No contexto da sociedade da comunicação, da reestruturação produtiva e dos riscos generalizados, como a alfabetização de pessoas jovens e adultas possibilita a satisfação de necessidades e a inclusão social? Como pessoas de pouca ou nenhuma escolaridade aplicam os conhecimentos adquiridos com a alfabetização para satisfazer os seus desejos e suas necessidades cotidianas? Este artigo discute o que motiva pessoas jovens e adultas de baixa ou nenhuma escolaridade a buscarem aprendizagem escolar (alfabetização); se elas estão conseguindo aprender a ler e escrever; e se aplicam essa aprendizagem nas suas necessidades cotidianas. Questiona se é possível estabelecer uma relação alfabetização, satisfação das necessidades cotidianas (alargamento de espaços de cidadania). Aproveita depoimentos de pessoas de pouca ou nenhuma escolaridade sobre os seus processos de vida e de trabalho e sobre os possíveis benefícios da alfabetização na sua vida cotidiana e conclui que a alfabetização é uma ação social inclusiva, quando capaz de satisfazer as necessidades objetivas e subjetivas dos indivíduos, alargando seus espaços de cidadania - inclusão social.
Palavras Chaves: alfabetização e satisfação das necessidades cotidianas; alfabetização e processos de inclusão; benefícios da alfabetização na vida cotidiana
O que motiva pessoas jovens e adultas a estudar? As exigências da modernidade? As transformações do mundo do trabalho? Consciência de direitos? Ofertas de escolaridade? Facilidade para ingressar na escola ou em cursos de alfabetização? Incentivo familiar ou de amigos? Causas religiosas? Maior autonomia? Pesquisas realizadas sobre esta temática creditam o regresso do jovem e do adulto á escola ás exigências do trabalho, ás causas religiosas, familiares ou á necessidade de locomoção. (UNESCO/MEC/SECAD, 2005). Mas, estas motivações são suficientes para a permanência na escola? Para a aprendizagem? Qual, afinal, a relação entre motivação e aprendizagem? Os jovens e adultos que estão conseguindo aprender - ser escolarizado - estão aplicando essa aprendizagem nas suas necessidades cotidianas? Quais são essas necessidades cotidianas? Estas questões que desafiam estudiosos dessa problemática servem de condutoras do desenvolvimento desse texto.
Ele possui três objetivos inter-relacionados: discutir sobre o que motiva pessoas jovens e adultas de baixa ou nenhuma escolaridade a buscarem aprendizagem escolar (alfabetização); se elas estão conseguindo aprender a ler e escrever e aplicar essa aprendizagem nas suas necessidades cotidianas, e se é possível estabelecer uma relação entre alfabetização, satisfação das necessidades cotidianas e processos de inclusão. (alargamento de espaços de cidadania). Estou compreendendo como motivação a força propulsora (desejo) de uma pessoa para o alcance de uma determinada meta - aprender a ler e escrever-, como resposta a uma situação de insatisfação (não saber ler e nem escrever), aqui chamada de necessidades.
Entendo necessidades como situações que privam a autonomia do individuo, colocando-o em uma situação de marginalização ou de exclusão (restrição de espaços de cidadania). Segundo Faden e Beauchamp, 1986 (apud Doyal e Gough, 1994) são três variáveis chaves que afetam os níveis de autonomia individual:
"el grado de comprensión que una persona tiene de si misma, de su cultura y de lo que se espera de ella como individuo dentro de la misma; la capacidad psicológica que posee de formular opciones para si misma; y las oportunidades objetivas que le permitan actuar en consecuencia.".
Se no modelo atual de sociedade letrada, não saber ler nem escrever - alfabetização - é condição necessária para afetar os níveis de autonomia do individuo para responder as suas necessidades, esta privação (situação de exclusão) pode servir como incentivo (motivação) para a aprendizagem (alfabetização) e para a inclusão (alargamento de espaços de cidadania). Portanto, essas necessidades podem ser as condições necessárias capaz de transformar essa motivação para estudar (estado inicial) em aprendizagem - aquisição de competência- para solucionar problemas (GONZÁLES. 2006), ampliando a autonomia e os espaços de cidadania dos indivíduos (inclusão).
Aplicando esse raciocínio á situação de pessoas jovens e adultas que não sabem ler nem escrever, alunos de programas de Educação de Jovens e Adultos - EJA, parto da premissa de que a motivação desses indivíduos para freqüentar a "escola"[1] e para a aprender a ler e a escrever se relaciona á necessidades de resolução de problemas cotidianos, alguns emergentes. Por sua vez, considero que as motivações e as necessidades não são condições suficientes para mudar estados de indivíduo - de uma situação de não saber ler a uma situação de saber ler - as aprendizagens -, propiciando a este competências, que lhe permita realizar determinadas ações - as performances (GONZALES, 2006).
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