Por uma ética da responsabilidade solidária
. Capítulo 8
[texto extraído de: J. M. Sung e J. C. da Silva, Conversando sobre Ética e Sociedade. Rio, Ed. Vozes, 1997]
Durante as nossas “conversas” tentamos ir tornando mais claro o que é ética e as implicações éticas da vida em sociedade. Cremos que já temos informações suficientes para tirar algumas conclusões.
Como vimos, na modernidade tentou-se substituir a moral essencialista da Idade Média, que regulava todas as esferas da vida social, pela moral Individualista, onde cada um é, ao mesmo tempo, o seu próprio legislador e juiz. E aquele que cria as regras de conduta pessoal e as aplica de acordo com critérios racionais e seus interesses pessoais. Assim, a moral se …exibir mais conteúdo…
Não estamos aqui defendendo que as dívidas não devem ser pagas, estamos apenas ilustrando como uma ética de princípios a priori, como a do capitalismo, pode funcionar em uma situação e ser desastrosa em outra. Levar em conta somente aquilo que é certo dentro de uma esfera particular sem levar em conta o conjunto pode transformar uma ação aparentemente racional em irracional de um ponto de vista mais amplo.
A moral individualista, da defesa do interesse pessoal, articulada com a moral essencialista das instituições modernas, produz progressos técnicos que geram injustiças sociais e aplicações cínicas de normas e princípios que pioram ainda mais a situação dos pobres e dos mais fracos.
Como podemos observar, a moral do sistema capitalista se opõe a uma ética da responsabilidade por não considerar os efeitos de suas ações sobre outros seres humanos, ou só levar em conta o seu mundo e interesse particular, desconsiderando a maioria dos que estão fora dele.
Nós mesmos dificilmente enxergamos claramente onde estão as causas dos problemas sociais. Ficamos indignados quando vemos as pessoas sofrendo nas filas dos hospitais ou quando vemos pela TV milhares de pessoas morrendo de fome num recanto qualquer do mundo. Mas geralmente nossa indignação não se transforma em ação concreta. No meio do caminho entre nossa indignação ética e nossa ação está a pergunta: “O que posso