Inicialmente quero, sinceramente, agradecer ao Colegiado de Graduação em Artes Cênicas e á Escola de Belas Artes da UFMG - particularmente á professora Rita de Cássia Buarque de Gusmão - a oportunidade de poder compartilhar com vocês algumas idéias que possuo, no momento, a respeito da apropriação e produção do conhecimento em Teatro na escolarização.
Antes de dar início ao excurso que me foi proposto sob a consigna Metodologias do ensino de Teatro, considero oportuno problematizar o sentido da palavra "metodologias" - metodologia, com "s" no final.
Isso vai ajudar no entendimento do que vou dizer. Entendo por metodologia - sem o "s" - o conjunto dos métodos; no caso, o estudo comparado e historicizado de diferentes caminhos didático-pedagógicos que se apresentam como via para a apropriação do fazer teatral e da apreciação estética dos enunciados cênicos na escolarização. é o que eu faço no livro homônimo de minha autoria [2] - evidentemente estabelecendo alguns recortes no vasto universo metodológico do ensino de Teatro. [3]
Na perspectiva semântica que interessa aqui o termo "metodologias" - com o "s" - vai referir o conjunto dos procedimentos metodológicos empregados no âmbito de um método específico para o ensino de Teatro: o método ludopedagógico. Em outros termos: tratarei de discutir alguns procedimentos metodológicos necessários á implementação do ensino de Teatro através de jogos na escolarização - conforme este método tem sido praticado, ressignificado e transformado pelos responsáveis pelo ensino das artes cênicas, no Brasil, ao longo do processo de transição paradigmática do ensino modernista ao ensino pós-modernista de Teatro.
O Modernismo no ensino de Teatro caracteriza-se basicamente pela ênfase excessiva na expressividade (singular e coletiva) dos enunciados cênicos dos alunos - evidentemente associando-a a algum tipo de conhecimento sistematizado.[4]
O ensino modernista coincide, historicamente, com o apogeu do "sujeito econômico", típico da sociedade burguesa.[5] Por essa razão, advogar a livre-expressão artística na escolarização era - e é - para os professores modernistas, consciente ou inconscientemente, algo como "traduzir" em termos estético-pedagógicos a "defesa" da livre-iniciativa do pequeno burguês empreendedor da fase liberal do capitalismo - quando o capital ainda não havia se transnacionalizado totalmente nem se concentrado em mãos de poderosas corporações financeiras como ocorre na contemporaneidade (fase neoliberal).
Pode-se dizer que o Modernismo - enquanto ideologia - é essa crença inabalável na ciência e no trabalho como via para a construção de uma sociedade mais justa e menos excludente. Mas, na direção do pensamento modernista, heuristicamente, podem ser destacados dois movimentos contraditórios: (1) o dos que acreditam firmemente no progresso através do aperfeiçoamento democrático da sociedade burguesa e (2), em sentido inverso, o daqueles que concebem o progresso unicamente possível através da superação do capitalismo e da sociedade burguesa.
Isso equivale dizer que a expressividade ou a livre-expressão cênica encontrava-se - encontra-se? - fortemente "polarizada" no ensino de Teatro: um pólo carregado pela idiossincrasia e singularidade das interpretações e encenações espontâneas dos alunos; o outro, impregnado pela dimensão coletivista e cooperativista da espetacularidade cênica.
Essa valorização da originalidade e espontaneidade da expressão cênica dos alunos (tanto as singulares como as coletivas) acabou por eleger o fazer teatral como o eixo em torno ao qual gravitavam - gravitam? - as intervenções pedagógicas no ensino modernista de Teatro. O "espontaneísmo" do fazer teatral - muito comum no ensino de Teatro na década de setenta - seria portanto uma corruptela dos fundamentos do trabalho pedagógico modernista com as Artes.
O ensino modernista tardio, pós-moderno ou pós-modernista de Teatro desenvolve-se a partir da queda do muro de Berlim (1989) e da derrocada do socialismo no Leste europeu (1991).[6] O pensamento pós-moderno materializa-se através da descrença no poder da ciência e do trabalho para a solução dos problemas culturais, sociais, econômicos e ecológicos que afligem os seres humanos. Trata-se de um posicionamento fundamentalmente crítico porque busca tornar evidentes as contradições internas do atual estágio de financeirização do Capital e desvelar o seu impacto na constituição da subjetividade dos seres humanos;[7] uma Crítica da Crítica, uma Metacrítica - quer dizer, a Crítica marcada pelo ceticismo explícito quanto ás possibilidades de alteração dessa Nova Ordem mundial (o Neoliberalismo) através da mobilização coletiva das pessoas e de seus representantes políticos.
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