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Leitura e formação do espírito crítico (página 2)

Moisés José Bueno

O posicionamento do escritor na época estava ainda dentro daquela preocupação, corretíssima e necessária, com a questão estatística do analfabetismo, questão essa que 20 anos depois está muitíssimo distante de ser resolvida. Como se não bastasse a insistência e a permanência dos números negativos do analfabetismo bruto, hoje debate-se, junto dele, o outro lado do outro analfabetismo: o funcional.

Não basta ler letras. é preciso ler significados e, ao compreendê-los instrumentalizar-se para a transformação da sociedade, do mundo. Zilbermann já escrevia:

O ato de ler qualifica-se como uma prática indispensável para o posicionamento correto e consciente do indivíduo perante o real ...[...] a ideologia da leitura é condição para uma bem sucedida escala social. Educação e, aliada a ela, a leitura, ambas são responsáveis por propriedades transformadoras, do ponto de vista individual e social, por um modo particular de vivenciar o real e tornam-se intermediárias entre o sujeito e o mundo (1991, p.17.18)

Teodoro da Silva também se preocupou não só com a didática para se conseguir obter o hábito da leitura, nem tampouco somente com a técnica de saber interpretar o que foi lido. Suas perspectivas iam mais além, procurando mostrar que a leitura, para formar cidadãos verdadeiros, isto é, livres, conscientes, em plenitude, precisa ter claros os seus objetivos e suas finalidades. O ato de se caracterizar apenas por ler letras e não ler mundos exerce o papel de adaptação, quase domesticação e não prepara para a verdadeira cidadania. Assim ele se expressa: "Educar para a libertação e transformação, ou seja, submeter as contradições e os valores do presente à crítica de modo que a sobrevivência e a convivência social, em seus diferentes aspectos, possam ser transformadas" (DA SILVA, 1993, p.81).

4 CONCLUSÃO

Os autores aqui apresentados, e também outros como Barbosa (1992), Lajolo (1994), Cagliari (1992) deram preciosa e grandiosa colaboração com suas obras em sala de aula ou em livros a fim de que fosse dado novo vigor, novo direcionamento e novas oportunidades na questão da leitura nas escolas e na vida dos cidadãos. Tudo isso para ajudar as pessoas a se capacitarem mais para a reflexão, a pesquisa, o aprofundamento nas questões vitais e para uma maior coragem e responsabilidade de ação que fosse verdadeiramente uma ação transformadora, libertadora, construtora de novas realidades.

Infelizmente não é nada disso que ainda enfrentamos na nossa relação pedagógica com os nossos alunos, principalmente os acadêmicos de nossas Instituições de Ensino Superior. Eles vêm para o terceiro grau desmotivados para a leitura, despreparados para ela e profundamente convencidos de que não gostam, não querem e não precisam ler. Qualquer professor que deseja abrir maiores horizontes de vida através de uma aprofundada leitura, quantitativa e qualitativamente vai enfrentar esses vigorosos desafios e, na maioria, nossos professores com esses ideais, infelizmente, têm perdido suas batalhas, ainda que a guerra ainda esteja para se vencer.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e Leitura. 2.ed., São Paulo:Cortez, 1992.

CAGLIARI, Luís Carlos. Alfabetização & Lingüística. 5. Ed., São Paulo: Scipione, 1992.Cagliari (1992)

DA SILVA, EZEQUIEL Theodoro. Elementos de Pedagogia da leitura. 2.ed., São Paulo: Martins Fontes, 1999 .

___________, Leitura & Realidade Brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1994.Lajolo (1994),

SILVA, Luciane Ribeiro da. A Leitura na Formação do Espírito Crítico. Cornélio Procópio: FAFICOP (Monografia de Conclusão de Curso de Especialização), 34 p.

YUNES, Eliana; PONDé, Glória. Leitura e Leituras da Literatura Infantil. 2.ed., São Paulo: FTD, 1989.

ZILBERMANN, Regina. A leitura e o ensino da literatura. 2.ed., São Paulo: Contexto, 1991.

 

 

Autor:

Moisés José Bueno

profmoises[arroba]brturbo.com.br



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