Fruto de uma experiência pioneira, o DASP foi parte de uma iniciativa de reforma e planejamento que inaugurou uma nova feição dos órgãos estatais no Brasil, somente a partir dele organismos planejadores e fiscalizadores de caráter técnico-burocrático ganharam terreno e importância.
Entretanto ele não fincou suas raízes no ar, o Brasil é profundamente marcado – e talvez nos anos 30 fosse muito mais – por uma sociabilidade baseada no favor, no personalismo, no clientelismo, no fisiologismo, na promiscuidade entre o público e o privado, na corrupção. Um terreno nada fértil para o empreendimento. Ainda assim, o DASP acumulou forças, resistiu e manobrou até onde pôde. Suas ações foram marcadas pelas dificuldades de viabilização inerentes, seu percurso por tensões e contradições que se acumulavam devido ao atrito entre o caráter de suas funções – racional-legal – e a cultura política na qual se inseria. Seus dilemas são, de certo modo, os dilemas de toda modernização no Brasil, que o avanço do capitalismo não somente não dirimiu como também potencializou.
À procura de subsídios para iluminar a trajetória de Guerreiro Ramos a menção ao DASP ganha aqui relevo, já que lá tomou contato com vários problemas que viriam a incorporar-se como temas em sua obra e que o acompanharão por toda a vida, marcando sua trajetória profissional, intelectual e, por que não, existencial.
Edison Bariani
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