"é cômodo acreditar no que nos consola.
Mais difícil é perseguir a verdade.
Quanta verdade você é capaz de suportar?"
NIETZSCHE
"Não contavam com minha astúcia?"
CHAVEZ
(o personagem e humorista mexicano)
O pensador e semiólogo italiano, Umberto Eco, esclarece que o nazismo não é a mesma coisa que fascismo, porque "há uma única maneira de ser nazista, mas há várias maneiras de ser fascista" (ECO, 1995).
Pela semelhança ideológica, e o período de surgimento na história, ambos são fundidos no termo "nazi-fascismo". Fala-se de organização do estado nazi-fascista. Contudo, embora muitos associem o fascismo somente como um regime de Estado, hoje ele está pulverizado tanto em alguns círculos de poder político como nas relações humanas do cotidiano.
Antes do artigo do pensador italiano, numa mesa-redonda, em 1980, no Rio de Janeiro, o psicanalista Narciso Mello Teixeira observava que o fascismo não é perigoso apenas quando se torna fascismo de Estado, mas também quando é praticado nas violências invisíveis e sem sangue que acontecem no dia-a-dia.
Atos truculentos, que perseguem discordantes, e discriminam mulheres, homossexuais, nordestinos, negros, judeus, árabes, ciganos, indígenas, etc., indicam um estilo fascista, ainda que o praticante negue ou se defenda com a justificativa de ser comunista, liberal ou democrata.
Para o psicanalista Melmam (2000) "o fascismo solicita um saber implícito nos membros do grupo concernidos, essa limitação sendo precisamente sua condição. Sua força está ligada não racionalmente, mas ao despertar de potencialidades até então negligenciadas".
O "protofascismo"[1](sic), versão pós-moderna do fascismo, ganha adeptos porque sabe como despertar potencialidades do indivíduo ou do grupo até então negligenciadas. Para tal, usa recursos diversos: discurso agressivo e falacioso, gestos teatrais, abraços e beijos inautênticos, o gesto de tomar uma criança ao colo para ser fotografado, etc.
O discurso protofascista geralmente seduz os incautos e os náufragos de alguma ideologia messiânica. Para essa audiência não importa confrontar a retórica com a prática, nem sua coerência e razoabilidade, nem importa reconhecer suas atitudes "imorais" postas a serviço de uma moral cínica. Na análise de Sloterdijk (apud Zizek, 1992) "eles sabem perfeitamente o que fazem [mal], e, no entanto o fazem", e ainda procuram justificar que fazem assim para o bem coletivo.
O protofascismo não é razoável nos atos e palavras. Sua razão instrumental é cínica, jamais ingênua, principalmente quando se trata de travar luta pelo poder político. Assim, um governante com vocações totalitárias faz uso cínico dos dispositivos próprios da democracia - por exemplo, através de um plebiscito calculado - visando ganhar mais-poder e/ou a perpetuação no poder.
O protofascista usa a razão e moral cínicas a serviço da imoralidade justificando-a como se fosse moral. Chomsky conta que mesmo os carrascos nazistas negaram ter cometido genocídio, mesmo após as provas, após verem os filmes, com milhares de corpos empilhados e nus retirados dos campos de concentração. No julgamento de Nuremberg, somente um oficial nazista assumiu a culpa pelo genocídio. Até mesmo um intelectual como Heidegger pode ter reconhecido um erro sua ligação com o nazismo, mas sequer aceitou falar disso para sua amiga por 50 anos, a judia Hannah Arendt.
No início, o fascismo fazia a apologia da guerra, do homicídio, da luta pela luta. Tudo lhe era válido para tomar e se manter no poder político, inclusive o derramamento do sangue. (Diferente do terrorismo que é essencialmente puro ato criminoso e não tem projeto político de tomar o poder).
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