Resumo: Inaugurando, no Collège de France, a 7 de janeiro de 1977, a cadeira de semiologia literária, Roland Barthes pronunciou uma aula magna, designada Leçon, texto dado à luz em 1978, que se constituiu no ponto de partida para a "aventura semiológica", capitaneada pelo consagrado escritor. Passadas quase três décadas dessa pronunciação e tendo tomado diversos rumos a semiologia, não apenas a semiologia de cariz literário, fundada segundo o paradigma da lingüística, estruturada por Ferdinand de Saussure, convém investigar até que ponto as ponderações barthesianas ainda produzem significações e para quais horizontes elas apontam, sobretudo sob uma perspectiva semiológica, que enfoque questões de ensino, saber e poder.
Palavras-chave: Roland Barthes; Semiologia; Ensino; Saber; Poder.
Abstract: Inaugurating, at the Collège de France, the 7th January 1977, the chair of literary semiology, Roland Barthes pronounced a lesson, named Leçon, published in 1978, which has become the starting of a "semiological adventure", leaded by the famous writer. Almost three decades ago, semiology has taken different directions, not only literary semiology, founded on the linguistic paradigma, structured by Ferdinand de Saussure, it should be investigated Barthes"s considerations in that lesson and its production of meanings and towards which horizons these reflections point out, mostly under a semiological perspective, concerning teaching, knowledge and power.
Keywords: Roland Barthes, Semiology, Teaching, Knowledege, Power.
"Je suis moi-même mon propre symbole, je suis l'histoire qui m'arrive: en roue libre dans le langage, je n'ai rien à quoi me comparer (...)." "Innombrables sont les récits du monde."
Roland Barthes
O título deste breve ensaio remete, explicitamente, ao título do livro de Pierre Bourdieu - Lição da aula1 (Leçon sur la leçon, 1982) -, que constitui o texto da aula inaugural que o sociólogo francês proferiu, dia 23 de abril de 1982, no Collège de France. Nessa mesma famosa instituição da capital francesa, Michel Foucault (1926-1984), pronunciara, em 1970, a aula magna, intitulada "A ordem do discurso". A 7 de janeiro de 1977, Roland Barthes (1915-1980) inaugura, no Collège de France, a cadeira de semiologia literária com um texto, denominado Leçon. Passadas quase três décadas desse discurso do semiólogo de Cherbourg, perguntamo-nos que lições podem-se tirar de sua semiologia inaugural ou, em outros termos, que significações essa aula ainda engendra, no campo semiológico, quanto às questões do ensino, do saber e do poder.
Sabe-se que Roland Barthes (1915-1980) foi impossibilitado, tanto pela doença - uma tuberculose, que o prendeu, por vários anos, no sanatório Saint-Hilaire de Thouvet, nos Alpes franceses -, quanto por uma situação financeira precária, de "prestar o concurso de "Normal superior' e portanto de aceder à prestigiosa elite universitária" (SULGER-BÜEL, 2005, p. 16), condição essa que lhe teria causado, segundo seu biógrafo Louis-Jean Calvet, um trauma (CALVET, 1990, p. 256), talvez vencido quando, em 14 de março de 1976, a assembléia dos professores do célebre Collège de France, em Paris, rival da não menos famosa Sorbonne, aceita sua candidatura como professor. Ardorosamente desejada por Barthes, essa candidatura fora proposta por seu amigo Michel Foucault (1926-1984)
Nessa mesma prestigiosíssima instituição da capital francesa, Michel Foucault pronunciara, em 1970, a aula magna, intitulada "A ordem do discurso". Inserindo-se num panteão científico-literário, onde já figuram, desde sua fundação por François I, em 1529, por exemplo, Paul Valéry (1871-1945), Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), Claude Lévi-Strauss (1908-), Roland Barthes aí inaugura, a 7 de janeiro de 1977, a cadeira de semiologia literária, ao mesmo tempo que inicia um novo período de sua vida - um período breve e último, todavia fulgurante como um pôr-de-sol. A conferência de pose do novo professor e de abertura do novo curso denomina-se Leçon (Aula). Passadas quase três décadas desse discurso do semiólogo de Cherbourg, perguntamo-nos que lições podem-se tirar de sua semiologia inaugural ou, em outros termos, que significações essa aula ainda engendra, no campo semiológico, quanto às questões do ensino, do saber e do poder. Aqui, notamos que o título do livro do sociólogo Pierre Bourdieu - Lição da aula (Leçon sur la leçon, 1982) - constitui o texto da aula inaugural que o sociólogo francês proferiu, dia 23 de abril de 1982, no mesmo Collège de France; portanto, as aulas magnas geram lições... Aqui, caberia citar o incipit do mais recente estudo de Leyla Perrone-Moisés sobre a Aula, por ela traduzida:
" Em sua Aula Inaugural do Collège de France, Roland Barthes traçava as linhas gerias do ensino que pretendia ministrar naquela casa. Infelizmente, pouco tempo de vida lhe restava para cumprir aquele programa. Apenas três cursos foram oferecidos por ele, de 1977 a 1980, que corresponderam ao auge de sua fama como escritor, mas também a uma fase depressiva de sua vida pessoal, caracterizada pelo luto por sua mãe e a perda do entusiasmo em sua escritura. " (PERRONE-MOISÉS, 2005, p. 131)
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