O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) surge em 1984 como, entre outros fatores, reação à exclusão social e econômica pela qual passavam os trabalhadores rurais. Desde sua criação tem se expandido no território nacional, assim como se tornou um dos maiores movimentos presentes no âmbito rural da América Latina. Nas análises/estudos desse movimento, em especial oriundas da sociologia, tem surgido diferentes olhares em relação à atuação, organização e bandeiras de luta do MST. Para certo grupo de autores, o MST não teria conseguido acabar, mesmo em relação aos seus membros, com as formas de tutela existentes no meio rural brasileiro, ou seja, estas teriam apenas mudado de forma, no sentido de que inexiste sujeito autônomo no movimento, devido a forte presença do centralismo democrático e dos mediadores, os quais falariam em nome do camponês. Para outro grupo de autores, o MST teria desenvolvido uma forma própria de educar e gestar sujeitos sociais, com autonomia e conscientes de suas ações, entendendo que a luta do movimento transcende a questão da terra. Face ao exposto, a pesquisa procura analisar como ocorre a construção do sujeito no movimento, na fase atual, levando em conta: as posições mais polarizadas em relação ao mesmo; os antecedentes históricos da luta pela terra e a posição do camponês na sociedade brasileira. Sendo assim, observa-se o integrante do MST verificando as mudanças ocorridas na sua vida, após fazer parte do movimento, assim como suas potencialidades, empoderamento, compreensão do significado das lutas pela terra e da atuação do MST, entre outros. Tendo em vista uma série de fatores (distância geográfica, tempo, aspectos financeiros) esta pesquisa limitou-se a um estudo de caso – Assentamento Eldorado dos Carajás –, na região de Lebon Régis em Santa Catarina. Dessa forma, esse estudo não poderá ser representativo do movimento como um todo, mas apenas consiste num esforço de procurar entender os aspectos supracitados a fim de contribuir para a discussão e o avanço das pesquisas relacionadas ao tema, em especial sobre a democratização no meio rural.
Palavras-chaves: sem-terra, sujeito, autonomia, democracia.
ABSTRACT
The Landless Worker´s Movement of Brazil (MST) appears in 1984 as a reaction, among many factors, to social and economic exclusion peasants were undergoing at that time. Since its creation it has expanded nationwide, becoming one of the greatest social movements present in rural settings in Latin America. Regarding analyses and studies centered on this movement, especially those related to sociology, many perspectives have emerged as to the MST's action, organization and agenda. For a certain group of authors, the MST was not able to end existing forms of patronization present in Brazil's rural settings, even within the movement itself, i.e., they would have undergone a change in form only, in the sense that the autonomous subject is still inexistent among the movement's members, due to democratic centralism and the mediators who speak in the name of the peasant. For another group of authors, the MST would have developed a particular way of educating and generating social subjects, autonomous and conscious of their actions, who understood that the movement's struggle transcends the land ownership issue. In face of this, this research seeks to analyze the process of construction of the movement's subject nowadays, taking into account the polarized positions on the subject, the history of land struggles, and the situation of the peasant in Brazilian society. Thus, the MST member is observed and the changes in one's life after taking part in the movement are perceived, as well as one's potential, empowerment, understanding of the meaning of land struggles, and the MST's action, among others. Due to a series of limiting factors (geographical distance, time, financial aspects) this research has limited itself to a single case study - the Eldorado dos Carajás Settlement - in Lebon Régis, Santa Catarina. Thus, the study cannot be representative of the movement as a whole, but it consists nevertheless of an effort to understand aspects previously listed in order to contribute to discussion and research related to this topic, especially those concerning the democratization of rural settings.
Keywords: landless, subject, autonomy, democracy.
Em razão de uma série de fatores, principalmente da concentração de terras[1]e da pobreza, em especial no meio rural brasileiro, surgiram os movimentos sociais rurais, tais como, por exemplo, as Ligas Camponesas, Canudos, Contestado, MST, entre outros. De certo modo, essas manifestações expressam uma resistência a naturalização da opressão e miséria em que vive grande parte da população brasileira, ou seja, reivindicam o direito de ser, em especial sujeito, com reconhecimento para participar da vida pública, assim como ter respeitado seus direitos e assegurar oportunidades iguais. Boff (2006) retrata, de modo emblemático, as sutilezas que engendram a naturalização dessa desigualdade:
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