Se eu não estiver enganado, foi durante os anos "60 que a utilização de recursos audiovisuais experimentou um avanço significativo no âmbito das organizações que lidam com educação no Brasil. Lembro-me de que, naquela ocasião, em 1968, realizou-se o I Congresso Brasileiro de Recursos Audiovisuais" e fundou-se a Associação Brasileira de Recursos Audiovisuais, com sede em São Paulo.
Ao tentar relembrar o tratamento que se dava á questão naquela época, percebo que se tratava de enfoques meramente laudatórios, que traziam como pano de fundo, o famoso "Cone de Dale" - uma classificação proposta pelo americano Edgar Dale e que conseguia colocar dentro da figura de um cone, todas a modalidades de RAV (recursos audiovisuais) existentes na ocasião. Dentre estes, destaque especial era dado ao uso de filmes educativos, os slides - que preferíamos chamar de diapositivos, o epidiascópio -raramente usado -, e os inevitáveis retroprojetores acompanhados das famosas lâminas ou transparências. No mais, a abordagem limitava-se aos cuidados e procedimentos a serem adotados. Lembro-me, por exemplo, de uma das receitas americanas, que recomendava que em matéria de transparências, nunca deveríamos ultrapassar o uso de 6 (seis), e que quando produzidas em número excessivo, poderiam conduzir a intoxicação.... mental. Claro está que não podemos nos esquecer de mencionar ações do porte de um Projeto Minerva - educação pelo rádio, organizado pela Fundação Roquete Pinto, ou de iniciativas tais como a do Projeto Saci (este ao que parece, não vingou), e do trabalho desenvolvido pela Fundação Anchieta, que só na cidade de São Paulo, conseguiu organizar mais de 200 telepostos como parte de projeto dedicado a faixa do denominado Ensino Supletivo.
Este era o cenário da ocasião. Do ponto de vista comportamental, havia dois aspectos que chamavam a atenção: o primeiro, como sempre, pertinente a resistência e inércia dos professores em romper com sua prática tradicional, o velho apego á aula expositiva enquanto recurso pedagógico e quando muito, o culto aos trabalhos em grupo. Acrescente-se a isto, o famoso quadro-negro, que depois se tornou verde, e a febre do uso de apostilas, sobretudo no âmbito do ensino secundário e universitário.
O segundo aspecto, na área comportamental, referia-se á chegada dos empresários ao ambiente educacional, empenhados em descobrir e aplicar estratégias de marketing, visando assegurar a realização de vendas em escala aos assustados professores e diretores de organizações escolares. Acrescente-se a estes, a iniciativa de organizações empresariais, sobretudo as multinacionais que aproveitavam-se da ocasião para disponibilizar, por empréstimo, e de forma gratuita, filmes didáticos, inevitavelmente carregados de conotações ideológicas ou mercantilistas pertinentes á área de atuação da empresa. O caso da Shell foi exemplo claro disto. A propaganda era parte integrante deste gesto de generosidade, e aparecia de forma subliminar ou mesmo explícita.
Hoje, decorridos cerca de 30-40 anos, o mundo mudou e temos que reconhecer que vivemos uma nova forma de paradigma, concentrada no uso da informação, daí o se falar em "era da informação, "revolução da informação", ou era da "economia em rede". Tal como o fizeram no século XX, a máquina a vapor, em seguida a eletricidade e o automóvel, da mesma forma, a rede mundial Internet e os computadores provocam agora toda uma reformulação na maneira de os homens se comunicarem e nas formas de funcionamento das organizações, sobretudo aquelas de fundo lucrativo. Creio poder afirmar, então, que o arsenal de RAV - recursos audiovisuais produzidos pela tecnologia de informações se amplia cada vez mais.
E o lado comportamental, como ficou? Não se pode dizer que houve grandes avanços. O professor - certa vez descrito como mais resistente ás mudanças do que o próprio agricultor -, abriu um pouco a sua guarda e acabou aderindo um pouco mais. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer nesta área. Da parte dos empresários, as técnicas de marketing hoje são mais apuradas, mas é possível que eles estejam caindo naquela velha armadilha: enaltecem as características de seus produtos e falham na medida em que não mostram a seus clientes (professores e dirigentes escolares) os benefícios que estes últimos poderiam obter na aplicação destes novos recursos.
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