O artigo problematiza o lugar do ensino das Artes nos cursos e processos (in)formativos do educador no Brasil, sinalizando o paradigma práticoreflexivo de Schön enquanto via alternativa para correção das distorções constatadas na preparação do profissional da educação infantil e das séries iniciais do ensino fundamental. As experiências investigativas e reflexivas do autor são utilizadas como matéria-prima dos argumentos teóricos aqui utilizados. Adicionalmente, considera as diferentes conceptualizações de letramento subjacentes às macro e micropolíticas educacionais para a educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, como forma de problematizar o lugar do ensino de Arte na escolarização.
PALAVRAS-CHAVE: Arte-educação. Educação infantil. Ensino de arte. Formação de professores. Paradigma crítico-reflexivo.
Challenges of the Teaching (In)Formation: The Pedagogical Work with Arts in the "Schoolarization"
ABSTRACT: The article discusses the room of art teaching in Brazilian teaching programs and signs Schön"s reflective practitioner model as an alternative way to correct some distorted features of these programs. Some results from participant observations developed by the author are depicted in help of his theoric arguments. It also considers diferent approaches to literacy by macro and micro educational policies in Brazilian schooling.
KEY WORDS: Art teaching. Arteducation. Child education. Reflective practitioner paradigm. Teaching programs.
O problema relativo ao ensino das artes no país põe em xeque a formação de professores oferecida nas licenciaturas em Arte (Artes Visuais, Dança, Música e Teatro), nos cursos de Pedagogia, em escolas normais superiores, habilitações para o Magistério de nível médio e em programas para o aperfeiçoamento, em serviço, do educador (SANTANA, 2000; PENNA, 2001).
Que tipo de (in)formação[1]os profissionais da educação recebem para trabalhar com seus alunos, de modo sistemático, as diferentes linguagens artísticas? Se a habilitação para o Magistério na educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental é prerrogativa do pedagogo, por que nos cursos de Pedagogia e de formação de professores não são oferecidas disciplinas que contemplem a especificidade estética de cada uma das linguagens artísticas (Artes Visuais, Dança, Música e Teatro)? Por que não se busca sinalizar procedimentos metodológicos para o trabalho sistemático com cada uma das linguagens artísticas em cursos que têm como objetivo a formação dos profissionais da educação que irão atuar nas creches, pré-escolas e séries iniciais do ensino fundamental? Se cabe aos artistas, arte-educadores e aos professores de arte o trabalho pedagógico com as artes na educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental (da 1ª à 4ª série) por que é tão rara a presença desses profissionais nestes níveis da escolarização básica?
Parece-nos que evitar a formulação de questões como as apresentadas – ou não procurar respondê-las – revela uma silenciosa orquestração na direção de "deixar tudo como está pra ver como é que fica"; por isso, queremos aqui expor nosso ponto de vista em relação a essa problemática.
Se, por um lado, não temos a ambição de ser "donos da verdade", por outro, propomos um equacionamento não desinteressado do problema. Entendemos que o professor da educação infantil e das séries iniciais é essencialmente polivalente, ou seja, é aquele profissional "licenciado" para realizar a transposição didática do conhecimento das diferentes áreas do saber em creches, pré-escolas e nas séries iniciais do ensino fundamental (da 1ª à 4ª série). Não se tem notícia de professores de matemática ou de língua portuguesa, por exemplo, atuando na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental: as licenciaturas nessas duas áreas têm em vista o exercício do magistério da 5ª à 8ª série do ensino fundamental e ao longo do ensino médio, e o mesmo ocorre com as licenciaturas para o ensino das demais áreas do conhecimento: Artes, Educação Física, Ciências Naturais, História e Geografia (BRASIL, 1997, 1998).
Se é assim, os cursos de Pedagogia precisam, do nosso ponto de vista, assumir a especificidade da formação profissional que se propõem a oferecer, criando condições de igualdade no oferecimento das diretrizes metodológicas para o trabalho pedagógico com todas as áreas de conhecimento. Afinal, a licença para o exercício do magistério na educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental é prerrogativa do pedagogo.
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