O Pássaro da Cabeça
A Ana quer nunca ter saído da barriga da mãe.
Cá fora está-se bem, mas na barriga também era divertido.
O coração ali à mão, os pulmões ali ao pé, ver como a mãe é do lado que não se vê.
O que a Ana mais quer ser quando for grande e crescer é ser outra vez pequena: não ter nada que fazer senão ser pequena e crescer e de vez em quando nascer e voltar a desnascer.
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Era uma vez
A Ana lê muito devagar, só uma letra de cada vez.
Enquanto ela está a só uma letrar, a Sara letra duas ou três.
A Ana tem tempo de lá chegar.
Os pês, os tês, os bês, os mês, não fogem se ela se demorar.
A Sara acaba e começa outra vez.
A Ana lê e põe-se a pensar nos quês, nos porquês, nos Para quês, e volta atrás para confirmar porque, afinal de contas, talvez.
A Sara prefere entrar nas palavras, nos desenhos, e ficar.
Existir nas histórias, em vez de ver, viver; em vez
de pensar, de pausar, de perspicar, ser ela a ser o que o herói fez.
Sai dos livros sem sair do lugar e corre o mundo de lés a lés.
A Sara lê assim, a Ana mais devagar, e depois ficam as duas a conversar.
A Ana conta: “Era uma vez...”
E a Sara: “Era eu uma vez...”
A SOPA DE LETRAS
Era uma vez um menino que não queria sopa de letras.
Podiam lá estar coisas bonitas escritas, mas para ele era tudo tretas. . .
Podia lá