Empregabilidade da pessoa com síndrome de Down



Trabalhar é um dos melhores instrumentos de que dispomos enquanto seres humanos, para nos realizarmos como pessoas, para manifestarmos operativamente nossas necessidades e nossa obrigação de servir os demais. Depois vem a satisfação pessoal que o emprego nos reporta, a criatividade do trabalho realizado, o salário que por ele se recebe, nos permitindo cobrir nossas necessidades e nossos gostos pessoais, motivos esses todos legítimos que engrandecem a realidade humana e o que implica em trabalhar.

Infelizmente encontramos muitas barreiras para conseguirmos com que a pessoa com deficiência intelectual possa realizar-se com dignidade e inteireza em sua identidade como pessoa trabalhadora.

Os empresários alegam alguns motivos para manterem mais resistência a disponibilizar vagas para pessoas com deficiência intelectual, como por exemplo, pessoas com síndrome de Down, optando preencherem as cotas com pessoas com outros tipos de deficiência. Verificamos sérios mitos e esteriótipos neste impedimento da contratação, citaremos alguns: não é bom para a imagem da empresa ter pessoas com deficiência intelectual, pessoas com deficiência intelectual não se relacionam bem, cometem demasiadamente erros, não se interagem com as equipes de empregados, apresentam dificuldades de arrumar postos de trabalho/vagas aonde possam desempenhar-se com sucesso, não são competitivos e atrapalham a produção dos resultados da empresa, etc.

Notamos que estas observações são baseadas em mitos e preconceitos em relação à pessoa com deficiência intelectual, como alguém desprovida de maturidade, autonomia e independência.

Num panorama geral, o processo de exclusão historicamente imposto às pessoas com deficiência deve ser superado por intermédio da implementação de políticas inclusivas, ações afirmativas e pela conscientização da sociedade acerca das potencialidades dessas pessoas.

Para fins da inserção no mercado de trabalho das pessoas com deficiência intelectual, defendemos neste artigo, os princípios do Emprego com Apoio.

O deficiente intelectual, podendo ser uma pessoa com síndrome de Down, deverá ter as mesmas oportunidades para obter seu emprego, porém dentro de sua singularidade deverá ser respeitado suas necessidades por meio dos níveis de apoio necessários para sua efetiva inserção no mercado de trabalho e redes de apoio necessárias para promover sua autonomia.

Embasados na Resolução nº. 2 artigos 10 e 16 entendemos como intensidades de redes de apoio à pessoa deficiente intelectual, segundo os critérios utilizados pela Organização Mundial de Saúde. Sendo assim, para o Emprego com Apoio poderemos utilizar as mesmas mediações e níveis de apoio a cada caso individual para sua inserção no mercado de trabalho.

Temos quatro níveis de apoio para pessoas com deficiência intelectual:

    • 1. Intermitente: apoio quando necessário. Caracteriza-se por sua natureza episódica. Assim, a pessoa não precisa sempre de apoio ou requer apoio de curta duração durante momentos de transição em determinados ciclos da vida (por exemplo, perda do emprego ou fase aguda de uma doença). Os apoios intermitentes podem ser de alta ou de baixa intensidade.
    • 2. Limitado: apoios intensivos caracterizados por sua duração, por tempo limitado, mas não intermitente. Pode requerer um menor número de profissional e menor custo que outros níveis de apoio mais intensivos (por exemplo, treinamento para o trabalho por tempo limitado ou apoios transitórios durante o período entre a escola e a vida adulta).
    • 3. Extenso: apoios caracterizados por sua regularidade (por exemplo, diária) em pelo menos em algumas áreas (tais como na vida familiar ou na profissional) e sem limitação temporal (por exemplo, apoio em longo prazo e apoio familiar em longo prazo).
    • 4. Generalizado: apoios caracterizados por sua constância e elevada intensidade, proporcionados em diferentes áreas, para proporcionar a vida. Estes apoios generalizados exigem mais pessoal e maior intromissão que os apoios extensivos ou os de tempo limitado.

Para cada necessidade e perfil individual da pessoa com síndrome de Down busca-se encontrar um encaminhamento ocupacional, dentre os cinco eixos de ocupações que apresentaremos logo abaixo.

Primeiro vamos exemplificar alguns dos níveis de apoio necessários: apoio para ajudar a pessoa a aprender a realizar as tarefas da nova ocupação, adaptar sua vida a nova realidade com chefes, companheiros, departamentos, direitos e deveres, apoio para que os trabalhadores também se acomodem a sua presença e nunca o subestimem ou o subproteja, apoio para solucionar problemas que possam surgir aprender a lidar com seu salário, locomoção, apoio a família para que se adapte a nova realidade de seu filho (a) e apoio a sua extensão de sua autonomia vital.

Dentro deste modelo encontramos deste a colocação do emprego formal, de pessoas com deficiência intelectual que precisam de apoio intermitente até os casos de apoio generalizado, realizando ocupações produtivas em empresas cooperativas que organizam atividades manuais, artesanais em escala competitiva.

Como se pode compreender, a natureza de cada uma destas modalidades, seu funcionamento e sua relação de vinculação com o trabalho são extraordinariamente diversas, mas nunca uma visão simplificada.

Não é novo o esforço de múltiplas associações que dedicarem-se a atenção das pessoas com síndrome de Down a buscarem colocação no mercado de trabalho após a etapa educativa.

Propomos aqui o modelo do Emprego com Apoio para pessoas com deficiência intelectual. Este modelo de intervenção nasceu nos Estados Unidos, nos anos 70, sendo a Irlanda o primeiro país europeu a aplicá-lo. A partir deste momento, vão surgindo numerosas iniciativas em outros países, incluindo a Espanha, Itália, considerando que o Emprego com Apoio é o melhor modelo amplamente experimentado e validado.

São numerosos os perfis profissionais que estão sendo desenvolvidos com os jovens com síndrome de Down: auxiliar de cozinha, auxiliar de mercearia, auxiliar de lavanderia, repositor de mercadorias, operário de limpeza, arrumadeira em rede hotelaria, dentre outros.

Através da metodologia do Emprego com Apoio, é necessário pesquisar as disponibilidades de vagas nas empresas e o treinamento diretamente nos postos de trabalhos. Esta intervenção é realizada por um profissional que chamaremos de Preparador Laboral ou Mediador Laboral. Este profissional que prestará o apoio ao novo trabalhador e a empresa, até que o mesmo tenha total autonomia em sua realização em suas tarefas e funções.

No Brasil, caminhamos perto disto, mas ainda a visão e seus princípios estão mais próximos da integração do que verdadeiramente uma ação inclusiva como nestes países citados acima.

Levantamos alguns aspectos sobre o trabalho e como esta atividade irá mobilizar tanto a pessoa com deficiência intelectual e como a empresa ganha com isso:

Para a pessoa com síndrome de Down:

    • Independência e Autoconceito: ter consciência de sua própria existência
    • Auto estima: ter consciência de amar, respeitar e se valorizar
    • Autoconfiança: acreditar na capacidade de aprender, de produzir e compartilhar
    • Participação e apoio da família em todo processo

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