Esta conferéncia faz parte do ciclo dedicado a Abel Salazar. Começo por isso por referir que, desta not?vel figura, se pode afirmar que tratar-se de um homem da Renascença no sentido de praticar um conjunto de actividades que configuram uma aspira o a um conhecimento total do mundo. De facto, sendo cientista, filósofo, artista plástico e resistente ao fascismo, pode também dizer-se que nada do que é humano lhe era estranho. Temos também a sensaçao de que homens deste tipo, com esta abertura ao mundo e sua diversidade, já nao existem.
Para além disso a música será talvez um dos Ò lugaresÓ privilegiados para constatar o fim da Renascença, tomado no seu sentido mais amplo - em última análise, a modernidade? - como fim do per?odo em que os humanos partiram em busca das suas próprias respostas face aos mist?rios do mundo.
Leonard B. Meyer, no seu livro Music , Art and Ideas, de 1964, levanta esta hipótese partindo de uma análise impressionante das conquistas de territórios em todas as assepçoes da palavra, verificadas nesse período de cerca de 500 anos. Se, durante todo esse período, havia sempre um qualquer "novo" a descobrir em todo o horizonte inter-mundano, Meyer considera que se completou historicamente esse processo global e, nesse quadro, aponta como previsao de extraordinária premoniçao, a emergéncia de uma fase na História da Música e das práticas musicais de coexisténcia, no mesmo momento histórico, de uma pluralidade de estilos, de diferentes orientaçoes estéticas, de cortes estilísticos mesno no interior de uma única obra. Dificilmente a sua previsao se poderia ajustar melhor ao que de facto se verificou de 1964 até hoje.
António Pinho Vargas
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