Ulpiano Bezerra De Meneses A Cultura Material No Estudo Das Sociedades Antigas
5767 palavras
24 páginas
A cultura material no estudo das sociedades antigasUlpiano T. Bezerra de Meneses
Departamento de História — FFLCH/USP
Embora o título desta exposição (*) privilegie o campo da História
Antiga, o problema a que se refere permeia todos os domínios da História . Certamente, no caso da Antiguidade, ele é crucial, pela raridade e fragmentação das fontes escritas . Meu propósito aqui, porém, não é montar uma apologia da cultura material, mas lançar algumas pistas para refletir sobre o alcance de um tipo de documento, as coisas físicas, como campo de fenômenos históricos, sem o qual a compreensão de uma sociedade se vê comprometida. Esta reflexão é tanto mais necessária quanto se verifica, ainda, o descaso habitual dos historiadores
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Londres, Routledge and Kegan Paul, 1978: 109-130.
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os arqueológos deveriam trazer sua colaboração: sistemas de ocupação e manejo do solo, assentamentos rurais, localização espacial de lápides epigráficas, distribuição física de funções urbanas, criação e horticultura no interior das cidades, ocupação de espaços "suburbanos", reconstruções e renovações de edifícios públicos e comerciais, movimentos de moedas, contextos de importação de manufaturas, estatísticas de uso, inventários de objetos domésticos, sociologia de cemitérios, morfologia e fisiologia de estruturas militares, etc . Todavia, ela também deixa de reconhecer ao mundo material sua especificidade. Para ela, como para Gomme e seus colaboradores, o emprego da informação arqueológica se esgota no "suplemento" às "evidências rarefeitas das fontes literárias". Infelizmente, até mesmo historiadores tão completos como Moses Finley (5) ou, fora da área antiga, Eric Hobsbawm (6), explicitamente atribuem tal serventia à investigação arqueológica, reforçando o status, que os antigos manuais de História lhe conferiam, de "disciplina ancilar da História". Finley chega mesmo a declarar que há cincunstâncias em que a documentação escrita tornaria redundante a pesquisa arqueológica, porque viria apenas corroborar informação já disponível para o historiador .
A terceira postura se pauta pelo uso "didático" das informações sobre o universo