As histórias em quadrinhos são objetos de leitura de um amplo público e como todo fenômeno social, passaram a ser objeto de estudo da Sociologia e de outras ciencias
Das tiras em jornais que marcam sua origem, passando para a conquista do público infantil e juvenil, as histórias em quadrinhos ampliaram cada vez mais seu espaço e aumentou sua variedade e público, chegando até ao público leitor adulto. A Sociologia das histórias em quadrinhos, considerada uma subdivisão da Sociologia da comunicação ou da Sociologia da arte (para aqueles que consideram os quadrinhos como sendo arte), é uma das sociologias especiais menos desenvolvidas. Porém, ela já conta com uma produção de certa forma expressiva e com o apoio de outras ciências e análises, o que lhe possibilita, hoje, se tornar mais consolidada.
As HQ são consideradas como tema infantil, juvenil, não muito sério. São menosprezadas por muitos, que as consideram uma espécie de cultura inferior. Seu "público" é considerado a "massa", que seria amorfa, acrítica, infantil. Sem dúvida, este preconceito tem razões e também conseqüências sociais. A desvaloração das HQ é realizada a partir de uma visão elitista e racionalista. A sociedade contemporânea é dominada pela razão instrumental, uma razão fria que desvaloriza a imaginação, os sentimentos, a fantasia, o inconsciente, pois busca o controle sobre as relações sociais e a natureza e sobre a própria mente humana. Logo, cria uma censura social sobre as formas de manifestações psíquicas não consideradas racionais, o que está de acordo com os interesses do produtivismo e da produção capitalista. O elitismo é produto de setores mais intelectualizados da sociedade que tomam seus valores e gostos como superiores e os demais como inferiores e opõe a "alta cultura" e a "baixa cultura".
Este é um dos motivos da desvaloração das HQ, até mesmo enquanto objeto de estudo. O sociólogo Umberto Eco já afirmava que somente quando o estudo das HQ tivesse superado o estágio "esotérico" e o público "culto" resolvesse dar-lhes a mesma atenção que oferece à ópera e outras manifestações culturais "elevadas", é que seria possível entender sua importância (apud Baron-Carvais, 1989). O ilustre sociólogo italiano, um dos mais renomados pesquisadores da chamada "cultura de massas", além de reproduzir a visão dicotômica de um público supostamente "culto" e outro, certamente o seu par negativo, o público "inculto", apela para tal setor da população para haver o reconhecimento das HQ. Vários outros pesquisadores das HQ iniciam suas obras (Baron-Carvais, 1989; Marny, 1970) justificando ou buscando legitimar seu objeto de estudo. Isto revela o que o sociólogo Pierre Bourdieu (2001) denominou "hierarquia social dos objetos de estudo". Sem dúvida, este é um obstáculo para o desenvolvimento da Sociologia das HQ. Apesar disso, alguns sociólogos realizaram estudos sobre os quadrinhos e - somando-se a isso a contribuição de estudos de outras disciplinas - hoje é possível contar com certa produção sobre este fenômeno social.
O sociólogo Umberto Eco já afirmava que somente quando o estudo das HQ tivesse superado o estágio "esotérico" é que seria possível entender sua importância
A abordagem sociológica dos quadrinhos vai centrar sua análise em dois aspectos fundamentais: a produção social e a mensagem que apresenta em suas produções. Há, de forma menos desenvolvida, uma Sociologia dos leitores e da recepção das HQ. Neste sentido, o interessante é discutir como as Histórias em Quadrinhos são constituídas socialmente, e, posteriormente, quais mensagens (valores, concepções, sentimentos, etc.) reproduzem.
As HQ tiveram seus primeiros esboços no final do século XIX e início do século XX. Personagens que conseguiram maior reconhecimento como Th e Yelow Kid, Max and Moritz, Krazy Kat, foram as primeiras experiências de uma produção cultural que hoje conta com obras que deixaram de ser apenas infanto-juvenis para atingir também o público adulto. No início as HQ eram tiras diárias em jornais, o que hoje ainda persiste em existir, mas agora de forma marginal, pois o principal veículo de transmissão das HQ passou a ser as Revistas em Quadrinhos, que no Brasil também são chamadas "Gibis", que significa "moleque", e foi o nome da primeira Revista em Quadrinhos lançada no Brasil.
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