Prefaciando a obra Apologia da história, de Bloch,1 Le Goff lembra aos pesquisadores a necessidade de se fazer a boa história para ensinála, fazêla ser amada e não se esquecer de que, ao lado de suas necessárias austeridades, a história tem seus gozos estéticos próprios. Embora o autor de O pensamento mestiço diste mais de cinqüenta anos da obra de Bloch, firme algumas reticências aos fundadores dos Annales e apresente severas críticas ao europocentrismo acadêmico, a sintonia quanto à função da história, a concepção sobre o tempo presente, a erudição, o zelo e trato pelas fontes e o ruminar dos conceitos em torno do tema analisado tornam ambos os historiadores muito próximos.
Quer dizer, ao lado do necessário rigor ligado à erudição e à investigação dos mecanismos históricos, existe a volúpia de apreender coisas singulares, exigências caras a Bloch e Gruzinski.
A preocupação com a finalidade da escrita da história é também muito bemvinda hoje: evitem retirar da ciência sua parte de poesia. Esse apelo de Bloch parece ser pertinente aos acadêmicos de graduação e pósgraduação, aos pesquisadores enfim, quanto ao cuidado para que a ditadura das notas de rodapé e o localismo temático não embruteçam a história e, conseqüentemente, a tornem odiada, repugnante e supérflua. A ligação com o presente possivelmente a tiraria do malogro de ser ciência do passado. Mero capricho para tornála midiática e vendável? Não, para atender a uma finalidade heurística, possivelmente diria Gruzinski, porque a volta ao passado é apenas um modo de falar sobre o presente, pois o estudo das mestiçagens de ontem levanta uma série de indagações que permanecem atuais.
Frank Antonio Mezzomo
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