Formação discursiva: um breve retorno



  1. Considerações preliminares
  2. Michel pêcheux e a formação discursiva
  3. Michel foucault e a formação discursiva
  4. Considerações finais
  5. Referências

Gostaria de mostrar que o discurso não é uma estreita superfície de contato, ou de confronto, entre uma realidade e uma língua, o intrincamento entre um léxico e uma experiência [...] revela, afinal de contas, uma tarefa inteiramente diferente, que consiste em não mais tratar os discursos como conjuntos de signos [...] mas como práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam. (Michel Foucault - A arqueologia do saber, p. 54-5).

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Abordar o conceito de formação discursiva requer, primeiramente, o reconhecimento de que se fala de um espaço cuja origem é creditada a dois teóricos. Segundo R. Baronas, "[...] tal conceito tem pelo menos uma paternidade partilhada [...]" (2004, p. 47). Os teóricos dos quais se fala são Michel Pêcheux e Michel Foucault; dois nomes que contribuíram decisivamente para os estudos sobre o discurso, sendo atribuído ao primeiro o mérito de iniciar a Escola Francesa de Análise do Discurso.

As observações acima apontam para um quadro instável em torno da noção de formação discursiva. Neste ensaio, no entanto, não se discutirá de quem procede tal conceito. O que se pretende é evidenciar, de modo sucinto, como cada autor o caracteriza, para, posteriormente, fazer uma aproximação do conceito foucaultiano elaborado em "A Arqueologia do Saber" (1969) com a mesma noção em "A Ordem do Discurso" (1970).

é verdade que muito se tem escrito e discutido sobre o conceito de formação discursiva. Há, inclusive, a querela a respeito de quem teria sido o seu criador. Por conta disso, o presente trabalho corre o risco de ser redundante, o que não invalida a sua importáncia, uma vez que no jogo discursivo, "o novo não está no que é dito, mas no acontecimento de sua volta". (FOUCAULT, 2003, p. 26).

2. MICHEL PÊCHEUX E A FORMAÇÃO DISCURSIVA[1]

            Em Pêcheux, a FD está, pelo menos em seu início, intimamente relacionada com a noção de formação ideológica, decorrente da leitura que ele fez dos "Aparelhos Ideológicos do Estado" de L. Althusser, o que, por conseguinte, explica o seu estreito laço com o marxismo. Assim Pêcheux expõe sua idéia:

Chamaremos, então, formação discursiva aquilo que, em uma formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada em uma conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de classes, determina "o que pode e o que deve ser dito" (articulado sob a forma de uma alocução, de um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa, etc.). (1997a, p. 160).

Esse recorte pecheutiano sugere que a ideologia é materializada por meio dos discursos e articulada por sujeitos. Isso pode ser corroborado com a seguinte passagem: "Só há ideologia pelo sujeito e para sujeitos". (Op. cit. p. 149).

Nesse sentido é que Pêcheux pôde formular a idéia de que o sujeito é interpelado pela ideologia que o constitui, ou seja, o assujeitamento; mostrando que, ao enunciar, todo sujeito fala a partir de uma FD e, assim, marca uma posição de sujeito. Dessa maneira, esse posicionamento acaba por constituir no sujeito uma identidade enunciativa.

Num campo discursivo, "posicionamento", define mais precisamente uma identidade enunciativa forte ("o discurso do partido comunista de tal período", por exemplo), um lugar de produção discursiva bem específico. (CHARAUDEAU & MAINGUENEAU, 2004, p. 392).

            Não se deve compreender essa identidade que o sujeito mantém com a FD de maneira estável, cristalizada. Isso é evidente quando Pêcheux, ao rever a trajetória da Análise do Discurso, observa que no seu segundo momento, ou seja, a AD-2,

uma FD não é um espaço estrutural fechado, pois é constitutivamente "invadida" por elementos que vêm de outro lugar (isto é, de outras FD) que se repetem nela, fornecendo-lhe suas evidências discursivas fundamentais (por exemplo sob a forma de "pré-construídos" e de "discursos transversos"). (1997b, p. 314).

            é nesse aporte que se instaura a noção de interdiscurso; é ele que possibilita ao sujeito concretizar o seu discurso; marca a exterioridade, o lugar anterior determinante do próprio discurso. Essa reflexão traz a idéia de que o sujeito não somente materializa a ideologia como também é aquele responsável por agenciar os sentidos.

No entanto, esse agenciamento não decorre da pura transparência da linguagem. O que ocorre é que a ideologia cria a ilusão no sujeito de que ele é a fonte do seu dizer, origem do sentido. Como assevera Pêcheux,


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