O rasqueado mato-grossense: prática identitária e memória social



  1. Resumo
  2. Para contextualizar e problematizar a identidade
  3. Rasqueado ou o arquivo da identidade mato-grossense
  4. Bibliografia

RESUMO

O rasqueado é a "música popular mato-grossense que tem as suas origens nos ritmos que formaram a música popular brasileira" (ARRUDA, 2007: 21). Sob a perspectiva dos Estudos Culturais e foucaultianos, estudaremos o rasqueado (letra e música) como um arquivo em que estão imbricadas diversas práticas sociais (danças, festejos, linguajar, culinária...) como manifestação da identidade mato-grossense. Nesse sentido, defendemos a idéia de que o rasqueado é um acontecimento, um efeito do hibridismo de diferentes práticas que se interpõem e instituem, via memória social, o status da identidade mato-grossense. Como recorte, analisaremos as músicas: "Pixé", "Rasqueado do pau rodado", "Pau fincado" e "é bem Mato grosso".

PALAVRAS-CHAVE: Música; Mato-Grosso; Identidade.

ABSTRACT: The rasqueado is the "popular music from Mato Grosso that had its origins in the rhythms that had formed Brazilian popular music" (ARRUDA, 2007: 21). Under the perspective of the Cultural and foucaultians Studies, we will study the rasqueado (liric and music) as an archive where they are related a lot of social practical (dances, parties, language, food…) as manifestation of the identity of the people from Mato Grosso. In this direction, we defend the idea of that the rasqueado is an event, a effect of the hybridism of different practical that they are interposed and they institute, through the social memory, the status of the identity of the people from Mato Grosso. As object, we will analyze the songs: "Pixé", "Rasqueado do pau rodado", "Pau fincado" and "é bem Mato Grosso".

KEY-WORDS: Music; Mato Grosso; Identity.

Gostaríamos de trazer para este ensaio algumas contribuições que giram em torno da identidade. O viés que elegemos para tratar tal temática não a vê como fixação de características únicas de um grupo social. O que queremos é mostrar diversas práticas sociais (danças, festejos, linguajar, culinária) que se irrompem no rasqueado mato-grossense, ou seja, enquanto valores de uma cultura local que os reivindica para si e os institui como manifestações da identidade mato-grossense.

Assim, propomos que o rasqueado possa ser entendido como um arquivo, no sentido que lhe é dado por Michel Foucault (2004), que agrega uma série de costumes que têm a função de dizer (é também uma prática discursiva) e de atualizar o que é ser mato-grossense a cada acontecimento do rasqueado. Há, portanto, em seu ritmo - na letra, sobretudo, - um jogo constante de diferentes práticas que se interpõem e visam instituir, via memória social, o status da identidade mato-grossense. Como veremos, essa constituição identitária não é tão pacífica, como se poderia pensar à primeira vista, posto que o Estado de Mato Grosso, especialmente a partir de sua divisão em outubro de 1977, é, necessariamente, preenchido por culturas externas em decorrência do fator migratório de sua ocupação.

Para contextualizar e problematizar a identidade

            Os Estudos Culturais, aqui representados em grande parte por Stuart Hall (2004), abordam o tema identidade relacionando-o com o problema da multiculturalidade, fator que põe em xeque as noções estáveis que envolvem, ou envolviam, as questões identitárias, além de trazer a importáncia da alteridade, dados que marcam a relação identidade e diferença.

Hall se reporta ao início do pensamento moderno e considera que aí se tem a instauração de uma concepção essencialista e individualista da identidade. é comum a idéia de que o filósofo francês René Descartes (1596-1650) deu início à filosofia moderna ao centralizar no sujeito a questão do conhecimento. Com a famosa proposição "Penso, logo existo" (Cogito ergo sum), Descartes cessa um conjunto de dúvidas na busca

de uma verdade primeira, pois não pode duvidar do seu próprio ser que pensa, que duvida. "No centro da "mente" ele colocou o sujeito individual constituído por sua capacidade para pensar e raciocinar". (HALL, 2004, p. 27).

Para sua época, obviamente, Descartes teve o mérito de situar a dimensão do sujeito, fixando-o na sua referência ao conhecimento, ao saber. Entretanto, ele localiza no próprio indivíduo a possibilidade de ser sujeito, promovendo uma coincidência entre o eu que pensa e o eu que existe; o que resulta em um sujeito como fonte de si mesmo.

Essas certezas passaram a ser questionadas e revistas quando houve uma percepção ampliada acerca das complexidades da vida coletiva e social do estado moderno impulsionada pelo advento, sobretudo, do marxismo e do fenômeno da globalização. Tais fatores direcionaram a identidade para as experiências de grupos e "o indivíduo passou a ser visto como mais localizado e "definido" no interior dessas grandes estruturas e formações sustentadoras da sociedade moderna". (Hall, 2004:30).


Página seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.