A câmara clara - roland barthes (resumo)
ROLAND BARTHES
RESUMO
Meu interesse pela Fotografia adquiriu uma postura mais cultural. Decretei que gostava da Foto contra o cinema, do qual, todavia, eu não chegava a separá-la. Em relação à Fotografia, eu queria saber o que ela era “em si”, por que traço essencial ela se distinguia da comunidade das imagens. Eu não estava certo de que a Fotografia existisse, de que ela dispusesse de um “gênio” próprio.
A Fotografia é inclassificável. O que a Fotografia reproduz ao infinito só ocorre uma vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente. Ela reduz sempre o corpus de que tenho necessidade ao corpo que vejo; ela é o Particular absoluto.
Uma foto não pode ser transformada filosoficamente, ela está inteiramente lastreada com a contingência de que ela é o envoltório transparente e leve. A Fotografia é sempre apenas um canto alternado de “Olhem”, “Olhe”, “Eis aqui”. É por isso que, assim como é lícito falar de uma foto, parecia-me improvável falar da Fotografia.
Tal foto, com efeito, jamais se distingue de seu referente. Perceber o significante fotográfico não é impossível, mas exige um ato segundo de saber ou de reflexão. Diríamos que a Fotografia sempre traz consigo seu referente, ambos atingidos pela mesma imobilidade amorosa ou fúnebre, no âmago do mundo em movimento. A Fotografia pertence a essa classe de objetos folhados cujas duas folhas não podem ser separadas