Desde há muito que nos habituámos a lidar com temas como o dos limites ou das falhas do mercado. Do mesmo modo, é corrente discutir o Estado e o seu papel na economia, cuidando de saber se ele há-de ser maior ou menor, que atribuições lhe devem estar reservadas e quais as que ganham em ser vedadas à acção estatal. É fácil admitir que estes assuntos resultam da ideia de que o funcionamento da economia carece de articulações e de compatibilizações – isto é, de uma visão sobre a natureza plural dos mecanismos em que os sistemas económicos assentam e dos modos como são governados. Além disso, uma noção “humilde” sobre o funcionamento material concreto da vida obriga-nos a aplicar ao uso dos instrumentos conceptuais de que dispomos um “princípio da precaução” semelhante àquele que as incertezas ambientais tornaram necessário – o “processo da vida”, de que falava Veblen, é um processo “secular”, cheio de diferenciações, imperfeições, poderes diversos, contextos variados onde os actores socioeconómicos se capacitam ou são sujeitos a restrições. Séculos passados sobre o início da construção de paradigmas científicos modernos e iluministas, é também o nosso capital teórico e as suas gritantes insuficiências – na explicação, na previsão, na procura de sínteses – que nos recomenda o mesmo princípio de prudência.
Por outro lado, os dias de hoje são fortemente influenciados por uma obsessão da explicação global, o que levou a uma redução dramática das bases problemáticas em que assentam as tentativas de compreensão dos fenómenos sociais, políticos e económicos, as quais tendem a ser profundamente funcionalistas. Nisso consiste, por exemplo, a linguagem globalista dominante e a convergência interpretativa das leituras acerca das dinâmicas contemporâneas, mesmo quando lhes presidem convicções políticas e sociais muito contrastadas.
José Reis
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