Estruturas da territorialidade católica no Brasil



Resumo

Este ensaio, sob o título "Estruturas da Territorialidade Católica no Brasil" foi construído a partir da análise de que a Igreja Católica Romana mantém estratégias de expansão e preservação que são capitaneadas por determinadas estruturas da territorialidade do sagrado. A presença da Igreja Católica em realidades cada vez mais urbanas e cosmopolitas demonstra vários arranjos institucionais na manutenção da hegemonia territorial do sagrado diante do processo de secularização e da diversidade de identidades religiosas não-católicas. A cidade brasileira hodierna é a realização de um mundo secularizado que outrora fora eminentemente eclesiástico. Muito embora a secularização do território das práticas sociais sejam evidentes os espaços de representação do sagrado e as práticas religiosas permeiam a dinâmica social da cidade. Neste sentido, a secularização é muito mais o processo de perda da autoridade eclesiástica sobre a cultura contemporânea do que propriamente um desterro do sagrado. Relacionamos o plano discursivo com a interpretação simbólica da prática espacial da Igreja galvanizada pelas relações de poder.

Palavras-Chaves: religião, territorialidade, Igreja católica.

Structures of catholic territoriality in Brazil (Abstract)

This essay, under the title "Structures of Catholic Territoriality in Brazil" was built on the premise that the Roman Catholic Church maintains expansion and preservation strategies which are led by certain structures of the territoriality of the sacred. The presence of the Catholic Church in gradually more urban and cosmopolitan realities demonstrates several institutional arrangements in the maintenance of the territorial hegemony of the sacred before the secularization process and the diversity of no-Catholic religious identities. The present Brazilian city is the realization of a secularized world which once was eminently ecclesiastical. Although, the secularization of the territory of social practices is evident, the spaces of the representation of the sacred and the religious practices are among the social dynamics of the city. In this sense, the secularization is much more the process of loss of the ecclesiastical authority in the contemporaneous culture than a proper exile of the sacred. We relate the discursive plan with the symbolic interpretation of the spatial practice of the Church which is galvanized by the relationships of power.

Key Words: religion, territoriality, Catholic Church.

A presença da Igreja Católica em realidades cada vez mais urbanas e cosmopolitas, nas últimas três décadas, demonstra vários arranjos institucionais na manutenção da hegemonia territorial do sagrado diante do processo de secularização e da diversidade de identidades religiosas não-católicas[1].

A cidade brasileira hodierna é a realização de um mundo secularizado[2] que outrora fora eminentemente eclesiástico. Muito embora a secularização do território e a laicização das práticas sociais sejam evidentes os espaços de representação do sagrado e as práticas religiosas permeiam a dinâmica social da cidade. Neste sentido, a secularização é muito mais o processo de perda da autoridade eclesiástica sobre a cultura contemporânea do que propriamente um desterro do sagrado. Como lembra Esposito (1996, p.17-19), o processo de modernização e urbanização provoca rupturas no tecido social e traumas culturais. O desenvolvimento dos países do hemisfério sul fundamentados na laicização e ocidentalização progressivas da sociedade, principalmente em contextos urbanos, considera a religião um fator político-social anacrônico. Contudo, a grande segregação econômica e social urbana no fim do século XX beneficiou muito mais as elites. Neste bojo da materialidade social, a secularização das instituições e dos afazeres administrativos encontrou barreiras consideráveis quando transportada para a instância cultural dos costumes. De qualquer modo, a década de 1990 representou, especialmente no meio urbano, o clímax de um processo de reavivamento do sentimento religioso, principalmente em contextos de injustiça social ou desenraizamento cultural e religioso.

A Igreja Católica tradicionalmente caracterizou o processo de secularização como um indício de perigo para os seus interesses. No entanto, a exortação apostólica Evangelii Nuntiandi de 1975 (§ 55 e 56) relativiza a secularização como sendo mais uma autonomia em relação à religião do que uma negação da dimensão religiosa.

Ao se referir aos não-crentes, o documento representa a incredulidade como uma faceta específica da modernidade. Utiliza-se de uma distinção sutil entre secularismo e secularização. No que tange ao segundo termo, considera-o como legítimo e compatível com os ditames da fé e da religião, como sugere o Concílio Vaticano II. Quanto ao secularismo, coloca-o, sobre a base tipicamente atéia e que de forma militante nega a legitimidade de Deus, sendo desenraizadora da identidade cristã.

Sob este ponto de vista, a realidade urbana contemporânea seria intrinsecamente palco privilegiado da secularidade. Contudo, esta assertiva não pode ser tomada de modo absoluto e universal. As especificidades regionais modificam a maneira como a territorialidade do sagrado se estrutura.


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