"Eu escrevi o que entendo e os críticos escrevem o que eles entenderam. Eu, por princípio nunca faço comentários sobre as críticas".
José Saramago
"O crítico não deve fazer ataques pessoais e sucumbir ao vedetismo".
Daniel Piza
Há consenso entre professores que o ensino escolar deve desenvolver a capacidade crítica nos alunos. A nova A LDB 9394/96 estabelece que a educação média objetiva "...o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico..."(BRASIL. MEC, 1999,p. 20).
No período da ditadura militar professores podiam ser presos se ensinassem os alunos a serem cidadãos críticos ao regime político vigente, ao capitalismo selvagem etc. Na década de 1980, "a História era disciplina que se encarregava de fazer com que os alunos e professores exercessem o papel de sujeitos ativos na construção do seu conhecimento. Reconhecer e problematizar as experiências vividas pelos alunos e professores são atos imprescindíveis para a construção do conhecimento crítico", observa Arthur Versiani Machado, do CEFET de Ouro Preto.
Existe, porém, o problema sobre a compreensão do que é ser crítico. Noutros termos, há muita arbitrariedade no uso da palavra crítica, desde o julgamento popular de uma "situação crítica" até a conceituação originada na filosofia de: "espírito crítico"[1], "pensamento crítico", "senso crítico", "atitude crítica", "postura crítica", "postura crítica de análise", "análise crítica", "capacidade crítica", "apreensão crítica da realidade", "concepção crítica", "sujeito crítico", entre outras.
Existe uma associação indevida entre crítica com o ato de apontar defeitos ou de "descer-a-lenha" no outro ou na sua obra. Criticar uma obra de arte, uma teoria, os políticos, o governo, o técnico de futebol, o estilo do professor, os alunos, no fundo, consiste tão somente em apontar defeitos? Ou é imprescindível ao crítico investir numa argumentação consistente e fala respeitosa ou polida?
John Passmore (1979) observa que ser crítico não é simplesmente se posicionar contra, por exemplo, disparar contra uma obra ou autor "sua" opinião pessoal (ex.:"não gosto de Picasso", "ópera é para aristocratas e burgueses", "música x é chata"), ou usar argumentos estereotipados ou falaciosos sobre um determinado sistema de idéias que ele discorda.
Há professores cujo estilo vulgar de ser crítico levam os alunos reproduzirem o seu modo estereotipado de opinar sobre as coisas sem pensar autocriticamente. Segundo o autor acima, esse processo de pseudo ensino crítico chama-se doutrinação. Por exemplo, diante de uma pintura abstrata o aluno é levado a responder automaticamente: "Isso é decadente". Ou, ao assistir um curso cuja linha teórica lhe desconcerta, o aluno que foi doutrinado fica com cara de paisagem, isto é, reage com os mecanismos da indiferença e das respostas estereotipadas para si e para os outros.
O crítico contumaz, assim que chega ao poder (prefeito, diretor de escola, reitor, etc), tende a deixar de ser crítico. Agora ele faz discursos sobre suas realizações. O prefeito aproveita qualquer oportunidade da mídia para divulgar suas obras na cidade. O diretor da escola escreve panfletos para sua comunidade divulgando mudanças radicais em sua gestão na escola. O reitor se empenha em fazer bons discursos para mudanças cosméticas da universidade. Assim, a crítica vale apenas para o outro, jamais deve se voltar para si próprio.
O exagero dos discursos das realizações zeradas de autocrítica leva-os a cair na vala do ridículo. Um diretor de escola - conhecido por bater no peito ser comunista - revela seu lado ridículo ao fazer um discurso plagiando o estilo malufista, por exemplo, ao enumerar suas obras e mudanças radicais na escola. Um prefeito do PP ou DEM fica ridículo querendo se passar por "popular" ou "democrata".
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