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Diálogos e Conflitos Professor-Aluno no Ensino Superior I (página 2)

Moisés José Bueno

Até o presente momento foram mencionadas apenas situações de conflito. é preciso apontar algumas possibilidades de diálogo, porque essa é a proposta que se apresenta através do título do presente artigo. Mas antes de encaminhar algumas possibilidades de diálogo, gostaria de apontar ainda algumas situações que envolvem professores e aluno. Essas reflexões fazem parte de dois artigos de opinião que escrevi no ano passado para um portal eletrônico de nossa região1. Transcrevo-os na íntegra, a seguir. Com toda a probabilidade os diálogos e os referenciais teóricos ficarão para a segunda parte deste artigo, no mês que vem, isso se não houver até uma terceira. Veremos. Mas, agora vou em busca dos artigos citados, copiando-os e colando-os aqui.

Meu campo de trabalho é a educação superior. E como parte da minha existência, esse campo de trabalho acaba me trazendo contínuas reflexões e muitas preocupações. Uma delas é a preocupação com o estado da educação. E eu começo a refletir sobre a educação sob o ponto de vista de dois pólos: o dos professores e o dos alunos. Nesta semana abordarei a questão dos professores e, na semana que vem, tratarei da situação dos alunos.

Não tenho a intenção de culpar os professores pelo fracasso do sistema educacional no Brasil, mas também não consigo deixar de anotar algumas ações dessa categoria de pessoas que contribuem para as coisas ficarem como estão ou até mesmo a piorarem ainda mais.

Mas vamos ver como estão nossos professores. Inspirado nos dez mandamentos, não sei porque até, mas talvez por causa do número dez que dá um ar de perfeição naquilo que a gente faz, escolhi dez blocos de descrição da situação em que se encontram os professores, se não todos, mas pelo menos boa parte:

1.Mal preparados. Boa parte deles é produto de um sistema de ensino brasileiro que, de uns trinta anos para cá, em vez de melhorias só faz piorar o nível do saber e do aprender de nosso país.

2. Desmotivados. Não estão encontrando mais prazer na sua função. Fazem por obrigação, mas se pudessem fariam outra coisa que lhes desse mais alegria

3. Acomodados. Como resultado da desmotivação e da falta de perspectivas de realização humana e profissional não querem mais saber de investir em si mesmos, de convencer-se de que é preciso recomeçar a aprender. Ninguém mais quer fazer um curso de aperfeiçoamento ou de pós-graduação de verdade e se contenta com cursinhos de algumas horas. Muitos querem diplomas e certificados apenas para contar pontos para a subida de nível

4. Cansados. A correria para várias escolas, a necessidade de usar o tempo de descanso do final de semana para preparar aulas e corrigir atividades.

5. Mal remunerados. Alguém do sistema econômico conseguiu implantar a idéia de que o professor ganha bem e, às vezes, muito bem. Comparam o que um professor ganha pelas horas que trabalha com diversas outras classes que trabalham a mesma quantia de horas e ganham muitíssimo menos. Há certas opiniões de que até desautorizam os professores a reivindicar melhores salários, melhores condições de trabalho, melhor dignificação. Mas o fato é que o professor pela sua importáncia fundamental na sociedade e pelo investimento que fez na sua própria formação deveria ganhar bem mais.

6. Mal acostumados. Por lidarem diariamente com situações de desrespeito, de facilidades, de soluções fáceis, alguns professores também ficaram mal acostumados. Perderam a noção da pontualidade, da seriedade em ministrar as suas aulas, matam as aulas com papos e assuntos diferentes daquilo que deveriam ensinar e, muitas vezes, até contrários aos bons princípios de conduta e de pensar.

Muitos professores até perguntam: "Será que a gente precisa ir na escola hoje?" "Os alunos não vão vir mesmo, por que a gente deveria ir?". Mas os alunos não vieram porque estão sendo levados por esse vício propagado de acomodação, de aproveitamento, de matação, de omissão para com os deveres individuais. Pense nas tais "semanas de saco cheio".

7. Amedrontados. Muitos estão em crise. Estão com medo do futuro, não conseguem lidar bem com o presente, sentem-se ameaçados física e emocionalmente pelos seus alunos, até aqueles pequeninos, de séries fundamentais.

8. Convencidos. Há também os que se sentem tão seguros de si, tão capazes, tão detentores de conhecimento que não admitem aprender mais nada e consideram o máximo do saber, o maior critério da aprendizagem. Não se acham precisadores de livros, de material didático, de recursos tecnológicos, de nada. Eles já sabem tudo, podem tudo.

9. Confusos. Existem professores que buscam desesperadamente soluções para os seus problemas e os dos seus alunos, para os da educação, da escola e da família. Mas ficam confusos, decepcionados. Vêem que todas as iniciativas que põem em ação acabam sendo infrutíferas ou insuficientes. Então não sabem mais aonde e a quem recorrer. Daí surgir que fiquem abatidos, apáticos, revoltados, estressados.

10. Dispersivos. Precisam fazer três expedientes diários, trabalhar em várias escolas, séries e disciplinas diferentes, quando chegam ao final do 3º turno estão aéreos, no mundo da lua.

Percebeu como é difícil atribuir a culpa da má qualidade da educação aos professores, mas como também há sérios motivos para se considerar responsabilidade de muitos deles em boa parte desta situação?

Na semana passada abordei o assunto da má qualidade da educação e apontei dez tipos de situações que envolvem os professores e que contribuem para que a educação não produza aqueles frutos que se deseja. Hoje, tentarei ver a questão olhando a situação dos estudantes

1.Desinteressados. Talvez por culpa da escola, mas os alunos sentem muita dificuldade em ter interesse pelo quê aprender. Dá impressão de que nada do que estudam serve para a vida. O estudo parece não estar valendo para nada. Quantos diplomados estão amargando situações de desemprego. Aí justificar-se o pouco interesse em empenhar-se nos assuntos e nas tarefas educacionais.

2.Cansados. Os jovens já chegam à escola com a vontade e, muitos, com a necessidade de descansar. Muitos passaram de 8 a 10 horas de trabalho, não raro, pesados e chegam à escola extenuados, sem falar que muitos estão mal alimentados, quando não, desnutridos. Como se exigir deles empenho e dedicação na sala de aula?

3.Descapitalizados. Os estudantes não têm nenhum amparo financeiro. Alguns privilegiados trabalham em ofícios que lhes permite pagar uma faculdade. Outros afortunados têm pais que conseguem "fazer o filho estudar" pagando-lhe a mensalidade da Faculdade. Alguns, infimamente poucos, conseguem vaga numa Instituição Pública, do Governo e conseguem estudar de graça. Mas precisam pagar transporte, alimentação, material escolar e outras despesas. E como pedir para investir nos próprios estudos a alguém que recebe um salário mínimo e, com ele, ainda tem que ajudar os pais e a família?

4.Influenciados. Coisa boa dificilmente influencia bastante, mas as coisas extraviadas da televisão, dos traficantes, da companheirada, da mentalidade de prazer e de consumo, do afastamento e do abandono dos compromissos éticos e morais,isso sim, influencia muito. A educação, para muitos jovens, propõe metas inaceitáveis e impossíveis de serem realizadas ou, então, inúteis.

5.Rebeldizados. Parece que o jovem sente dificuldade em se submeter a princípios, a valores, a pessoas, mesmo que isso lhe pareça ser essencialmente vital para ele. Ele considera mais fácil e mais prático opor-se, antagonizar, desprezar, repudiar tudo o que lhe venha a parecer limites e sendas de vida e de vivências.

Entre essas forças dignas de reprovação e oposição está a educação, o ensino.

6.Apavorados. Grande número de jovens estão desnorteados. Não sabem por onde ir, não sabem o que será, não antevêem o que lhes espera no futuro. A vida parece estar-lhes sendo negada no amanhã. Por isso estão sofrendo, apavoram-se, estremecem-se. Até a educação parece mostrar-lhes mais um mundo nocivo do que parceiro.

7.Acomodados. Há uma parcela da juventude que, de tão desesperançosa que está não quer saber de mais nada. Desistiram de viver, desistiram de lutar.

Assumiram a companhia das drogas, das bebedeiras, das fumaceiras, da pansexualidade e outras vivências que nada mais são do que contrariar todos os níveis positivos de vida auspiciáveis. Educação, pra quê?

8.Exaltados. Talvez a palavra alucinados fosse mais cabível, mas ela é muito forte. Os jovens querem viver, precisam viver. E como não encontram respaldo para essas prerrogativas sentem-se tão sufocados que buscam viver vários anos em um só, querem realizar muitas coisas ao mesmo tempo, o que lhes acaba obrigando à superficialidade e até à mediocridade. Como não é isso que desejam, se revoltam, se exaltam, se recriminam e recriminam desproporcionalmente os que os querem fazer trilhar pelos caminhos da educação.

9.Exigentes. Esta é uma boa qualidade, na maioria dos comportamentos juvenis. Entretanto, existem aqueles que exigem só pelo fato de não estarem de acordo, só para parecerem originais, só para mostrarem que têm autodeterminação e iniciativas. A esses nem sempre se pode levar a sério naqueles pedidos de melhoria para a educação, pois, em geral querem melhorias, mas só no sentido de favorecimentos descomprometidos.

10.Adoentados. Há muitos males que acometem nossos jovens estudantes.

Males físicos, psíquicos, males morais, males da vontade, males da inteligência. Doenças do corpo edoenças da mente. Preguiças, verminoses, intoxicações, estresses

Mesmo assim, os jovens continuam sempre a grande esperança de um futuro melhor para a educação. Eles têm muito a contribuir. Eles têm muito a oferecer e farão com que a educação tenha muito a ofertar. Eles dirão à educação o que eles precisam e ela irá providenciar, à altura deles, tudo o que lhe for essencial para a formação generalizada.

NOTAS

1 O portal é: www.nopnet.com.br

 

 

Autor:

Moisés José Bueno

profmoises[arroba]brturbo.com.br

Mestre em Teologia, Especialista em Orientação Educacional, Graduado em Pedagogia. Professor na Faculdade de Ciências de Wenceslau Braz PR - FACIBRA.



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