A terceira margem do rio
Este trabalho tem por objetivo fazer uma breve análise semântica do conto “A terceira margem do rio”, do aclamado escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967), presente em seu livro Primeiras estórias (1962). Trata-se de um texto que permite várias interpretações e análises, motiva diversas discussões e reflexões, além de ser fonte para intertextualidades em outras linguagens artísticas: em 1991 Caetano Veloso e Milton Nascimento lançaram um poema-canção de mesmo título, presente no CD Circuladô. Já no cinema, o cineasta Nélson Pereira dos Santos dirigiu o longa A Terceira margem do rio (1994), onde seis contos transformam-se numa só estória, com predominância do conto A menina de lá (pouco é retratado o conto homônimo …exibir mais conteúdo…
As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s’embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa. No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde