O egito e o antigo oriente próximo
1. A etapa tardia da Idade do Bronze em seu apogeu: aproximadamente
1500-1200 a.C.
1.1. As relações internacionais no Oriente Próximo: generalidades Tomarei com base para a análise um corpus de fontes do século XIV a.C.: os documentos de Amarna. Deixando de lado uns poucos textos de outros tipos, trata-se de 350 cartas e inventários, na forma de tabuinhas de argila inscritas em cuneiforme, tendo sido os documentos na sua esmagadora maioria redigidos na língua das relações internacionais da época, o acadiano (em certos casos, com forte influência do hurrita e do semita ocidental cananeu da Síria-Palestina). Supõe-se que o arquivo onde foram …exibir mais conteúdo…
Estes grandes reis tratam-se de "irmãos" e, nessa qualidade, trocam presentes entre si. As quantidades às vezes surpreendentemente elevadas de bens que circulavam desta maneira mostram que o fato de chamá-los de "presentes" era simplesmente a moldura ideológica convencionada para caracterizar uma boa parte, se não a maioria, das trocas que abasteciam os diferentes reinos em matérias-primas diversas e artigos de luxo. A ética dessa correspondência levava a que se salientasse o caráter
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Hélade 1 (1), 2000: 17-37 bilateral exclusivo da relação entre reis (estes entravam em contacto dois a dois, com exclusão de um terceiro qualquer; embora na prática, em paralelo, cada um dos correspondentes também se relacionava bilateralmente com o terceiro em questão) e o valor de uso, não o de troca, dos bens que circulavam de um sistema palacial ao outro. Ao mesmo tempo, era um artifício retórico corrente a depreciação dos bens recebidos, seja alegando que não correspondiam às promessas feitas antes de seu envio, seja afirmando que tais bens eram excessivamente abundantes no país de origem. Vamos exemplificar estes diferentes elementos com a correspondência de Amarna; é bom salientar, porém, que a documentação relativa ao período posterior que corresponde ao apogeu raméssida (o século XIII a.C.) apresenta exatamente as mesmas