Temáticas em Cesário Verde
Na obra de Cesário Verde cruzam-se vários temas ou questões: a humilhação, a oposição cidade/campo, a imagética feminina e a questão social.
1.1.POETIZAÇÃO DO REAL
As deambulações de Cesário Verde, “o poeta-pintor”, quer pela cidade, quer pelo campo, permitem-lhe captar o quotidiano com objectividade e pormenor, mas também com a subjectividade própria da sua imaginação transfiguradora. O sujeito poético metamorfoseia a realidade quotidiana numa outra realidade por si imaginada. De facto, Lisboa é, no tempo de Cesário, uma cidade de con¬trastes. E ele retrata-a, realçando a arquitectura antiga e os bairros mo¬dernos, onde se instala a nova burguesia. (Num Bairro Moderno)
É na captação do real que …exibir mais conteúdo…
Jacinto do Prado Coelho acentua a sua proximidade do Naturalismo pela pretensão de objectividade e pela fidelidade à "estética do positivo e do sincero", com alusões "a Balzac, a Taine e a Spencer", com um vocabulário "cheio de termos concretos, alguns deles técnicos ou de linguagem familiar, e com uso abundante de adjectivos, "para dar o contorno exacto dos homens e das coisas": "Sobre os teus pés decentes, verdadeiros/As saias curtas, frescas, engomadas".
Para Óscar Lopes, a dimensão realista/naturalista reside antes numa visão crítica da sociedade, numa profunda reflexão sobre as condições sociais e psicológicas da produção económica ("Nós") e na denúncia das frustrações históricas portuguesas - o sofrimento citadino em O Sentimento dum Ocidental é histórico e não meramente decadente e literário.
Cesário Verde, republicano activo, conhece a teoria da "sobrevivência do mais forte" e, em resultado da sua observação atenta e minuciosa da realidade social, conclui que "os mais fortes", os que irão sobreviver, não serão os membros da "geração exangue dos ricos", mas o povo comum com "riqueza química no sangue", com que passa a solidarizar-se. Ao identificar-se com o povo, Cesário recusa o modo de vida burguês e urbano, a supremacia da cidade sobre o campo e o desenvolvimento industrial acalentado, na altura, pela burguesia citadina.
Já no diálogo (?) entre a vendedeira e o criado do poema Num Bairro Moderno é visível esse conflito e se detecta a posição