Recentemente, o Ministério Público solicitou parecer técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/SE) sobre as potencialidades culturais do Cristo Redentor de São Cristóvão. A iniciativa poderá resultar no tombamento, ou seja, "num ato administrativo realizado pelo Poder Público com o objetivo de preservar, por intermédio da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados".[1] No caso do monumento do Cristo, isso favorecerá a resolução de problemas que tem ameaçado sua integridade e salvaguarda. Intervir para apresentar dados históricos constitui o modesto objetivo desse artigo.
Em fevereiro do ano corrente, a Secretaria Municipal de Obras de São Cristóvão realizou alguns reparos na colina São Gonçalo, com pintura a cal do monumento e instalação de iluminação. Uma surpresa, pois a praxe era o prefeito alegar não existir recursos e que a obra era propriedade do Governo do Estado. Por isso o Cristo Redentor de São Cristóvão completou 80 anos em 2006 e nada foi realizado, nem liturgia, nem parabéns! Tivera uma "grande reforma" anunciada pelo governo municipal de 2003, que providenciou a imediata demolição dos banheiros públicos e do restaurante, mas ficou na propaganda.[2] E o descaso dos últimos anos apagou seus holofotes, o local virou zona marginal, de sacrilégios e depredações.
Antes de considerar o monumento sergipano, conveniente fitar o mais famoso redentor do Brasil. No dia 7 de julho de 2007 foi revelado "As Sete Novas Maravilhas do Mundo", como resultado de um certame organizado pela UNESCO. Os monumentos mais votados foram: a Muralha da China, a cidade de Petra (Jordânia), Machu Picchu (Peru), Chinchén Itzá (México), o Colizeu (Roma), o Taj Mahal (Índia) e o Cristo Redentor (Brasil). A idéia de erigir o Cristo Redentor do Rio de Janeiro remonta o século XIX, mas somente em 1921, dentro das festividades do centenário da Independência do Brasil, ela começou a virar realidade. O projeto arquitetônico foi elaborado pelo engenheiro Heitor da Silva Costa, seu desenho teve a genialidade do artista plástico Carlos Oswald, ficando a escultura aos cuidados do francês de origem polonesa Paul Landowski. Os trabalhos começaram em 1926 e sua inauguração em 1931.
Coincidência ou não, em 1926 foi inaugurado o Cristo Redentor de São Cristóvão. Conclusão: Sergipe tem a primeira estátua de Cristo Redentor do Brasil, fato ignorado por muitos sergipanos. O dado foi evidenciado no levantamento empreendido pelos pesquisadores da Faculdade de Belas Artes de São Paulo, em 1984, que após identificar a existência de 1200 redentores brasileiros destacaram o exemplar sergipano como mais antigo e original, pois ele diverge da matriz carioca.
O Cristo Redentor sergipano foi construído entre os anos de 1924 e 1926, na colina São Gonçalo, há dois kilometros do centro histórico da ex-capital. A obra tem 16 m de altura (10 m de base e 6 m da estátua) e foi encomendada pelo Governo de Graccho Cardoso (1922/1926) ao arquiteto Bellando Belandi. Não foi possível localizar biografia desse artista, sabe-se que integrou a "missão italiana" ao lado de Serceli, Oreste Gatti, e Frederico Gentil. Em conjunto, esses homens inovaram a arquitetura sergipana nas primeiras décadas do século XX.[3]
A inauguração realizada no dia 24 de janeiro de 1926 foi marcada pelo discurso do padre Luiz Gonzaga, da Bahia.[4] A área ganhou restaurante e banheiros públicos em 1972, benfeitorias da administração municipal de Paulo Correia. Até meados da década de 1980, o Cristo era um legítimo atrativo turístico da cidade histórica, também área de lazer das famílias, de festas populares, excursões escolares e de missas campais. Desde a sua inauguração que a igreja organiza caminhada e soleniza o Cristo Rei perante a imagem. Curiosamente, o grupo folclórico Caceteiras mantém a tradição de dançar até ele para saudar a chegada do mês junino.
Infelizmente, o mérito do Cristo Redentor de Cristóvão permaneceu, permanece desconhecido pelas instituições culturais de Sergipe. Isso não é o pior. O Cristo Redentor de São Cristóvão fundado ás expensas do Governo do Estado não é tombado pelo mesmo, tampouco pelo Governo Federal. Compare-se o disparate: o Cristo Redentor do Rio de Janeiro foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1937, o monumento sergipano é símbolo do descaso, pode voltar a enegrecer no limo e sofrer mais depredações.
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