Comida de rua
Almir Chaiban El-Kareh e Héctor Hernán Bruit
Gostaríamos de verificar, neste trabalho, como e em que medida os anúncios dos jornais podem servir como fonte para a história social da alimentação no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX. Interessa-nos, aqui, apenas a análise dos espaços privado e público da produção e do consumo de alimentos, ou seja, o doméstico e o comercial, inclusive as pensões, que se situavam na fronteira entre estes dois espaços.
Pressupomos que o crescimento econômico da cidade do Rio de Janeiro, a partir de 1850, fortemente estimulado pela implantação de numerosas linhas transatlânticas de navegação a vapor …exibir mais conteúdo…
Do total desses anúncios, apenas um terço era de bons cozinheiros e cozinheiras, deixando entrever que a gastronomia ocupava uma posição secundária nas preocupações da família carioca, que se contentava com uma cozinha trivial.
Apesar de não haver distinção de gênero em relação aos serviços domésticos, era pequena a procura por escravos do sexo masculino “para todo o serviço de uma casa”, e muito mais corrente a oferta dos que só realizavam uma tarefa. E a procura por empregados domésticos com habilidades específicas procedia das famílias ricas. No entanto, a maior parte dos escravos, mesmo quando adquiria uma qualificação profissional como a “boa preta, perfeita costureira, cozinha e entende do arranjo de casa, levando uma filha de 6 a 8 anos de idade, ambas falam bem o francês”, 4 realizava todo tipo de tarefas domésticas, como lavar, engomar, coser e cozinhar, além de ser mucama, arrumar a casa e fazer compras, e até mesmo ser quitandeira, ou seja, vendedora
CPDOC/FGV
Estudos Históricos, Rio de Janeiro, nº 33, 2004
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ambulante, ainda que pudesse ser mais qualificada para algumas delas, como se pode ver no anúncio: “Aluga-se uma preta quitandeira, doceira, cozinheira, lavadeira, engomadeira, e muito diligente em todo o serviço”. 5