo ou contraceptivos nunca teria engravidado, disse-nos que fez l3 anos dia l8 de Dezembro de 2OO4.
Eis a importância da orientação e da educação sexual. Poderia se ter evitado esta gravidez precoce embora que o acto sexual tivera acontecido. É válido mesmo advertir que o risco de contrair uma DTS também fica contido nesta observação.
Esta adolescente queria deixar um conselho para outras meninas que ainda não engravidaram que não convém tentar é de preferência se guardar para o casamento do que ter que suportar o desprezo de seus pais, a humilhação, a rejeição das pessoas que mais gostas, diz estar a viver uma experiência difícil, nem sabe como vai nascer este bebé, que a partir do momento que conversou connosco se sentia outra, mais aliviada porque não tinha com quem desabafar, estava a sentir-se melhor, porque desde Outubro do ano passado que deram conta que estava grávida nunca mais ninguém lhe deu atenção. Hoje através de nós adquiriu alguma experiência. Assim como estamos a fazer hoje, se pudéssemos faze-lo com mais adolescentes seria muito bom.
|
|