Tenório - Miguel Torga

1223 palavras 5 páginas
A PERSONIFICAÇÃO DE TENÓRIO
FRENTE À SELEÇÃO “NATURAL” E AO CICLO INEXORÁVEL DA VIDA

João Gabriel F. A. Neves

São dez bichos que encontramos nas breves páginas do pequeno volume que se lê em poucas horas, mas que não se esquece mais. Porque o livro é marcado pela diversidade de tipo – permita-se que diga humanos – e de situações; porque a concisão do discurso não dispensa os momentos de distensão por vezes lírica, em que nos comprazemos com a notação de uma paisagem, de uma reflexão, de uma expansão de alegria, de dúvida, de dor, de amarga decepção. (BERARDINELLI: 1996, 2-3).

Num dos contos publicados no livro Bichos, do consagrado escritor português Miguel Torga, o galo Tenório (protagonista do conto homônimo), assim como a maioria dos animais das histórias que compõem esse livro, tem características humanas. O que se pretende neste ensaio, portanto, não é reafirmar essa personificação evidente, mas observar como ela é construída e se relaciona com temáticas de relevo no texto, como o ciclo inexorável da vida e a seleção “natural” por qual passa o galo, sem se distanciar do perfil interiorano no qual o conto é desenvolvido. O primeiro sinal de humanização do galo é cronológico, já que ele possui data e hora de nascimento: “em doze de janeiro, pelas três da tarde, quando a velhota o viu sair da casca” (T,69). Esse momento, observado com otimismo por Maria Puga, sua dona, delimita o início do ciclo de vida dessa ave, que será marcada por sucesso, fracasso e

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