Crie Uma Sereia So Para Voce
Marina Carr
A criança inclinou-se sobre a mesa de fórmica azul e leu o anúncio, seus pequenos dedos encardidos deixando rastros de caracol sob as palavras – CRIE UMA SEREIA SÓ PARA VOCÊ.
Pasma, a criança olhou para as palavras, leu-as novamente, desta vez com mais cuidado, devagar. O mesmo. Sob o título havia um desenho a tinta de uma pequeníssima sereia num aquário redondo, acenando e sorrindo. Atrás dela, um cavalo marinho sorria também. A criança, encantada com o sorriso da sereia, retribuiu o sorriso e acenou constrangedoramente para a bela mulher-peixe. Envie 25 centavos, dizia o anúncio, e lhe remeteremos as sementes de sua sereia e de seu cavalo-marinho. Você as coloca na água e elas crescem e podem até mesmo falar com você. A criança imaginou-se acordando à noite e indo até o aquário bater um papo com a sereia.
De que falavam as sereias, questionou-se a criança.
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A mãe da criança mexia o feijão numa panela sobre o fogão e suas costas moldadas por um espartilho preto movimentavam-se em ondas sincronizadas com o movimento da colher. Perto do fogão, Vó Blaize procurava por algo há muito esquecido. Esticava os dedos acima da cabeça procurando apanhar alguma coisa no ar. A criança olhou para ela e então a mãe da criança virouse para olhar também, ainda mexendo o feijão, de lado agora. Tanto a mãe quanto a criança viram quando Vó Blaize puxou algum tesouro invisível até o chão. Ela sentiu-se observada e lançou um rápido sorriso, um