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A Liderança Segundo Maquiavel (página 2)

Ari Lima

Existem muitas questões sobre liderança, analisadas por Maquiavel em sua obra, que  continuam incomodando executivos, diretores, gerentes e demais lideres empresarias  na maioria das corporações atuais. Muitos dos conceitos abordados em sua obra "casam como uma luva" nas organizações, atualmente. Outros precisam de certas adaptações.

Para exemplificar podemos citar os títulos de alguns dos capítulos da obra "O Príncipe":

  • As qualidades pelas quais os homens, sobretudo os príncipes, são louvados ou censurados.
  • A generosidade e parcimônia.
  • A crueldade e a clemência: se é melhor ser amado do que temido, ou o contrário.
  • Como evitar o desprezo e o ódio.
  • Como um príncipe deve agir para ser estimado.
  • Como evitar os aduladores.

O desafio de adaptar muitos destes conceitos à realidade das organizações atual, é, em parte, facilitado por ser a obra de Maquiavel um texto universal o suficiente para ter atravessado cinco séculos de história mantendo-se válido para uma grande gama de situações políticas e sociais. No entanto, no contexto em que apresentamos foi necessário fazer a adaptação para a área organizacional.

Nesta obra Maquiavel nos apresenta um estudo sobre a natureza humana isento de preconceitos e ética, o que nos obriga a também realizar uma análise sobre estes aspectos para melhor contextualiza-los em nossa realidade atual e utilizá-los de maneira útil para as pessoas e organizações.

Nos próximos capítulos estaremos fazendo exatamente isto: analisando passo a passo a obra "O Príncipe", e extraindo as idéias que poderão ser utilizadas de maneira eficaz pelos lideres organizacionais, ou seja, diretores, executivos, chefes, gerentes, supervisores e demais cargos de chefia dentro das organizações para conseguir uma melhor produtividade de seus colaboradores.

Acreditamos que este estudo poderá contribuir de maneira efetiva e gerar um impacto positivo no resultado almejado pelos lideres organizacionais. No entanto fica um sinal de alerta: Maquiavel se isentou de considerações éticas na defesa de muitas de suas teses, por isto, solicitamos a todos que farão uso destas poderosas idéias, que possam guiar-se pelas melhores intenções para o bem das organizações e das pessoas que nelas trabalham, tendo como juiz sua própria consciência.

Capítulo 2 – Cargos conquistados com recursos próprios e qualidadespessoais

Ao conquistar um cargo de chefia dentro de uma organização, o novo Líder precisa realizar uma serie de analises para poder situar-se naquele novo contexto. Em primeiro lugar, é necessário conhecer o histórico de quem conduziu o cargo no passado, e saber diferenciar as ações que obtiveram sucesso daquelas que fracassaram, procurando imitar em seus antecessores as experiências bem sucedidas. "Deve um homem prudente utilizar os caminhos já traçados pelos grandes".

Também é preciso conhecer bem o perfil individual e coletivo da equipe que irá trabalhar diretamente, "seu exército particular", e também a cultura daquela organização como um todo. O resultado de seu trabalho e de sua liderança está intimamente relacionado ao poder de influência do líder sobre aquela equipe.

Em geral, um líder novo enfrenta maiores ou menores dificuldades dependendo de suas virtudes e da conjuntura dos aspectos subjetivos do novo cargo, o que Maquiavel costumava chamar de "Sorte". O Líder que depender menos da Sorte e mais das suas virtudes, terá maiores chances de sucesso.

Um dos principais riscos do novo líder certamente é a introdução de novas regras ao assumir o cargo, pois geralmente ocorrerá uma forte resistência por parte daqueles que se beneficiavam com as normas antigas, assim como será frágil a defesa das novas regras pelos demais colaboradores uma vez que ainda não conhecem e não crêem na eficácia das novas leis.

Por esta razão, é necessário saber se o novo Líder dependerá apenas de si próprio para implantar as novas regras, ou se terá que persuadir seus colaboradores para viabilizar as inovações. No primeiro caso, é preciso ter certeza de que terá força e autoridade para implantá-las por tempo suficiente até que surtam efeito positivo sobre o sistema. Caso contrário terá que desenvolver uma estratégia para convencer e persuadir seus colaboradores por tempo suficiente para que o sistema comece a funcionar de maneira adequada.

É preciso levar em conta o seguinte: "em geral a natureza das pessoas é volúvel; É fácil persuadi-los de alguma coisa, mas é difícil mantê-los persuadidos. Convém organizar-se de modo a que, quando não acreditam mais, possa-se fazê-los acreditar com algum tipo de força."

Ao assumir um cargo de chefia o novo Líder deve procurar basear suas ações muito mais nas próprias competências do que nas condições encontradas no ambiente, na sorte e na promessa de apoio das pessoas. Também é preciso ter certeza da própria força e autoridade que o cargo lhe confere para poder introduzir inovações e mudanças de regras que certamente poderão desagradar parte de seus colaboradores.

Alem do conhecimento específico de sua área de atuação, algumas competências serão fundamentais para consolidar a posição do novo Líder. Capacidade de motivar a si mesmo e aos outros, comunicação e relacionamento interpessoais, bom humor, habilidade de negociação, capacidade de trabalhar em equipe, firmeza de propósitos e disposição para enfrentar dificuldades.

Todas estas são competências que podem serdesenvolvidas mediante estudo, treinamento e força de vontade. O Líder tem de dar, sobretudo, o exemplo de comportamento que deve ser seguido por toda a equipe. Precisa exigir estas competências de todos os membros da equipe, para que possam ser produtivos, por isto, o exemplo a ser seguido é o seu próprio exemplo.

Quanto mais rápido o Líder consolidar sua posição de liderança, mais fácil será mantê-la. Se, como diz a linguagem popular, há cargos em que é preciso "matar um tigre todo dia,quanto maior o tigre que se matar no inicio de sua liderança, menores serão os tigres que serão preciso matar diariamente, para conservá-la."

Existe uma tendência a se fazer comparações entre o Líder antigo e o novo Líder. Por isto é preciso conhecer o histórico das ações da gestão anterior, primeiro para não cometer os mesmos erros, e segundo para, copiando os acertos, procurar ter um estilo diferenciado para não ser taxado de imitador.

Uma outra preocupação é com os "secretários" do Líder anterior. Aquelas pessoas que, por lealdade ou mesmo involuntariamente, podem tentar dificultar o trabalho do no Líder. É fundamental cercar-se de pessoas de confiança nas posições estratégicas para evitar ter o seu trabalho prejudicado.

Concluímos dizendo que o novo Líder deve basear seu poder de liderança em suas próprias competências e virtudes pessoais, e nos sistema de regras e procedimentos gerenciais queimplantar mais do que na confiança no poder do cargo ou do apoio de pessoas alheias as sua vontade e poder de influencia.

Capítulo 3 – Cargos conquistados por influencias externas independentes das virtudes  do Líder

O Líder que recebe o cargo independente de sua competência, por sorte ou influencia externa, deve se preparar para viver momentos de dificuldades até  consolidar sua liderança. Este é o tipo de comando que se ganha com facilidade, mas normalmente se mantém com grande esforço. Em geral, neste caso o Líder será bastante questionado em seu comando, e terá de mostrar rapidamente suas virtudes, capacidade de liderança e competência profissional.

 É comum em empresas públicas e também em organizações privadas um profissional assumir determinado cargo de chefia através da influência de um amigo poderoso, através de uma troca de favores, ou mesmo por uma conjugação de fatores que não levam em conta a competência e as virtudes do novo Líder.  

São duas as principais dificuldades que se apresentarão nestas circunstancias para o novo Líder. Em primeiro lugar, ou sua força baseia-se no poder de quem lhes deu o cargo, neste caso não têm autoridade própria, ou pior ainda, seu poder veio através das condições do destino e da sorte, fatores difíceis de serem controlados. A outra dificuldade surge em razão da pouca cooperação espontânea que receberá de seus novos comandados, em função justamente da precária legitimidade que têm pela maneira como conquistou o cargo.

De todo modo, impõe-se a necessidade de construir rapidamente as bases que tornem possível consolidar sua liderança. A dificuldade surge justamente porque, assim como toda construção precisa de fundações sólidas para apoiar o peso dos andares que virão, um Líder que não pôde construir suas bases antes de assumir o comando terá dificuldades para receber apoio no inicio da  gestão. A falta de apoio e poder exigirá muito esforço para fazer valer sua autoridade e para implantar as medidas necessárias à sua gestão.

Em razão destas condições adversas, o novo Líder precisará desenvolver, além de um ânimo bastante forte, duas condições essenciais que lhe permitirão iniciar sua gestão com as condições necessárias para obter sucesso. Inicialmente precisa negociar um apoio externo ao cargo, que lhe permita ter a autoridade mínima necessária para se impor nos primeiros momentos. Em seguida, o Líder precisa conquistar a confiança de alguns membros chaves da equipe para que possa construir um núcleo de adesão dentro do grupo que irá comandar.

Este núcleo de apoio servirá de interface entre o novo Líder e a equipe como um todo, enviando mensagens e obtendo feedback de maneira segura e confiável. O grupo de confiança poderá identificar os problemas de adaptação, as pessoas insatisfeitas, os adversários da nova gestão e as principais expectativas dos comandados.

Um grande conselho de Maquiavel é o seguinte: o novo Líder deve procurar fazer todas as ofensas, ou seja, realizar as medidas difíceis e impopulares necessárias à nova gestão todas de uma vez, para que não precise renová-las todos os dias e poder, ao não repeti-las, dar confiança aos seus colaboradores com outros benefícios. Segundo Maquiavel, "quem age de outra forma, ou por timidez ou mau conselho, precisa estar sempre com o punhal na mão". E continua, " Pois as injúrias devem ser feitas todas de uma só vez, para que, durando pouco tempo marquem menos. Os benefícios devem ser feitos pouco a pouco para serem melhor saboreados."    

Mesmo não tendo conquistado o cargo com virtudes próprias, será fundamental ao novo Líder um conjunto de competências para vencer as dificuldades e barreiras iniciais. Principalmente a capacidade de comunicação e relacionamento interpessoais, assim como uma boa habilidade em negociação será fundamental neste momento. Não tendo estas competências, e não tendo legitimidade, o novo Líder ficará totalmente dependente da autoridade externa para se manter no cargo e o mais provável é que venha a ter uma gestão bastante incompetente.

Uma das principais prioridades do novo Líder deve ser conquistar o maior numero de amizades e bons relacionamentos entre seus comandados, pois estes serão fundamentais  nas adversidades que poderão surgir no decorrer de sua gestão. Alem disto, precisa negociar acordos e apoios com pessoas que tenham influência para poder apoiá-lo nos momentos adversos.

Portanto concluímos dizendo ao Líder que se vê obrigado a assumir um cargo de maneira alheia a sua própria competência, que deve preparar-se para momentos difíceis. Mas que, se seguir os conselhos apresentados anteriormente e superar a fase inicial de sua gestão, as condições para se tornar um comandante de sucesso passam a ser as mesmas de um Líder que conquistou o poder de maneira natural ou por seus próprios meios

 

Ari Lima

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