Este artigo procura apresentar os pontos de partida teóricos de um projecto de investigação em curso com vista a uma tese de doutoramento sobre “a ausência da música portuguesa no contexto europeu”. Trata-se de, partindo de um ponto central, a ausência da música portuguesa do cânone musical da tradição erudita europeia, tentar analisar os processos históricos que levaram a essa inexistência e ao seu prolongamento durante todo o século XX.
Esta problemática tem vários pontos de contacto com outros debates actualmente em curso nas ciências sociais e humanas e reclama, por isso, um dispositivo teórico capaz de abarcar um âmbito de estudo alargado a partir de uma pluralidade de pontos de vista. A noção de que a realidade é sempre relacional terá de presidir à análise. Como não existe subalternidade senão em relação a uma hegemonia, a investigação tentará lançar um duplo olhar tanto sobre a ausência como sobre a hegemonia.
Neste contexto, os conceitos de “sociologia das ausências” e de “sociologia das emergências” propostos por Boaventura de Sousa Santos constituem os utensílios teóricos de base sobre os quais se poderá levar a cabo a investigação que permita depois o “trabalho da tradução”, no sentido amplo do termo, isto é, enquanto prática cultural que permite a viagem, a circulação de obras de arte entre diferentes línguas e entre diferentes culturas.
António Pinho Vargas
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