Liquidacoes extrajudiciais, privatizacoes e globalizacao financeira no brasil: A crise do setor público financeiro na era do Real

A história recente do desenvolvimento do sistema financeiro brasileiro é constituída de quatro grandes fases de transformação dos processos de gestão e de cultura organizacional (Cf. PIRES,1997).

Este artigo tem como cenário parte da terceira fase, mas dedicar-se-á, em termos de investigação e análise a quarta fase referente ao segundo lustro do plano Real, ou seja ao estudo do processo de globalização desconglomerativa do sistema financeiro nacional, o mais importante setor de serviços do Brasil, em números de empregados e em participação no PIB. Em 1990 esta participação correspondia a 12,78%, em 1995 passou a ser de 6,94% do PIB (ANDREZO, 1999: 274).

A primeira fase representa o início da gênese da automação bancária - 1964/73, baseada em grandes mainframes e no desenvolvimento de minicomputadores, caracterizada pela gestão financeira taylorista, que corresponde à intensificação da concentração territorial bancária. A etapa da gestão financeira taylorista e concentrativa se estendeu de 1945 a 1973. Representou o período em que as instituições financeiras de varejo experimentaram o começo de uma extraordinária dispersão territorial, no qual o desenvolvimento da tecnologia de informação, baseada em grandes mainframes e centros de processamento de dados (CPDs), era um dos principais fatores de limitação espacial de apropriação de parcela do mercado interno de circulação de ativos de papéis. O estabelecimento de reformas bancárias, de políticas tributárias, de poupança compulsória e de endividamento, reforçou conjuntamente com crescimento econômico o ímpeto inflacionário. O crescimento da inflação, o aumento da circulação de ativos de papéis, a Política Nacional de Informática contribuíram para a dispersão territorial das atividades financeiras. Os bancos de varejo adotaram economias de escala (crescimento horizontal) com baixo desenvolvimento da tecnologia de informação, a comunicação que era estabelecida entre as agências e os bancos de diferentes localidades não se realizava em tempo real ou instantâneo.

A segunda fase promoveu a dispersão territorial oligopolizada e confinada da automação bancária --1974/86 a gestão financeira fordista, baseada no desenvolvimento da tecnologia de informação e da microcomputação, correspondente a passagem da fase de concentração para a de conglomeração. Na etapa da gestão financeira fordista e conglomerativa, as instituições financeiras de varejo redimensionaram os seus espaços de atuação. As políticas protecionistas do Banco Central (BC) e a Lei de Informática, favoreceram o crescimento dos Grandes Conglo merados Financeiros (GCFs), o que resultou no aumento do número de fusões, de incorporações e do extraordinário crescimento do número de agências bancárias no território. A inflação continuou alimentando por depósitos não-remunerados (receita de float) e os ganhos dos bancos de varejo, juros extorsivos e lucros exorbitantes pautaram a escalada desses bancos. Enquanto os bancos de varejo expandiam suas atividades, através do uso de economias de escala com alto desenvolvimento da tecnologia de informação e comunicação, começando a se desenvolver em tempo real, os bancos de atacado e de investimento adotaram estratégias territoriais seletivas diferenciadas de apropriação de grandes volumes financeiros no território através de economias de escopo (crescimento vertical).



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Hindenburgo Francisco Pires
hindenburgo[arroba]uerj.br


 
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