O sonho de construir a "cidade terrena" torna-se irrealizável, em virtude do esfacelamento da unidade política-religiosa, tão esperada pelos reis e papas, representantes da entidade temporal e espiritual. Os imperadores nomeavam bispos e influenciavam na escolha dos papas. A ruptura se dá também dentro do próprio Estado. Com o descobrimento da pólvora, o regime feudal entra em falência, porque termina a segurança dos castelos. As nações, originárias da Idade Média, organizam-se em Estados e conquistam autonomia completa.
Os filósofos da época já começam a refutar tudo o que se refere a conceitos universais e abstratos e começam um novo tipo de pensar (cultura), baseado na experiência de um homem que buscava a verdade na própria natureza e não somente na revelação divina. A experiência está abrindo os segredos da natureza, desocultada a partir de si mesma. Pode-se afirmar que o homem moderno é o homem da razão experimental, pois se exalta a razão natural e a natureza. Galileu Galilei, Giordano Bruno e Campanella inovam no método de explicar a natureza através da experimentação, que, antes de tudo, era explicada pela revelação divina.
A verificação dos fenômenos e dos fatos é o novo caminho para chegar ao conhecimento da realidade, pois a razão humana introduz, agora, um novo modo de compreender o universo. Dessacralizou-se o mundo, que perdeu o senso de mistério e não apela para uma causa transcendente de explicação: explica-se por si mesmo e para si mesmo. Deus na Idade Moderna é uma causa supérflua, pois a visão exclusivamente experimental e positiva não tem lugar para valores espirituais (Deus), que não é objeto físico, atingível pela experiência externa. "Deus está morto; nós o matamos", nos dirá Nietzsche; o Deus da ordem moral morreu. O que é valido é a razão "penso, logo existo" de Descartes, o homem moderno é um homem da certeza matemática.
Maquiavel viveu num período de constantes guerras e de fragmentações territoriais. Os problemas financeiros foram uma constante em sua vida. Os fatos mais marcantes em sua vida foram a precoce participação na política, isso em 1507, quando Maquiavel foi indicado como Chanceler. Maquiavel também tornou- se um especialista em assuntos militares. A Renascença italiana, além de ser reconhecida pelo seu brilhantismo artístico, foi marcada pelo interesse literário, filosófico e tático pela guerra. A guerra nesse tempo surgirá como um trabalho de arte, a guerra começa a ser uma preocupação essencial de mentes privilegiadas que a consideram como qualquer outra coisa a sua volta. Os homens influentes das mais diferentes áreas, dramaturgos, poetas, músicos, pintores ou escultores, "escreveram sobre estratégias e táticas de guerra e sobre isso davam conselhos" .[1]
O interesse pela guerra provinha do declínio de todo o sistema feudal na Europa e do limitado tipo de arte da guerra, do gênero milícia, bem típico da Idade Média, em que a guerra era o esporte de uma pequena classe: a cavalaria. Porém, no século XV, essencialmente na Itália, a arte da guerra tornou cada vez mais importante o trabalho de soldados e oficiais mercenários. Muitas tropas mercenárias eram contratadas por cidades-Estados e principiados, a guerra era "providenciada" no sentido de tirar proveito de tal acontecimento: "Tendo tudo a ganhar com participação na guerra, os mercenários providenciavam - ou assim pensava Maquiavel, entre outros renascentistas - para que houvesse guerras em número suficiente, com suas oportunidades de pilhagem e saques" .[2]
A Itália foi pioneira na utilização das tropas mercenárias como organização, assim como na utilização de armas de fogo, o que transformou a guerra numa atividade democrática, ou seja, os fortes castelos não resistiram mais aos constantes bombardeios. Surgem a função essencial dos engenheiros, do fundidor de armas e do artilheiro, homens que pertenciam a classes sociais subalternas, passando a desempenhar um papel fundamental para a arte da guerra.
Os humanistas italianos contribuíram durante o Renascimento para que houvesse uma consagração literária à arte bélica, o que chegou a ser uma glorificação da guerra. Era uma oportunidade nova que os humanistas vislumbravam como meio de libertação do homem, seus talentos e poderes do sistema eclesiástico e feudal tido como inimigo número um dos humanistas. Como é sabido, o conceito moderno de individualidade buscava a ruptura a tudo o que era imposto pelas estruturas dominantes medievais e que acabavam confinando a individualidade humana. No Renascimento importante será a ousadia de atitudes, a liberdade, a "obtenção de fama e celebridade, e acima de tudo, liberdade de mente e imaginação das tradicionais obrigações para com a cavalaria, bem como para com a guilda, o mosteiro, a igreja e o solar".[3]
Página seguinte |
|
|