Filhos namorando: ¿perigo à vista?

Enviado por Raymundo de Lima


  1. "Ficar", o namoro e a paixão
  2. Que fazer com as paixões?
  3. Relações verticais e horizontais na pós modernidade
  4. Início do namoro, que fazer?
  5. Bibliografia

O parricidio(1) do Brooklin de São Paulo nos obriga a uma profunda reflexão sobre as amizades e o namoro dos filhos, a paixão "louca" e as drogas.

"O namorado chega antes da hora, na hora ou depois da hora, conforme que ama, ainda ama ou não mais ama". (Condessa Diane, apud Mansour Challita)

Qual é o melhor posicionamento do pai ou mãe quando a filha adolescente começa a namorar? Que fazer quando eles dizem que estão na fase do "ficar"? Proibir ou liberar? Se você conhece e gosta do rapaz ou da moça simplesmente deixa as coisas acontecerem? E se você não sabe quem é a pessoa ou suspeita que ela não serve para sua filho (a), deve ou não se render a paixão amorosa dela?

Pior mesmo é quanto você tem indícios de que o rapaz com quem sua filha está saindo usa drogas, não estuda, nem trabalha e tem o corpo todo tatuado. Suzane Richthofen que assassinou brutalmente os próprios pais, teve o namoro proibido por eles. Paixão tóxica e drogas parece ser uma combinação perigosa podendo levar a atos trágicos como o "crime do Brooklin".

Sem querer sair em defesa dos pais, também não pretendo acusá-los de terem indiretamente causado o próprio assassinato como tem insinuado parte da grande imprensa. É oportuno se estabelecer uma distinção entre a função "profissional" e a função "pai" e "mãe".  Mesmo sendo uma psiquiatra, alguém que trata da mente das pessoas, tal como era a mãe de Suzane, em casa, naquela família, seu posicionamento era sobretudo de "mãe" igualzinha como as outras. O fato de ser formado numa faculdade, em qualquer curso de Humanidades, não capacita a pessoa para a função cada vez mais complexa e difícil, quase impossível, de ser mãe e pai em nossa época. Como analisou E. Badinter (1985), ser mãe não é uma função instintiva; implica sim em reconhecer o seu desejo para esse papel confrontada ou orientada pelo "ideal de ego", que consiste em identificar-se com sua própria mãe, avós, tias, vizinhas, enfim, pela via da tradição, geração pós geração. Ora, estamos vivendo uma ruptura desse aprendizado de sabedoria popular resultando algumas conseqüências psíquicas e sociais nada sadias, porque o montante de conhecimentos científicos e de informação sobre como educar são insuficientes e vazias na prática.

Sabemos pela imprensa que os pais de Suzane haviam perdido o controle sobre a filha duplamente apaixonada pelo "cara" e pelas drogas. O pai teria batido na filha adulta como se fosse uma criança, talvez como um último recurso de impor limites a atitude dela que teimava em continuar namorando um rapaz viciado em drogas, que não estudava e nem trabalhava. Já consideramos em artigo que o castigo físico pode levar um filho se sentir humilhado, com raiva, e ressentido pode levá-lo a reações imprevisíveis contra os próprios pais que passam a serem vistos como repressores de seus impulsos e sabotadores de sua felicidade.

O "ficar", o namoro e a paixão

Namoro sempre implica em paixão, sentimentos ternos e desejo. No namoro e muito menos no "ficar" não existe amor, propriamente dito, que é um sentimento mais duradouro, harmonioso e construtivo. Parece que o "ficar" nem chega a ser paixão, mas apenas impulso desejante do momento, logo, ele tem um "contrato" de duração curtíssima. O "ficar" é apenas para "ficar" um momento, passar um tempo, preencher uma determinada ocasião, trocar carícias ou até algo mais, portanto, tem um sentido puramente pragmático. Já o namoro implica em estar apaixonado, em querer algo mais. Estar apaixonado é como que virar as costas para a razão .

Paixão significa sofrimento, desrazão e egoísmo. A paixão tanto pode virar amor como também pode virar "patologia" ou doença,  que, sempre tem o poder de consumir a subjetividade e o tempo da pessoa . Quanto mais impera a paixão, maior é a possibilidade da pessoa cometer loucuras. Por isso que Erasmo de Roterdan dizia que a paixões são reguladas pela loucura. Hélio Pellegrino (1988), gostava de se referir ao amor como "chão de liberdade". Liberdade que necessita da Lei, não para aniquilar o desejo, nem para reprimí-lo ou degradá-lo, mas para lhe dar sentido de existencia. "A Lei é produto de Eros - não de Tânatos (...) ela disciplina o desejo para guardar a vida, introduzindo, na espessura do corpo e da carne, o clarão do Logos" (Pellegrino, p. 313-4). A paixão "louca" nega tudo isso, instaurando uma negação da Lei, da civilidade e da existência.

Por que a paixão implica em egoísmo? Porque "cada um só ama o outro a partir de si, não do outro. Sua infelicidade alimenta-se assim de uma falsa reciprocidade, máscara de um duplo narcisismo. A tal ponto que em certos momentos sentimos transparecer no excesso da paixão [também um certo] ódio do amado..." (Rougemont: 42-3). Enfim, se a paixão não evoluir para o amor , sua tendência é destruir o seu objeto, para satisfazer pulsões primitivas como o egoísmo.

A paixão na fase da adolescência é potencialmente perigosa porque o sujeito está vivendo um momento de "vir-a-ser", de vazio, de perversão, na qual tudo pode acontecer sem o domínio da razão e da ética . Mas, há também uma dimensão positiva da paixão: ela é um movimento da alma (psique) em busca da ascese. Ou seja, o desenvolvimento da grandiosidade do ser, de seu potencial criativo transformado em realização, necessita das paixões – não apenas da paixão amorosa, mas de todas: a raiva, a inveja, a ambição, etc. Por isso, Hegel dizia que "nada de grande se faz sem paixão".


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