Em artigo sobre os estudos sobre folclore no Brasil, Mário de Andrade – em 1939 – alertava sobre certa “ingenuidade” da sociologia, tomada como exemplo de um amálgama de missionarismo e salvação, curioso sebastianismo engajado que grassava naqueles anos de 1930 e arrefeceria um tanto a partir dos nos 1940. Já Guerreiro Ramos, em 1953, exercia certo papel que sugere desconfortável, mas ao qual se adaptaria tão bem ao ponto de sentir algum prazer sádico no cumprimento da missão, a saber, de encarnar a consciência incômoda da sociologia brasileira. Sociologia brasileira ou sociologia no Brasil? Ainda não se sabia (e talvez ainda não o saibamos), o fato é que tal questão só faria sentido com o transcorrer dos anos 1950, período no qual a sociologia brasileira perdeu aquela sua “ingenuidade” apontada por Mário de Andrade.
Já no começo do séc. XX no Brasil a sociologia foi marcada pelo caráter engajado e missionário, de crítica às mazelas do país e da (des)organização da República que se consolidava, de descontentamento com as elites políticas e culturais e a postulação de reformas por meio da reordenação política – a partir da sociedade ou do Estado - pelo alto, pelo saneamento dos dirigentes, pelo preparo das elites, principal rumo para um país ao qual faltaria um povo e cujas elites estariam corrompidas.
Na década de 1930 a institucionalização é o fato novo, a criação das universidades e das faculdades de ciências sociais traz ao cenário as missões estrangeiras, o zelo acadêmico, a publicação especializada, o ensino da sociologia como disciplina e as entidades de classe. Já os anos 1940 serão de procura de vocações e nichos institucionais e de pesquisa, bem como de afirmação, o que ocasiona a preocupação com a viabilização teórica (e temática), operacional, de alocação de recursos e de quadros para continuidade e rotinização de procedimentos.
Edison Bariani
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