Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
Na educação que enfatiza resultados, a relação professor-aluno é de natureza autoritária-paternalista: na medida em que os objetivos são estabelecidos de maneira específica e rígida pelo programador, o educando simplesmente se acostuma a ser guiado no caminho que lhe foi previamente oferecido. Neste sentido, é interessante observar que a denominada Instrução Programada, em sua versão linear revela-se mais radical enquanto comparada com sua versão ramificada. Mas, em ambas as versões, de fato, o que há é um caminho programado a ser percorrido pelo educando. A motivação fica assegurada na medida em que o sistema apela para mecanismos típicos de estímulo/recompensa, procedimento típico da corrente behaviorista e no qual este modelo se inspira. Aqui, o hábito aparece como ponto crítico do modelo e é expresso através de conduta automática, mecânica, não-reflexiva, não-consciente e, portanto, passível de ser condicionada, moldada, estimulada externamente pelo educador a partir de estímulo e recompensa adequados. Quanto ao gerenciamento do conflito, isto se faz de forma a evitá-lo. Como? Em primeiro lugar, partindo-se do pressuposto de que o técnico sempre tem razão e, caso as pessoas não queiram aceitar as novas condutas, o fazem por "preconceitos", por "ignorância" ou "atraso". E, caso a mensagem não esteja de acordo com os valores do meio social do qual faz parte o destinatário, deve-se omitir toda referência ao desacordo.
É interessante notar, também, que este modelo chegou a América Latina, importando dos Estados Unidos, como resposta do Programa Aliança Para o Progresso ao que se convencionar chamar de "subdesenvolvimento". Seus mentores pensavam que a solução para a pobreza em que se encontravam nossos países "atrasados e ignorantes" era a modernização, isto é, a adoção de características e métodos de produção dos países capitalistas tidos como "desenvolvidos".
Kaplun também estabelece analogia na aplicação deste modelo da parte de outros segmentos ou atividades, tais como nos meios de comunicação de massa (televisão, imprensa, rádio, cinema comercial, revistas), que se valem com freqüência destes mesmos recursos condicionadores para manipular a opinião pública e uniformizar suas condutas. As técnicas publicitárias (propaganda comercial) e a propaganda política, sobretudo por ocasião de campanhas eleitorais, criando então pressão para que a massa vote no candidato (resultado) apenas por sua presença ou destreza oratória, sem reflexão nem análise nem conhecimento de seu programa de governo. Neste sentido, o slogan é recurso emocional desta concepção educativa.
O terceiro modelo é abordagem pedagógica centrada no processo, de concepção libertadora-transformadora, inspirado na proposta pedagógica de Paulo Freire, que ultrapassou fronteiras e inspira a milhares de educadores mundo a fora. Tal como afirmado pelo Professor Moacir Gadotti (4), um dos estudiosos da obra freireana, a pedagogia de Paulo Freire..."encerra um grande potencial de direção na luta pela transformação das sociedades, notadamente das sociedades "em trânsito". Neste sentido, ele tem o mérito não apenas de denunciar uma educação supostamente neutra, como o de distinguir claramente a pedagogia das classes dominantes da pedagogia das classes oprimidas." Nestes termos, tal como podemos verificar em "Educação e Mudança" (Paz e Terra, 1979), ao abordar aspectos relacionados ás características culturais das sociedades latino-americanas, Paulo Freire (2) afirma que ".... é possível falar de "sociedade-sujeito" e de "sociedade-objeto". Esta última opera necessariamente como um satélite comandado pelo seu ponto de decisão: é uma sociedade periférica e não reflexiva.... Nestas sociedades se instala uma elite que governa conforme as ordens da sociedade diretriz. ...As elites prescrevem as determinações ás massas. Estas massas estão sob o processo histórico. Sua participação na história é indireta. Não deixam marcas como sujeitos, mas como objetos."
O modelo de educação centrada no processo é de natureza endógena, centrado na pessoa e com ênfase no processo. Tal como citado por Kaplun, segundo Freire "a educação é praxis, reflexão e ação do homem sobre o mundo para transformá-lo". Desta maneira, o grau de participação assegurado ao educando é elevado ao máximo. A formação da criticidade e as chances de criatividade são altamente estimuladas; o tipo de informação que orienta o processo é baseado na comunicação/diálogo, portanto pode-se falar de uma abordagem dialógica, com grandes oportunidades de interatividade tanto nas relações educador-educando, quanto nas relações educando-educando. Assim, no dizer de Kaplun, "já não se trata de uma educação para informar (e muito menos para conformar comportamentos), mas de uma educação que busca FORMAR as pessoas e levá-las a TRANSFORMAR sua realidade....Esta dinâmica, no transcurso da qual os homens vão se educando entre si, constitui-se precisamente no "processo" educativo.
Outros indicadores relevantes, dentre outros, que se constituem em ingredientes deste modelo, incluem: o eixo, que é constituído pelo sujeito-grupo; as relações educador-educando, que são conduzidas de forma autogestora, que baseia-se na participação com vistas á busca de respostas, problematizando e problematizando-se, para que se possa chegar ao conhecimento; a função docente, que faz do educador um animador/facilitador e, portanto, um catalisador; o objetivo avaliado, cujo foco reside no pensar-transformar; e, finalmente, a função educativa, centrada no binômio reflexão-ação, que implica em postura de aprender a aprender e que implica na passagem do estágio de consciência ingênua em direção a uma consciência crítica, isto é, no desenvolvimento de sua própria capacidade de deduzir, de relacionar, e de elaborar sua síntese. No modelo de educação centrada no processo, segundo Kaplun, o que o educando necessita não são tanto dados, informações, mas instrumentos para pensar, para inter-relacionar os fatos e estabelecer conseqüências e conclusões; para ser capaz de construir explicação global, uma cosmovisão coerente. Portanto, sua maior carência reside não tanto em dados e noções que ignora, mas nos condicionamentos de seu raciocínio não exercitado que o reduzem somente ao que é capaz de perceber em seu ambiente imediato, de natureza contingencial.
Para finalizar, torna-se importante notar, tal como o fez Kaplun, que este tipo de educação exalta os valores comunitários, a solidariedade, a cooperação; exalta também a criatividade, o valor e a capacidade potencial de todo indivíduo. E se a educação é um processo, este há de ser permanente, não se limitando a um certo momento da vida, a um determinado curso. A educação se faz durante a vida, na práxis reflexiva.
Introdução
Dentre as diferentes ações que integram o nosso Plano Diretor da Diretoria de Educação A Distância/2000, escolhemos o Programa TVEscola como tema desta Segunda parte do trabalho.
O Programa TVEscola: em que consiste
· É um programa da Secretaria de Educação a Distância do MEC para a melhoria da qualidade do ensino público. Com este objetivo, transmite programação ás escolas de ensino fundamental e médio, dirigida á capacitação e aperfeiçoamento do professor, e também ao seu trabalho em sala de aula.
· Transmitida a todo o País, a programação é captada por antena parabólica. Os programas devem ser gravados em fitas de videocassete para utilização pelo professor.
· Os equipamentos para a captação e gravação compõem o kit tecnológico, adquirido pela escola, por intermédio da Secretaria de Educação do Estado ou pelo município, com recursos do salário-educação administrados pelo FNDE/MEC.
· Operando em caráter definitivo desde março de 1996, a TV transmite, hoje, quatro horas diárias de programação inédita. Os professores são instruídos a utilizar os programas como auxílio ao planejamento pedagógico e também como recurso didático em sala de aula. Para que possam assistir ou gravar todos os programas de seu interesse, o bloco do Ensino Fundamental com duração de duas horas é reprisado quatro vezes ao dia; o do Ensino Médio, com duração de uma hora, três vezes ao dia, e o Salto para o Futuro (formação didático-pedagógica), com duração de uma hora, três vezes ao dia. AV Escola fica, assim 14 horas no ar.
· O programa foi criado com o objetivo de ser mais uma estratégia para reduzir as taxas de repetência e evasão; motivar professores e alunos; e incentivar atitudes autônomas que fossem a base para a aprendizagem e o desenvolvimento humano permanentes.
Examinados os aspectos organizacionais do Programa TVEscola, fica claro que a implementação do Programa acaba por resultar na necessidade de preparação e orientação dos professores para que possam dele tirar o melhor proveito.
Estratégias e correção de rumosUm retrospecto das iniciativas mostra-nos que o MEC e as Secretarias de Estado da Educação têm percorrido um caminho tortuoso, caracterizado por iniciativas de ensaio-e-erro, em suas ações voltadas para a preparação e orientação dos professores enquanto usuários do Programa TVEscola. Avanços e melhorias tem sido conseguidos, mas não se deve perder de vista que o professor deve constituir-se no público alvo do Programa. Examinemos, em seguida, as diferentes estratégias e, tomemos como referencial, apenas para fins de simplificação, o trabalho desenvolvido pela Coordenação de TVEscola, órgão da Diretoria de Educação a Distância, da Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais.
Estratégia nº 1: Treinamento de pessoal técnico de TV Escola da SEEMG
Estes técnicos trabalham na SEEMG - Secretaria de Estado da Educação de MG e, em sua maioria, integram a denominada DDAP - Divisão de Dinamização da Ação Pedagógica, em suas respectivas Superintendências Regionais que são, por sua vez, uma espécie de mini-Secretaria. Em Minas Gerais somam exatamente 41 ao todo. Têm como função principal prover assistência e orientação aos professores em suas respectivas escolas.
A estratégia nº 1, adotada pelo MEC e em cooperação com as Secretarias, consistiu em treinar as equipes de técnicos que, por sua vez, deverão repassar conhecimentos, habilidades e atitudes para o público alvo: os professores.
Procedimento adotado e dificuldades apresentadas pela Estratégia nº1
O treinamento destas equipes se fez em âmbito nacional - em diferentes regiões - e caracterizou-se pela adoção de procedimentos típicos do modelo centrado em conteúdos. Especialistas em tv educativa foram então convidados a desenvolver palestras sobre o tema. Em seguida, assistiu-se ao depoimento feito pelos Coordenadores de seus respectivos Estados sobre o estágio em que se encontravam, os avanços conseguidos e suas dificuldades na implementação do Programa TVEscola.
Pôde-se constatar, na ocasião, que o impacto causado sobre o quadro técnico foi de baixo teor, resultante sobretudo da estratégia instrucional adotada no Encontro Nacional, caracterizada como já dissemos, por procedimentos que colocavam os Instrutores como figuras de autoridade, sendo proporcionado aos treinandos um baixo grau de participação e envolvimento. Uma situação típica de planejar para, ao invés de planejar com.
E mais, experiências anteriores com este tipo de estratégia demonstravam que nela estava embutido um grande risco: o de o treinamento parar no técnico, trazendo-lhe benefícios de ordem individual, mas não se alcançando ressonância organizacional, isto é, o público alvo (professores) não ser atingido lá na escola.
Solicitou-se então aos Coordenações Estaduais que formulassem Plano de Ação a ser implementado em seus respectivos Estados, que, em sua fase de execução, assegurasse a efetiva participação dos Professores.
Estratégia nº 2: tentando manter o foco
Na Estratégia 2, trata-se de corrigir a ação pedagógica adotada durante a Estratégia nº 1, fortemente caracterizada por procedimentos típicos do modelo que enfatiza conteúdos (vide Kaplun), com predominância de aulas expositivas/palestras. Isto em geral leva o grupo de treinandos, quando muito, a desenvolver suas habilidades de argumentar sobre algum tema, no caso TVEscola, e o que é diferente de ser capaz de agir sobre o ambiente, no caso, capacitar o professor, lá na escola.
Ao reformular a Estratégia nº1, estamos fazendo o que Mário Kaplun recomenda: estamos nos perguntando "qual é, de fato, nosso público alvo?" A resposta é simples: são os professores, lá na escola. Feita esta constatação, elaborou-se uma linha básica de programação que consegue miminizar a presença de procedimentos típicos do modelo centrado em conteúdos, lançando-se mão de procedimentos típicos do modelo centrado no processo. A programação consegue, então, assegurar espaço para a conscientização, problematização e formulação de Plano de Ação a ser aplicado junto ás escolas. O Plano de Ação reserva ênfase especial a Metodologia de Projetos e os Professores transformam-se em Animadores ou Facilitadores e têm como papel principal o de atuar como catalisadores junto ao grupo de treinandos. Como tarefa final, os técnicos, ao regressar a suas Superintendências devem formular Plano de Ação detalhado, para aplicação, em um mínimo de 10 diferentes escolas da região em que trabalham.
Estratégia nº 3: o uso de EAD como recurso para se atingir o Professor
Retomando a pergunta "quem é, de fato, nosso público alvo?", o MEC lidera agora a implantação de um Curso de Extensão intitulado "TV na Escola e os Desafios de Hoje", na modalidade a distância, e dirigido a professores e a pessoal técnico na área de TVEscola. O curso está organizado em 3 módulos, assim:
Módulo 1 - Tecnologias e educação: desafios e a TV Escola.
Módulo 2 - Usos da TV e vídeo na escola.
Módulo 3 - Experimentação: planejando, produzindo, analisando.
O Curso de Extensão "TV na Escola e os desafios de hoje", será desenvolvido com base em vídeos que serão colocados no ar pelo Programa TVEscola. O projeto é de âmbito nacional e foi concebido de forma a integrar o MEC, todas as Secretarias de Estado da Educação e a Unirede (consórcio brasileiro que reúne 62 universidades públicas brasileiras, para atividades de EAD). Abertas as inscrições, via internet e outros canais, constatou-se a adesão de 230.000 candidatos ao Curso. Impossibilitado, por razões de infra-estrutura para atender de uma só vez a esta demanda surpreendente, o Projeto, em sua primeira fase, atenderá a 34.000 inscritos e terá início ainda no mês de outubro do corrente ano. (5)
Finalmente, pode-se dizer, é de se imaginar que a implementação deste Projeto "TV na Escola: os desafios de hoje", (6) irá provocar impacto significativo na nova arrancada rumo a apropriação da modalidade de educação a distância pelo sistema educacional público brasileiro. Possibilitará, também, em país de dimensões continentais como o Brasil, conseguirmos atingir de forma mais ampla nosso público alvo: os professores.
(1) Kaplun, Mário. "Una pedagogia de la comunicación". Ediciones de la Torre. Madrid, 1998.
(2) Freire, Paulo. "Educação e Mudança". Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1979.
(3) Amado, Gilles. Seminário "Pedagogia Empresarial". CESA. Belo Horizonte,1985.
(4) Freire, Paulo. "Educação e Mudança". Prefácio de Moacir Gadotti. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1979.
(5) http://www.mec.gov.br/seed/tvescola Programa TVEscola/detalhes sobre o Curso de Extensão "TV na escola e os desafios de hoje".
(6) TVEscola - VI Encontro Nacional da TVEscola. "Tv na Escola e os desafios de hoje". Manual de Orientação Acadêmica (Tutoria). MEC. Fortaleza, Brasil, outubro, 2000.
Autor:
Estevam de Toledo
stevantoledo[arroba]terra.com.br
UNED - UNIVERSIDAD NACIONAL DE EDUCACIÓN A DISTANCIA
MASTER UNIVERSITARIO EN NUEVAS TECNOLOGIAS DE LA INFORMACIÓN Y DE LA
COMUNICACIÓN
Professores-Tutores: Roberto Aparici e Francisco Sierra Caballero
Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
|
|