Nietzsche e a educação

Enviado por Vicente Zatti


  1. Vontade de poder
  2. Perspectivismo
  3. A genealogia da moral
  4. Implicações pedagógicas
  5. Bibliografia

A tradição do pensamento filosófico apresenta as construções éticas como reflexões sobre o agir em busca de um elemento último como seu definidor. Nesse sentido, procuram estabelecer máximas universais e validade incondicional. A ética Kantiana, por exemplo, atribui à razão o governo absoluto quanto à moralidade, o que possibilita a universalidade de sua legislação. O projeto pedagógico moderno traz uma proposta de educação como uma ética aplicada, baseando-se na metafísica aspira à universalidade.

             Segundo Hermann[1] o pensamento de Nietzsche é uma das críticas mais profundas da idéia de ética universal, base para o projeto pedagógico moderno. Como profundo conhecedor do homem, Nietzsche em seu tempo, já percebeu a impossibilidade de realização dos ideais iluministas e vai procurar tirar o véu de Maia[2] da realidade, para que se veja o quanto há de crueldade por trás de ideais como moralidade, civilidade e por extensão, no projeto educacional moderno. A pedagogia pressupõe a idéia de aperfeiçoamento moral, de emancipação, crê no sentido e no aperfeiçoamento histórico. Por isso é devedora à metafísica.

            A crueldade consiste na negação da vida na medida em que é submissão dos impulsos. A grande obra tanto da moral quanto da educação é a submissão dos impulsos.Para os iluministas os impulsos devem ser submetidos a uma razão universal. Nietzsche mostra o quanto há de doentio nesse pensamento metafísico. Para ele, sentido da vida, da história, os valores morais, não se estabelecem por um supra-sensível, por um a priori. "Não há assim um poder transcendental que dê sentido à vida, nem a religião, nem a moral legitimada pelo supra-sensível, pelo a priori, pelo princípio causal."[3]

            Tanto o conhecimento quanto a moral são tentativas do homem em impor ordem ao mundo. A força da qual deriva tanto a capacidade de conhecer quanto a capacidade de produzir valores é a vontade de poder[4]. Por isso, analisaremos o conceito chave em Nietzsche que é a vontade de poder e como a partir daí se estabelecem a moral e o conhecimento, já que convencionalmente a grande tarefa da educação é transmitir os conhecimentos constituídos pela humanidade ao longo dos tempos e transmitir os valores considerados necessários para os indivíduos conviverem em sociedade.

 VONTADE DE PODER

            Como nos afirma Müller-Lauter [5], Vontade de Poder não é um caso especial do querer.Todo querer é querer algo. Esse algo-posto, essencial em todo querer é poder. Vontade de poder procura dominar e alargar incessantemente seu ámbito de poder. Alargamento de poder se perfaz em processos de dominação. Por isso querer-poder não é apenas desejar, aspirar, exigir. A ele pertence o afeto do comando.

            A vontade de poder está em obra em todo vivente, e não se restringe à autoconservação, mas procura se tornar mais. Os seres vivos não procuram apenas se manterem vivos, querem dar vazão à sua força. "Os fisiólogos deveriam refletir antes de estabelecer o impulso de autoconservação como o impulso cardinal de um ser orgánico uma criatura viva quer antes de tudo dar vazão a sua força - a própria vida é vontade de poder- : a autoconservação é apenas uma das indiretas, mais freqüentes conseqüências disso." [6]

            Quando se diz que ela está presente em todo vivente, isso inclui também o dominado e submisso. Além da autopreservação, a vontade de poder é autosuperação e autodesenvolvimento. Nietzsche utiliza a vontade de poder não apenas para explicar o acima citado, mas como uma chave geral para entender os processos da vida. Isso, entre outras obras aparece na obra Assim falou Zaratustra: "onde encontrei vida, ali encontrei vontade de potência, e até mesmo na vontade daquele que serve encontrei vontade de ser senhor."[7]

            Na vontade de poder se encontra a explicação para a geração, nutrição, para o estabelecimento do bem e do mal, fato que é importante para entendermos a origem da moral. "é vossa vontade e são os vossos valores que vós assentastes no rio do vir-a-ser; uma antiga vontade de potência é o que denuncia a mim aquilo que é acreditado pelo povo como bem e mal."[8]

            Essa chave da existência compreende também a atividade racional que se estabelece a partir da necessidade de autoconservação e mais, do exercício da vontade de poder. "O mundo visto de dentro, o mundo definido e designado conforme o seu caráter inteligível - seja justamente vontade de poder e nada mais."[9]


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