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Não é o professor que tem já definido todo o plano do ensinar, todo o projeto das aulas. Isso deve ser conquistado, buscado, planejado e executado numa partilha. Ele precisa ter a coragem de se posicionar com outro tipo de atitude.
E Paulo Freire, ainda citado por Feitosa, descreve que "A atitude dialógica é, antes de tudo, uma atitude de amor, humildade e fé nos homens, no seu poder de fazer e de refazer, de criar e de recriar (FREIRE, 1987:81 apud FEITOSA, 1999, página eletrônica).
Rigoni (2005, p.4) estudando o assunto afirma que "[...] ... os educadores/as neste processo de ensino-aprendizagem, estabelecem novas relações da sua prática de educabilidade com os seus educandos, exercitando assim, a sua autonomia no sentido de aprender com o outro...[...]" E a autora servese de Paulo Freire para argumentar que: "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção", (FREIRE, 1996, p.14 apud RIGONI, 2005, p.4).
Então essa é a missão, a função, a obrigação do professor atualizado, modernizado. È compreensível não ser uma tarefa fácil para o professor de hoje levar a efeito uma modalidade de educação para a qual não foi preparado. Mesmo os mais desejosos de realizar tal atitude inovadora sentem muitas dificuldades porque entendem o "quê" , o porquê", o "para quê", mas se sentem fragilizados e quase impotentes de realizar o "como".
Daí também o interesse de, nesse artigo, se não apresentar um "como" direto, pelo menos refletir sobre a necessidade dele e quem sabe até vislumbrar alguns horizontes de possíveis soluções. Não é demasiado afirmar que este pesquisador também se inquieta com a necessidade de efetivar esses princípios através de atitudes que venham a conduzir melhor o processo ensino aprendizagem, numa maneira dialógica que venha a superar esses desníveis de relacionamentos, imposições e arbitrariedades. Mas é preciso confessar: na minha prática de ambiente de aula não tenho consigo um itinerário mais positivamente realizador. È muito difícil superar todo o mundo cultural pedagógico que nos foi colocado aos ombros. Enveredar por outros caminhos, construir novas alternativas é um imenso desafio e muitas vezes desolador, com resultados nulos ou com motivações frustradas no decorrer do processo.
Todavia, enquanto se estiver em processo de busca, significa que há sempre uma faísca de esperança e de ideais ainda vivos. Fonseca num de seus trabalhos parece até compreender essas dificuldades, acima acenadas, e trata da relação entre professor e aluno sob a ótica da empatia. Ele não trata especificamente do professor, pois ele visa o terapeuta, mas suas idéias são tão apropriadas que é possível aplicá-las para o processo educacional.
Para superar os obstáculos que o professor encontra na sua relação com o educando e para que não se sinta rebaixado perante a importáncia que se dá ao aluno, é possível aceitar que tal relacionamento precisa acontecer numa "dinámica de interação e de re-criação de diferenças entre os parceiros" (FONSECA, 200?, página eletrônica). Logicamente isso ajudará a entender que "Com o outro, na empatia, a relação é ontológica, relação de totalidade de ser, existencialmente produtiva, nunca uma busca objetivista de conhecimento, muito menos um esforço de uso do parceiro...[...]".(FONSECA, idem, ibidem).
A empatia não diminui ninguém. Ela não tem a função nem mesmo de diminuir as diferenças entre as pessoas. Ela se nutre positivamente das diferenças de tal modo que:
configura-se basicamente como processo de diferenciação, no qual as diferenças se encontram, confrontam-se, e são recriadas, como diferenci/ação".[...] já não são um para o outro objetos de relação, de conhecimento, ou de uso, mas são co-partícipes, co-laboradores em um processo relacional,[..] (FONSECA, op.cit., página eletrônica)
Parece que a empatia é uma atitude positiva através da qual fica mais próximo de se entender que "a educação é comunicação, é diálogo, na medida que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados, através da relação comunicativa que se estabelece a partir da compreensão pelos sujeitos iintercomunicantes do conteúdosobre o qual ou a propósito do qual se realiza a comunicação". ... (RIGONI, 2005, p. 8).
3 DEVE-SE APRENDER A APRENDIZAGEM: principalmente deve-o o professor
Aprender mais do que relação de saber é relação de existência de vida "Aprender é uma modificação estrutural não do comportamento, mas da convivência". (MATURANA,1994 apud RIGONI,2005, p.2). Por conseguinte, o professor para levar o aluno a aprender, tem que primeiro dispor-se a ser um aprendedor. E aprender significa mudar, sem trazer prejuízos para nenhum dos parceiros, mas pelo contrário só vantagens, conforme Maturana, citado e resumido por RIGONI:
O diálogo pragmático tem o objetivo de promover a construção de uma comunidade, da promoção a uma cultura de respeito e o cultivo do discurso racional, que faz entender a prática educativa como um exercício constante em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e dos educandos. (RIGONI, 2005, p.5).
Todo o professor, principalmente o do Ensino Superior, se preocupa no primeiro dia de aula a deixar bem claro aos seus alunos o seu plano de ensino, o seu planejamento de aulas, seus objetivos, seus métodos de ensinar e avaliar, a bibliografia a ser seguida, as estratégias pedagógicas, enfim, o itinerário para o aluno acompanhar e assimilar a lógica daquela disciplina no semestre ou no ano.
Nossa formação didática mostra isso como uma grande virtude e uma grande vantagem para a pessoa do professor. No entanto, parece que as recentes compreensões de ensino e de aprendizagem vêm a entender que tudo isso pode ser apenas um instrumental inicial, mas que precisa ser revisto e refeito naquela relação de dialogicidade entre todos os parceiros da aprendizagem, aqueles sujeitos que estamos estigmatizados em chamar de professor e aluno.
O ideal é que o professor consiga construir um ambiente de aprendizagem que contemple e realize pelo menos quatro elementos. Rigoni (2005, p.6) os descreve, ainda que sua intenção não é a de atingir o nível superior de ensino. Entretanto, parece ser possível adaptar essas considerações para aquele nível, que a presente reflexão enfoca, o terceiro grau.
Um professor ao elaborar um projeto de aula, um plano de trabalho para a educação, começando do seu primeiro dia de aula até o último: deve considerar os seguintes elementos:
a)Flexibilidade - Onde estudar? Quando estudar? Em que rítmo?
b)Eficácia - Combinação entre estudo e trabalho.
c) O Social - Permanência do aluno em seu ambiente familiar.
d)Aluno ativo - Desenvolvimento da iniciativa, de atitudes, interesses, valores e hábitos educativos. (RIGONI, 2005, p.6).
Pode ser que seja início aqui de outras dificuldades para o professor, isto é, mesmo para aquele que tenciona pôr em prática princípios e metodologias inovadores. Como é que eu vou elaborar um plano de aulas com alunos que chegam à Faculdade, sem base, sem motivação, sem entusiasmo, sem coragem para estudar, que querem, no máximo, satisfazer os idéias de seus pais? Essas perguntas pretensamente parecem justificar uma atitude de tão somente apresentar um projeto de disciplina ou de aulas já elaborado, com a intenção mínima essencial de partilhar com os alunos, em outras palavras, apenas apresentar a eles a maneira democrática com que eu professor decidi realizar o nosso trabalho neste semestre ou ano. Torna-se muito difícil, muito complicada e, por isso mesmo, muito remota, a possibilidade de se submeter e submeter algum esboço de projeto aos alunos. é desafiador encontrar um professor que ouse fazê-lo. E quando se encontra, adquirese, com ele, uma experiência enriquecedora.
é ainda Rigoni que, refletindo, fornece algumas considerações possíveis de serem colocadas em ação. Diz ela: "existe uma convicção de que a verdadeira disciplina não existe na estagnação dos silenciados, mas no alvoroço dos inquietos, na dúvida que sucinta e na esperança que desperta". (2005, p..10) . E continua, desta vez comungando as mesmas idéias de FONSECA :
mas é escutando que aprendemos a falar com eles, ou seja o educador que escuta, aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, em uma fala com ele. [...] Ser empático e manter uma atitude de cooperação, que nasce das liberdades que se assumem eticamente, constituindo um caráter formador do espaço pedagógico. Quanto mais solidariedade existir entre os interlocutores, mais possibilidades de aprendizagem , se abrem .A comunicação docente/discente exige dos professores novos esquemas mentais e novas concepções acerca do saber que envolve diálogos constantes, intercámbios singulares, criatividade e disponibilidade para investigação, indispensáveis ao cumprimento do compromisso real com as políticas democráticas e de eqüidade social". .. (RIGONI, 2005, p.11.12
Aquilo que, aparentemente, parece ser um contrasenso, um prejuízo, uma imprudência, acaba sendo, na realidade um benefício, e mais, caracteriza-se como uma condição indispensável, essencial para uma atitude renovadora e inovadora para a educação. Neste novo proceder educativo, nessa nova metodologia, digamos assim:
[...] acontece entre docente e discente uma divisão de responsabilidades,
trazendo a investigação como um eixo curricular, através da concepção do
conhecimento como um processo, onde os interlocutores interagem,
favorecendo a pesquisa como base de construção de conhecimento, visto
que permanentemente há a abertura para a discussão e avaliação do
percurso e os resultados dos estudos dos alunos. Pois, acompanhando-se o
cotidiano do aluno, poderemos avaliar se o mesmo desenvolveu um
processo de ação-reflexão-ação que lhe dê sustentação para repensar a
sua prática educativa" [...] (Ibidem, p.12)
O diálogo traz mais benefícios do que prejuízos. A única coisa necessária é que ele seja estabelecido. Difícil? Sim, bastante. Impossível? De forma alguma!
Pelo trabalho de Feitosa (1999, passim) foi possível compartilhar da conclusão de que o ato de aprender só se dá quando existe conhecimento da realidade concreta. Isso significa que o professor precisa inteirar-se da situação real vivida pelo educando e, a partir dela e, especialmente com ela, planejar a sua disciplina, o seu seminário, o seu curso. Evidentemente que o professor deve ter em vista alguns temas, algumas investigações temáticas para poder, juntamente com os elementos trazidos à tona pelos seus alunos, descobrir algo que possa funcionar como tema gerador. Essa metodologia foi apresentada pela autora como se compondo de três momentos: investigação, tematização e problematização.
Eu considero que é exatamente o inverso daquilo que ordinariamente estamos fazendo nas nossas aulas. Em geral até partimos de uma problematização, mas ela acaba sendo artificial porque "sai de nossa cabeça", de nossa experiência e se apresenta como a grande verdade a qual não queremos submeter à "ignoráncia" dos pobres universitários que adentram os limites da Faculdade.
Fazemos a mesma coisa com a tematização e a investigação. Abordamos aquilo que achamos importante e o fazemos dentro de uma metodologia que, em geral, consideramos a mais infalível do mundo. Às vezes até nos submetemos a determinadas diretrizes da Instituição onde trabalhamos, isto é, nos esforçamos em cumprir ementas, indicações bibliográficas e estratégias pedagógicas que a Escola nos aponta ou nos exige. Mas, de fato, dialogar e construir um plano partindo da base, partindo do mundo real, do mundo concreto dos acadêmicos, isso é muito difícil. E quando estamos dispostos em realizar tal empreendimento nos esbarramos com as nossas limitações, dificuldades e desconhecimentos.
é por isso que esse assunto está tomando conta de minhas preocupações e de minhas convicções de que temos que aprender a achar novos caminhos. Do jeito que continuamos agindo não vai se chegar a nada.
FEITOSA, Sonia Couto Souza . "Método Paulo Freire: princípios e práticas de uma concepção popular de educação" Dissertação de mestrado defendida na FE-USP (1999). Disponível em: http://www.paulofreire.org/Biblioteca/metodo.htm
FONSECA, Afonso H Lisboa da . As Condições Facilitadoras Básicas como Princípios De Método Fenomenológico-Existencial: II. A relação empática. empatia e dialogicidade. 200? . Disponível em: http://www.Rogeriana.com/fonseca/empat.htm
RIGONI, Dirce M. de Rossi Garcia Rafaelli. Orientador: Reconstruindo a Aprendizagem na EAD. Artigo de 2005. Disponível em:
REVISTA ESPAÇO DA SOFIA - Nº 05 - AGOSTO/2007 - MENSAL - ANO I
Autor:
Moisés José Bueno
profmoises[arroba]brturbo.com.br
Mestre em Teologia, Especialista em Orientação Educacional, Graduado em Pedagogia. Professor na Faculdade de Ciências de Wenceslau Braz PR - FACIBRA.
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