Resumo da 1ª parte do livro "cortei as tranças"
PRIMEIRA PARTE
1
Pensando bem, até podia considerar-me uma felizarda. Não tinha necessidade de me levantar muito cedo, não precisava de andar atrás dos autocarros, nem mesmo de me preocupar com a compra da senha para almoçar na cantina da escola. E, por mais estranho que pareça, durante os dois anos que lá andei, fui sempre a última aluna a entrar na sala à primeira aula da manhã.
A princípio, as desculpas que sempre se arranjam para estas falhas ainda deram resultado. Por causa desses atrasos tive alguns problemas. Resolvi-os como pude e não me apetece estar agora a contá-los, tão miudinhos eles foram.
É que eu morava mesmo em frente da escola preparatória. O meu despertador natural era, como se está mesmo a ver, a campainha.
Uma vez “essa cabra”, como dizia meu pai, esteve nas férias da
Páscoa a tocar de quarto em quarto de hora, dois dias e duas noites. Não suportando mais aquele barulho infernal que despertava também os cães, meu pai, a chispar fúria por todos os cantos da casa, a meio da noite, foi discutir com o senhor Fortunato, o guarda-nocturno da escola:
— Ó homem, por alma de quem lá tem, cale-me essa cabra. Desligue a luz e acaba-se-lhe com o pio!
— Não posso! Ó Adérito, se você soubesse o que eu tenho passado... Essa geringonça deve estar em curto-circuito, ou então deu o badagaio a alguma peça, não percebo!... Que consumição! E de noite o diabo do brinquedo até parece que me joga com as paredes contra a cabeça.
—