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Alguns aspectos da didática e prática na virada do século (página 2)

Reinaldo Toso Júnior

Na década de 90 os problemas mundiais se intensificaram como reflexo da competição global e o realinhamento mundial em torno de pólos econômicos, gerando núcleos de alto desenvolvimento em contraste aos bolsões de pobreza. Esta situação econômica mundial vinculada aos problemas históricos da formação e da ocupação sócio-geográfica do Brasil tornou-se o centro de sérias discussões sobre o ensino brasileiro.

"No entanto, devemos nos dar conta de que, hoje, há um novo mundo, e este novo mundo requer duas grandes características do sistema educacional: a educação geral para todos é condição essencial para a própria sobrevivência do país; e em segundo lugar, é necessária á integração entre educação geral e preparação para o mercado de trabalho. é preciso estabelecer formas claras de vinculação entre educação geral e preparação para o mercado de trabalho".

IBAÑEZ 2001, p. 70

Alinhar as necessidades de formação de um povo com as ambições nacionais e em conformidade com o cenário internacional torna-se a mola mestra da discussão da didática e da prática no Brasil entre o final dos anos 90 e nos primeiros anos do século XXI. De modo geral esta foi e é um dos grandes desafios do ensino superior em países em via de desenvolvimento, segundo WERTHEIN e CUNHA (2000, p.93) a UNESCO levantou três tendências mundiais do ensino superior:

1              expansão quantitativa com dificuldades de acesso entre países e regiões;

2              diversificação das estruturas institucionais, padrões curriculares e formas de estudo;

3              problemas financeiros[2].

O alinhamento global gira agora em torno dos blocos econômicos e por meio da concorrência internacional estes blocos abrem abismos entre os países mais competitivos e os menos competitivos, polarizando misérias e riquezas. E quando falamos em competitividade também falamos de mão de obra preparada para competir e a aproximação da didática da realidade prática do educando mostra-se como meio de se produzir novos conhecimentos (MARTINS 2003, p. 166 e LIBÂNEO 2003, p. 157).

Mas, como Libânio explica (LIBÂNEO 2003, p. 157), não se pode confundir a proximidade da prática com a didática com o ensino puro e simples de aspectos práticos. O autor acima citado ainda salienta que a contextualização e a fundamentalização do que se ensina com os problemas da vida são meios de ampliação da nossa percepção para resolver problemas práticos dos simples aos mais complexos, mas nunca com desapego á ciência.

Tão importante como o fundamento científico e o contexto é a maneira de se abordar as relações no processo de ensino-aprendizado por permitir a sistematização de novos conhecimentos (MARTINS 2003, p. 167). Esta abordagem é fundamental e se traduz por meio da solidariedade, cooperação e senso de coletividade. Dentro de um processo competitivo capitalista exclusivo de regiões ou nações menos favorecidas um dos mecanismos para eliminar estas barreiras é a democratização e trazer o aluno para o palco do aprendizado.

"A autoridade docente mandonista, rígida, não conta

com nenhuma criatividade do educando. Não faz parte

de sua forma de ser, esperar, sequer, que o educando

revele o gosto de aventurar-se".

FREIRE 2000, p. 104

CONCLUSÃO

A abordagem entre didática e prática dentro do aspecto delimitado neste artigo leva a conclusão de que não é possível desassociar a didática do contexto histórico, social e econômico. Em Freire (FREIRE 2000, p. 36) encontramos a expressão para isso: " Só somos porque estamos sendo".

Esta natureza social do ensino, o homem é um ser profundamente social, explica a imensa dificuldade da didática em reaproximar o conhecimento do cotidiano das pessoas, por ser esta abordagem multidisciplinar com efeitos no tempo de longa data.

O conhecimento científico escasso nos tempos passados multiplicou-se e dividiu-se, esta divisão foi necessária para a sistematização devido á complexidade da evolução do conhecimento humano e da extensão deste conhecimento. Por outro lado também resultou na fragmentação dos procedimentos de ensino, por vezes reduzidos a mera mecanização.

Aliando-se ás dificuldades históricas e sócio-econômicas ás dificuldades da prática da didática tem-se um grande desafio para delineamento e aplicação eficaz. Neste aspecto restrito fica difícil a proposta e o emprego de novas abordagens didáticas sem a participação maciça do Estado devido á magnitude deste problema muito além da discussão docente e faz-se necessário a profunda discussão e revisão constante dos métodos e propósitos do que se ensina.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede; a era da informação: economia, sociedade e cultura, volume 1. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

IANNI, Octávio. Exigências educacionais do processo de industrialização. In: _____ Industrialização e Desenvolvimento Social no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963, p. 206 -244.

IBAÑEZ Ruiz, Antonio. A educação no governo FHC (1995 -2000). Universidade e Sociedade, Brasília: ANDES-SN: Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior. XI (24): 69 -79, junho de 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia; saberes necessários á prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 2003.

MARTINS, Pura Lúcia Oliver. A didática e as contradições da prática. Campinas: Papirus, 2003.

O ESTADO DE SÃO PAULO, Jornal. São Paulo atrai novas empresas de tecnologia, Ericsson inaugurou centro de pesquisa e Nokia pode ter unidade no Estado. São Paulo: O Estado de São Paulo, 09/03/2001. Em:  http://www.estado.com.br/jornal/01/03/09/news239.html, extraído em 03/04/2002.

________________________, Jornal. Empresas definem o crescimento econômico. São Paulo: O Estado de São Paulo, 12/03/2001. Em:  http://www.estado.com.br/jornal/01/03/12/news276.html, extraído em 03/04/2002.

________________________, Jornal. IBM e Inpar lançam condomínio para empresas de tecnologia. Tech Town tem área de 450 mil metros quadrados, infra-estrutura completa e facilidades logísticas. São Paulo: O Estado de São Paulo, 09/02/2000.  Em: http://www.estado.com.br/jornal/00/02/09/news091.html, extraído em 03/04/2002.

PRAXEDES, Walter e PILETTI, Nelson. O Mercosul e a sociedade global. São Paulo: Ática, 1997.

WERTHEIN, Jorge e CUNHA, Célio da. A UNESCO e as novas perspectivas para o desenvolvimento do ensino superior. São Paulo: UNINOVE, (Eccos Revista Científica v.2 n.2) 2000.

Jundiaí, 06 de Abril de 2004

 

 

 

Autor:

Reinaldo Toso Júnior

tosojr-prof[arroba]yahoo.com.br

Wisconsin International University
Doutorado
Administração De Negócios
Relações Interpessoais Na Empresa
W1027


[1] Para uma síntese sobre o desenvolvimento da América Latina e do Brasil sem ideologias consultar Casttels (1999, p.131)

[2] A Unesco e as novas perspectivas para o desenvolvimento do ensino superior. Eccos Revista Científica, UNINOVE, São Paulo: (v.2 n.2) p. 91-107.



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